“Temos de pensar em estratégias para fixar os estudantes e dar-lhes condições para que não se sintam tentados a deixar o país”

Por a 4 de Março de 2021 as 10:20

É o primeiro dia do segundo confinamento e os alunos, futuros profissionais do turismo nacional, espraiam-se pelos corredores da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE). Há um labirinto desenhado no chão com fitas, setas e avisos nas paredes, bem como zonas interditas. Tudo para que a circulação se faça de forma ordeira, dentro da desordem de uma pandemia que assola o país.

Irrompemos pelas cozinhas, onde os aprendizes de jaleca branca ouvem atentamente a professora, já acompanhados pelo Professor Raúl Filipe que nos encaminha pelos vários espaços convidativos à sessão fotográfica, que pacientemente encena. Esta deverá ser a última vez que o fotografamos enquanto presidente da ESHTE, cargo que assumiu em 2013. Ao fim de dois mandatos, 2021 marca o virar de página de um ciclo de oito anos. Quando agarrou nos remos para conduzir o barco, somava já duas décadas de ensino na instituição. Encontrou uma escola frágil, com uma tesouraria combalida envolta pela polémica do desvio de fundos e pagamentos ilegais que a anterior administração deixou como herança. Em dois anos, virou o cenário do avesso e transformou os prejuízos acumulados de 900 mil euros com que se confrontou, num resultado positivo de 1,17 milhões de euros em 2015 e hoje assume que a ESHTE tem uma “ótima saúde” financeira. Lutou afincadamente para dar novas instalações aos alunos e para que a ginástica da partilha de instalações com a Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril terminasse. Pensou ainda ver o projeto concretizar-se no seu segundo mandato. Os concursos já avançaram e, apesar de acreditar que a obra vai mesmo acontecer por se encontrar numa fase sem retorno, admite ficar com “um amargo de boca de não se ter conseguido” concretizar este sonho durante os últimos oito anos.

No seu gabinete, recusa ser entrevistado na secretária e encaminha-nos para a mesa de reuniões alegando que, desta forma, estaremos ao mesmo nível. Fala sempre no plural, incluindo no discurso toda a equipa que o acompanha e rejeita qualquer louvor individual. É apanhado de surpresa quando lhe pedimos uma análise à sua atuação nestes dois mandatos. Apesar de ser professor, remete a apreciação ao seu desempenho para terceiros, mostrando-se pouco confortável no campo da auto-avaliação.

Em cima da mesa desfilaram os temas da atualidade. O último ano enquanto presidente, a crise, o futuro dos alunos recém-formados e a importância dos recursos humanos no turismo.

Este é o último ano enquanto presidente da ESHTE. Que balanço faz destes oito anos?
O balanço terá de ser feito pelos outros, pelos que viram de fora esta atuação. Pegámos numa escola que tinha 30 docentes no quadro, neste momento temos o dobro. Tínhamos quatro professores coordenadores e temos agora também o dobro mais quatro concursos abertos o que significa que há a possibilidade de, no final do mandato, termos o triplo. Temos todos os cursos aprovados pela A3ES (Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior), sem condicionalismos. Conseguimos abrir vários novos cursos de mestrado. O primeiro, mal chegámos, foi o mestrado em Direção e Gestão Hoteleira que há vários anos que tentávamos e não conseguíamos, e é um sucesso. Continuamos a ter os nossos cursos certificados pela Organização Mundial do Turismo (OMT/UNWTO).

Quais foram as suas maiores vitórias, nestes dois mandatos?
Terá sido a aprovação destas formações, como referi. O facto de também termos encontrado a escola numa situação financeira menos boa e neste momento estamos de ótima saúde, estamos com saldos transitados positivos e isso também é um aspeto positivo a sublinhar. Aumentámos, em muito, o número de doutorados e de especialistas. Aumentámos a nossa produção científica. Preocupei-me muito com a aproximação ao trade para que a escola tivesse o máximo de contacto possível e para que fizéssemos muito trabalho em conjunto. Esta foi, eventualmente, uma das coisas que melhor fizemos.

Era uma relação que não existia quando assumiu o cargo em 2013?
Na minha opinião, não.

Outra das suas lutas foi a questão das instalações da ESHTE.
A escola vai celebrar 30 anos em maio e ainda não tem instalações próprias. Começámos a trabalhar muito afincadamente nesta questão e neste momento estão os projetos já todos lançados e penso que existem todas as condições para que o meu sucessor venha a inaugurar as instalações próprias da ESTHE e isso é, de facto, algo que nos deixará muito satisfeitos. Uma escola que é considerada, por muitos, a melhor escola que temos em Portugal e uma das melhores da Europa não ter instalações próprias é, de facto, uma loucura. Esta situação em que nos encontramos, de termos as aulas práticas repartidas às segundas, terças e sábados e a Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril nos outros três dias é algo que não é ideal. O que queremos mesmo é ter um restaurante aberto todos os dias, aulas práticas diárias e estarmos à vontade.

Leia a entrevista completa aqui. 

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