“O mercado interno é uma ilusão. (…) Estamos a recentrar os nossos esforços de promoção na Europa”

Por a 19 de Outubro de 2021 as 7:00

Há um ano, Alexandre Marto Pereira garantia que a hotelaria de Fátima vivia “uma tempestade perfeita”. As declarações, enquadradas na web conferência “Centro: Preparar o futuro”, organizada pelo Publituris, com o apoio da Turismo Centro de Portugal, justificavam-se com o cancelamento em massa das reservas dos mercados internacionais na região.

Um ano depois, o CEO do Fátima Hotels Group assume que “neste verão, os hotéis tiveram resultados operacionais positivos” e que a ocupação esteve “pouco acima os 50%”. Contudo, e ainda sem o regresso dos mercados principais do grupo, a estratégia de promoção está a ser realinhada. “Tínhamos, habitualmente, 85% da nossa operação internacional e desses, 60% era extra-europeia: Américas e Ásia (Brasil, Estados Unidos e Coreia do Sul). Esses mercados caíram, mas de 90%, foi um desastre. O esforço que temos estado a fazer agora é recentrar no mercado nacional”, explica o responsável que alerta que, ainda assim, o turismo interno não é suficiente para sustentar a operação.

“O mercado interno é uma ilusão, é impossível com a capacidade instalada que existe no país, reabilitar o internacional. Acredito que alguns pequenos hotéis, principalmente no interior e Centro de Portugal e Alentejo, com menos capacidade instalada, que são destinos para onde os portugueses vão, como o Algarve, possam estar a reequilibrar. Mas o resto do território, principalmente os destinos urbanos, não têm qualquer hipótese com o mercado português. Lisboa não pode recuperar apenas com o mercado nacional”, garante.

O grupo tem vindo a trabalhar nas alternativas e tem o foco apontado para a Europa. “Tentamos ganhar uma quota no mercado nacional e temos tentado posicionar-nos todos os dias, junto dos operadores para perceber quais serão aqueles que irão sobreviver, quais são os que vão poder recuperar mais depressa e quais são os mercados que vão sobreviver. Estamos a recentrar os nossos esforços de promoção na Europa. Todos os dias, as pessoas da central de reservas telefonam, trocam emails com os operadores de todo o mundo para tentar perceber o que está a acontecer, para quando eles regressarem saberem que estamos cá e que estamos prontos para os receber”, informa.

“É essencial o Estado fazer uma ponte deste final de verão até ao início do próximo”
Com o inverno a chegar, a incerteza pauta as perspetivas para os meses vindouros. “O nosso receio é que a partir de outubro/novembro seja uma época baixa, que não era para nós. Já tinha sido ultrapassado, há muitos anos, o estigma de ter meses de inverno de deserto essencialmente porque tínhamos estes hóspedes que vinham fora da Europa”, refere.

“O inverno é uma grande incógnita. Temos dificuldades em fazer orçamentos. Como é que se faz um orçamento se não se conhecem sequer as ligações aéreas que vão existir, as cargas, que cidades vão estar conectadas, o que vai acontecer com a TAP, o que vai acontecer com a vacinação aqui e lá fora?”, acrescenta.

Questionado sobre se a vacinação pode trazer melhores perspetivas para o turismo nos próximos meses, deixa algumas dúvidas em cima da mesa. “Às segundas-feiras achamos que sim, às terças-feiras achamos que não. Sou muito otimista e creio que é inevitável o início da normalização a partir do próximo ano, mas o ritmo desta normalização ainda depende de muitas variáveis, uma delas é de sabermos até que ponto vai ser necessária uma terceira dose e até que ponto é que as vacinas vão cobrir as novas variantes”, elucida.

Alexandre Marto Pereira remata e pede que o Governo ampare o setor até ao próximo ano, para que a época baixa não deite por terra o esforço feito até agora.

“É essencial o Estado fazer uma ponte deste final de verão até ao início do próximo. Esta é a praia, estamos a chegar à praia e não queremos morrer aqui e é o que pode acontecer se o Estado não fizer esta ponte até abril do próximo ano. Isto faz-se através do ‘lay-off’, através de transferências e da redução do stress financeiro sobre as empresas, bem como moratórias e através de condições que permitam a renegociação de empréstimos”, sugere.

