Opinião | O desafio da atração e retenção de talento qualificado na hotelaria e restauração

Por a 29 de Outubro de 2021 as 12:19

A hotelaria portuguesa maioritariamente focada no cliente internacional, vê hoje o cliente nacional como o seu principal foco. O acreditar na retoma e num normal funcionamento desta área de atividade tem motivado diversos players a promover uma oferta, de acordo com o que são neste momento as novas necessidades de mercado. O ir ao encontro de um novo perfil de cliente é uma preocupação constante. O facto é que, o cliente recorre à hotelaria pela necessidade de voltar a usufruir dos seus momentos de lazer.

Vivemos uma época de considerável apreensão por parte das entidades patronais no recrutamento de recursos humanos para esta área. O afastamento pela impossibilidade do seu funcionamento durante mais de um ano, culminou na procura de novas oportunidades de emprego pelos profissionais do setor, que tiveram de descobrir novas aptidões, adquirir novas competências em diferentes áreas de negócio, para que pudessem se manter ativos no mercado de trabalho.

A vida profissional intensa que se vivia na hotelaria e restauração por um determinado período desapareceu e forçou os seus profissionais a se reinventarem e adotarem a formação como esperança de se tornarem profissionais ativos de outros setores.

Voltaram a integrar o mercado de trabalho e adaptaram-se a novas realidades, a outras funções, a outros horários que agora lhes parecem ajustados e normais para as suas competências. O investimento em si próprios também os fez ver o quão pouco valorizados eram nas áreas em que colaboravam.

E o que se segue? Atualmente, o setor da hotelaria e restauração carecem de forma preocupante de mão-de-obra especializada.

Os cursos vocacionados para o setor perdem candidaturas desde o ano passado, fruto de um futuro incerto.
Os cargos existentes parecem por momentos não terem operacionais para os desempenhar. Porquê? Funções indevidamente remuneradas, de enorme exigência física e psicológica, de cariz de adaptação imediata, horários repartidos, fatores para os quais hoje os profissionais não se mostram flexíveis.

Onde estão os rececionistas, cozinheiros, bartenders e empregados de mesa, esta última função a mais procurada no país nos últimos anos?

Em conferências e congressos sempre se debateu a falta de talento qualificado.
Nos últimos anos, procurou-se apostar na formação do setor. Diversas universidades, escolas e centros de formação profissional aumentaram a sua oferta e número de vagas. Atualmente há uma aposta do estado no contexto formativo à distância, no entanto, a adesão desejada não se regista.

Simplesmente, porque os profissionais neste interregno decidiram apostar noutras áreas e deixar uma vida profissional sem horários e de extrema dedicação para trás.
A prática de layoff e de subsídio de desemprego que hoje se alimenta, não auxiliam o setor, que vê muitos dos seus profissionais em tempo de pausa, a analisar a dualidade de investirem noutras áreas ou de voltaram a viver uma vida de dedicação sem a devida recompensa.

Vários são os fatores a analisar. O recurso humano especializado escasseia, fruto de uma cultura de ponderação e reanálise que se está a alimentar e que não augura um futuro próximo devidamente auspicioso.
Quem se mantiver e investir no setor, espera ser recompensado e futuramente ter o benefício de condições não idealizadas até agora.

Mas para quem pára e recomeça será que o futuro lhe trará as mesmas regalias?

*Mafalda Almeida / Professora no departamento de Turismo do ISCE – Instituto Superior de Lisboa e Vale do Tejo

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