Opinão | Em Busca do Equilíbrio Perfeito: A União do Bem-Estar, Turismo e Saúde

Por a 16 de Abril de 2024 as 11:15

O turismo de bem-estar, ou “wellness tourism”, surgiu como uma força transformadora no cenário global, impulsionado pela busca crescente de experiências holísticas, enriquecedoras, sustentáveis e saudáveis. Este fenómeno transcende as fronteiras tradicionais do turismo, integrando saúde, bem-estar, hospitalidade e viagens, de forma única.

Segundo o Global Wellness Institute, o mercado global de bem-estar atingiu 5,6 mil milhões de dólares em 2022, com o “wellness tourism” a contribuir com 651 mil milhões. Se o bem-estar já fazia parte do vocabulário, com a pandemia a consciencialização e a preocupação com o autocuidado tornaram-se uma prioridade.

A prevenção e a abordagem holística da saúde estão no centro das motivações dos “wellness tourists”, que procuram dar continuidade ao seu estilo de vida e rotinas saudáveis quando estão longe de casa, aproveitar as férias para reduzir o stress e os efeitos negativos da vida quotidiana, ou ainda para integrar novos hábitos de saúde e bem-estar e prevenir doenças.

A Organização Mundial do Turismo (World Tourism Organization – UNWTO) define “wellness tourism” como a atividade turística que visa melhorar e encontrar o equilíbrio entre as várias dimensões da vida humana – física, intelectual, emocional, mental, social e espiritual. Isto abre um leque abrangente de atividades possíveis e, consequentemente, de oportunidades para os diferentes stakeholders. CanyonRanch e Miraval, nos Estados Unidos da América (EUA), são excelentes exemplos de ofertas de bem-estar integrativo.

Prevê-se que o “wellness tourism” continue a evoluir de forma muito positiva, a uma taxa de crescimento anual de 10%, acompanhando o desenvolvimento das novas tendências que fazem emergir diferentes segmentos de turistas com motivações, interesses e mentalidades distintos: desde aqueles que procuram atividades de bem-estar focadas em tecnologia e inovação, até aos que privilegiam experiências imersivas mais simples e autênticas, em ambientes de baixa densidade.

O sucesso do “wellness tourism” está enraizado na integração de práticas locais, sustentabilidade e autenticidade cultural. Destinos que promovem uma abordagem holística ao bem-estar, incorporando tradições locais e respeitando o meio ambiente, tendem a atrair turistas comprometidos com um estilo de vida saudável.

Sendo considerado um ativo estratégico emergente na Estratégia Turismo 2027 para Portugal, o “wellness tourism” apresenta um potencial socioeconómico para muitos destinos do país, incentivando o desenvolvimento sustentável e a diversificação das economias locais.

Num cenário em que tanto se discute os conceitos de “mass tourism” e “over-tourism”, o “wellness tourism” pode ajudar a mitigar os impactos negativos do turismo, alterando a estratégia focada no crescimento em volume para uma abordagem qualitativa, integrada, favorecendo as comunidades locais e reduzindo a sazonalidade dos fluxos turísticos.

Por outro lado, a possibilidade de introduzir o bem-estar em diferentes tipos de amenities e serviços promove a diferenciação da oferta, acrescentando valor e gerando receita adicional, e permite atrair para o setor novos talentos e mão-de-obra qualificada, especializada em áreas tão distintas como nutrição, meditação, yoga, surf, crossfit, detoxing, terapias holísticas, entre outras.

A capacidade para gerar impacto na saúde e bem-estar de uma pessoa, ou grupo de pessoas, é algo extraordinário que requer, além de formação especializada, um conjunto de “power skills” diferenciadas.
Dar visibilidade e notoriedade a estes “wellness experts” irá abrir as portas do setor a jovens e profissionais que serão fonte de inspiração e referência para outros.

Se todos os dias nos debatemos com a falta de recursos humanos no turismo, a dificuldade de recrutar, bem como de reter talentos, não terá o “wellness tourism” potencial para gerar um quadro de referência e valorização de funções que incentivem a nova geração a iniciar uma carreira profissional no turismo? A resposta a esta questão requer uma reflexão alargada e transversal.

Alexandra Ventura
Executive Director do Nova SBE Westmont Institute of Tourism & Hospitality

*Artigo de opinião publicado na edição 214 da Publituris Hotelaria

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