Lumen Hotel inaugura em Lisboa e Porto é o próximo destino na mira
Com um portefólio de 10 unidades hoteleiras em Fátima, a estreia na capital portuguesa aconteceu a 21 de julho. O Lumen Hotel & The Lisbon Light Show inaugurou na Rua de Sousa Martins, dois anos depois de ter sido projetado entre o grupo Alves Ribeiro e a Fátima Hotels Group.

O projeto de arquitetura tem a assinatura de Frederico Valsassina e a decoração de interiores ficou a cargo de Nuno Gusmão e Bárbara Neto. A luz é o mote que sustenta o conceito em todas as vertentes do novo quatro estrelas. Seja nas linhas do edifício projetadas para deixar entrar os raios de sol lisboeta, seja na decoração ou no ex-líbris da unidade: o espetáculo de vídeo mapping que presenteia todos os hóspedes diariamente às 22h00.

“O tema é a luz de Lisboa e o arquiteto imaginou o edifício já a pensar na luz. É um tema recorrente dos que nos visitam e é um dos elementos mais fortes que a cidade de Lisboa tem. Não havia ainda um hotel que fizesse uma homenagem específica à luz da cidade e daí termos apostado nesta temática”, explica Alexandre Marto Pereira.
O hotel dispõe de 160 unidades de alojamento, um piso executivo e um rooftop com piscina. Há ainda um ginásio, bem como salas preparadas para reuniões e eventos.

O restaurante Clorofila apresenta uma carta repleta de sabores tradicionais portugueses num conceito de partilha. O espaço estende-se até ao Pátio Fotossíntese, onde é possível ver diariamente o espetáculo de 15 minutos de vídeo mapping nas paredes do edifício que é também transmitido nas televisões de todos os quartos.
Sobre os próximos passos do grupo, o CEO admite o interesse no Porto, bem como a expansão em Lisboa. “Queremos diversificar para outras cidades do país e estamos a analisar projetos. O Porto é uma opção devido ao produto touring cultural, paisagístico e urbano”, explica, embora não estejam, para já, ativamente à procura de uma segunda unidade na capital não descartam a ideia se surgir algum projeto aliciante.

“O nosso objetivo é continuar a distribuir produtos junto do trade”
Aliado ao nascimento do Lumen Hotel nasceu também uma nova marca comercial, a United Hotels of Portugal com o objetivo de comunicar exclusivamente com o trade não só esta unidade na capital, mas também a restante oferta em Fátima.

“Há sinergias brutais entre Fátima e Lisboa, os clientes (agentes de viagens, operadores) que trabalham connosco em Fátima também trabalham com Lisboa, ainda que não sejam os mesmos circuitos. Conhecemos todo o trade nacional e conhecemos uma parte do internacional, porque temos uma presença internacional muito forte, por exemplo na promoção. Habitualmente estamos presentes na América Latina, Europa, Ásia, Canadá, Estados Unidos. Temos recursos brutais alocados na promoção pelo mundo o que nos permite vender vários tipos de produtos”, sublinha Alexandre Marto Pereira.

A nova marca pretende representar qualquer hotel independente em Portugal, enquanto a marca “Fátima Hotels Group” vai continuar a ser usada “sempre que for pertinente e como agregadora da oferta do grupo” na cidade de Fátima. A propriedade e a operação de cada um dos hotéis é independente, mas a representação comercial é comum.
“A comunicação com os profissionais é o que a central consegue fazer de forma forte e para a qual temos uma capacidade instalada enorme. Temos uma central de reservas com cinco pessoas a responder exclusivamente a profissionais. O nosso objetivo é continuar a distribuir produtos, junto do trade, embora com posicionamentos diferentes e depois deixar cada unidade comunicar junto do público da forma que entender e que fizer mais sentido”, conclui.

*Artigo publicado na edição 186 da revista Publituris Hotelaria

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