“O tema do pessoal precisa da ajuda do Estado desesperadamente”

Por a 11 de Novembro de 2021 as 12:55

A falta de trabalhadores no setor do turismo e hotelaria é um dos principais desafios atuais à operação das empresas e à retoma do próprio turismo. Este deixou de ser apenas um problema das empresas e deve contar com a ajuda do governo na sua resolução, pede o presidente do grupo Vila Galé.

“O tema do pessoal precisa da ajuda do Estado desesperadamente. Não só devido aos problemas como a habitação –  hoje há muita gente que vai embora do país porque não há habitação. Nós [Vila Galé] entre Portugal e Brasil temos 3600 pessoas e é a maior dificuldade que toda a gente tem. Os jovens não casam porque não têm casa, não se desenvolvem famílias porque não há grandes condições para ter filhos. Não há incentivos nenhuns públicos – não só empresariais”, referiu Jorge Rebelo de Almeida enquanto participava, esta quinta-feira, 10, no painel inaugural do 32º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo sob o mote ‘O Turismo tem futuro”.

Para o presidente do segundo maior grupo hoteleiro nacional “as empresas têm de resolver os seus problemas e se estão à espera dos governos correm o risco de colapsar. Num caso como este, do problema de mão-de-obra, é indispensável ter uma ajuda”, pede. “Uma das primeiras coisas que temos de fazer é cativar os que temos para não irem embora”, sublinha.

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Jorge Rebelo de Almeida enumera ainda outros constrangimentos, dando como exemplo a região do Algarve, na qual a Vila Galé detém nove hotéis. “No Algarve não há transportes. Nós, empresas, é que temos de nos virar para ir buscar os trabalhadores e levá-los a casa. Ainda não foi criada uma rede de transportes neste país”, lamentou. O Serviço Nacional de Saúde foi outro dos problemas indicados. “Felizmente que há 15 anos decidimos que era fundamental criarmos um seguro de saúde. As empresas se querem ter boas equipas têm de lhes criar condições”, assegura.

O orador do painel inaugural deste que é o primeiro dia do congresso dos hoteleiros, que está a decorrer até esta sexta-feira, dia 12, apontou ainda o dedo às estruturais sindicais do setor. “Temos assistidos nos últimos anos às forças sindicais que, nos últimos anos, têm fomentado a que as pessoas façam cada vez menos porque querem anular as perspetivas de avaliação de mérito, de progressão nas carreiras em função do mérito e da produção, que é fundamental para que a gente dê a volta a esta situação no país”, garante.

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“Estas forças sindicais têm travado tudo isto, há reformas que deveriam ser feitas e vemos hoje com grande preocupação que o tema nesta país tem sido maltratar as empresas, insultar as empresas. Não é que alguns empresários não se tenham posto a jeito e feito má figura, mas a esmagadora maioria das empresas trabalha e cria riqueza para o país”, acrescenta.

Recrutar mão-de-obra lá fora
“Cuidado, cuidado e cuidado. Não podemos trazer gente indiscriminadamente para aqui. Por um lado, volto a dizer, temos de tratar bem dos que temos cá. Depois temos de saber fazer muito bem o recrutamento e uma seleção [aos estrangeiros] com uma formação dessas pessoas e, finalmente, criar condições para eles virem. Porque se vierem para ficar a dormir na rua e com más condições, vamos degradar completamente a imagem turística do país e por isso temos de ter muito cuidado. (…) Temos de tratar bem os emigrantes porque vamos precisar deles, não temos gente”, disse o presidente da Vila Galé sobre a questão de colmatar a falta de recursos humanos em Portugal através da contratação de mão-de-obra estrangeira.

“Temos muitos brasileiros a trabalhar connosco o que tem uma vantagem: a língua é a mesma e há alguma identidade cultural mas tem também uma desvantagem; não são nada bons a falar línguas. Nem ‘portunhol’ normalmente falam. Uma das formações indispensáveis é nessa área”, exemplificou.

O responsável do grupo hoteleiro, que tem operação também no Brasil, reitera que a importação de mão-de-obra dos hotéis brasileiros do grupo é uma das soluções para enfrentar a crise de recursos humanos mas destaca que este processo tem algumas regras. “Um dos canais de recrutamento que vamos seguir são os nossos hotéis no Brasil onde temos mais de 2500 pessoas e vamos convidá-los; não à sorte nem ao calhas, mas àqueles que já passaram o período experimental, para termos garantias de que os que vêm para cá, que têm bom caractér e uma formação nobre”, refere.

Ainda sobre o recrutamento de trabalhadores de outros países, Jorge Rebelo de Almeida lamenta a prestação do Serviço de Estrangeiro e Fronteiras (SEF). ” É terrível o que temos ali. Eu assisto a pessoas que querem vir a trabalhar connosco e que querem legalizar a sua situação e o que é que lhes acontece? Andam meses e meses para serem atendidos. Somos um país de emigrantes, tínhamos uma obrigação moral de receber bem as pessoas e de as tratar bem”, conclui.

A Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) revelou que faltam cerca de 15 mil trabalhadores na hotelaria nacional, no seguimento de um inquérito realizado aos seus associados.

O 32º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo está a decorrer até sexta-feira, dia 12 de novembro, no NAU Salgados Palace, em Albufeira, no Algarve, e conta com um total de 600 participantes: 560 congressistas e 40 membros da organização.

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