“Não é admissível continuarmos a deitar dinheiro em cima das empresas para fazer hotéis em montes e vales”

Por a 27 de Maio de 2021 as 17:07

O diretor da Associação dos Diretores de Hotéis em Portugal (ADHP), Raúl Ribeiro Ferreira, pediu, esta quinta-feira, 27, que os apoios provenientes do  programa “Reativar Turismo | Construir Futuro”, apresentado na passada semana, sejam bem empregues.

“É importante que o pouco dinheiro que o ‘Reativar o Turismo’ tem para o setor privado  seja bem aplicado e que sejam exigidos às empresas planos claros de investimentos: a que mercados se dirigem, porque é que vão ser feitos daquela maneira –  havendo investimentos claros”, disse no discurso inaugural do XVII Congresso da ADHP que arrancou esta quinta-feira, 27, em Fátima e que se prolonga até ao próximo sábado, 29.

O representante dos diretores hoteleiros nacionais apontou o dedo aos investimentos hoteleiros descontextualizados que surgiram nos últimos anos de crescimento do turismo nacional.

“Não é admissível continuarmos a deitar dinheiro em cima das empresas para fazer hotéis em sítios como montes e vales. Apesar de todos os montes e vales serem bonitos, nem todos podem ter hotéis. Nem se podem continuar a fazer hotéis com spas e salas de reuniões quando a capacidade de alojamento não corresponde à rentabilidade desses negócios e isto também é sustentabilidade”, apontou.

Apoios à tesouraria das empresas e formação alargada às universidades

Raúl Ribeiro Ferreira deixou outros recados ao governo no âmbito do programa que visa a reativação da indústria turística e que conta com uma dotação superior a seis mil milhões de euros. O presidente da associação pediu linhas de apoio diretas à tesouraria dos hotéis bem como a simplificação dos processos.

“Acreditamos que vamos começar a ter movimento, já há sinais que nos dão alguma esperança. Mas da abertura das unidades até que se comece a libertar tesouraria vai demorar algum tempo. É, por isso, importante que o governo perceba isso e que haja linhas de apoio diretas à tesouraria. Mas no momento em que são necessárias, descomplicando o processo, percebendo que precisamos rapidamente dessas soluções”, pediu.

Os objetivos no campo da formação do setor foi outro dos pontos que mereceu a crítica do hoteleiro. “O programa Reativar o Turismo, [no que diz respeito ao ] apoio à formação tem um objetivo de 75 mil pessoas a curto prazo. Sabemos como o Turismo de Portugal (TdP) se tem esforçado, no entanto, consideramos pouco ambicioso este programa porque o fecha essencialmente no TdP. Sabemos que há restrições orçamentais mas gostaríamos de o ver alargado. Era  importante que as universidades e o setor do ensino estivessem também envolvidos neste programa”, sugeriu.

Recursos Humanos e reconhecimento das profissões do setor
A temática dos recursos humanos no setor voltou a estar em cima da mesa com Raúl Ribeiro Ferreira a alertar para a falta de mão-de-obra do em breve. “A grande dificuldade dos próximos tempos vai ser a ausência de recursos humanos disponíveis. Isso vai levar a uma subida de ordenados o que pode não ser mau, desde que seja sustentável com o aumento de receitas para não termos aqui um problema de subir salários sem que as receitas das empresas acompanhem essa subida”, alertou.

O responsável lamentou ainda “a falta de reconhecimento das profissões do setor” que está na base da fuga das pessoas do setor “porque não se sentem nem reconhecidas financeiramente nem socialmente”.

Numa abordagem direta à secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, presente também no painel de abertura do Congresso, o presidente criticou a ausência de resposta sobre a proposta da associação relativamente à revisão da tabela da Classificação dos Empreendimentos Turísticos.

“Sabemos que este é um ano atípico nas agendas de todos nós mas passou-se mais um ano sem que tenha sido revista a tabela de pontuação dos hotéis onde há muito tempo a ADHP gostava de ver a valorização dos recursos humanos. Apresentámos uma proposta para esta revisão em que sugerimos que a aposta num diretor de hotel deviamente certificado, a aposta em quadros com licenciatura e mestrado ou pós-graduações ou de funcionários com nível IV ou V também seja pontuada. São normas fundamentais para permitir a sustentabilidade das profissões do setor e assegurar as pessoas que estão em Portugal. A falta de reconhecimento público das profissões é uma mancha negra no nosso setor, inclusive a questão dos diretores de hotel “, acrescentou.

O XVII Congresso da ADHP conta com 250 participantes que estão reunidos em Fátima, sob o mote ‘Resistir, Prosperar e Inovar’ até ao próximo sábado, 29.

*A Publituris Hotelaria está em Fátima a convite da ADHP

 

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