COVID-19: E (quase) tudo o vírus levou

Por a 4 de Maio de 2020 as 11:12

O ano de 2020 era “o” ano. Era o ano do Turismo em Portugal que, cada vez mais, se tornava verdadeiramente sustentável. Mas bastaram duas semanas para que o nosso mundo fosse “virado do avesso”, deitando por terra muito do trabalho feito por Portugal durante décadas na afirmação do nosso país como um dos principais destinos turísticos a nível mundial.

A tempestade perfeita instalou-se no momento mais frágil de qualquer atividade turística: o fim da época baixa. Depois de meses com menor procura, mas em que se mantêm os elevados custos fixos, as empresas turísticas preparavam-se para a Páscoa e para o Verão, tendo assumido já por esta altura compromissos e investimentos, nomeadamente com a contratação e formação de pessoal, com equipamentos e em campanhas de marketing. Mas depois de tudo isto acontecer, a procura simplesmente desapareceu.

Os dados revelados recentemente pela AHRESP mostram uma realidade dramática. O inquérito às empresas de restauração e de alojamento, que realizámos entre os dias 1 e 3 de abril e ao qual responderam cerca de 2 000 empresas (sendo 67% hotéis e alojamento local), revelaram que 75% das empresas de restauração e de alojamento turístico foram forçados a encerrar os seus estabelecimentos, recorrendo na sua grande maioria ao regime de lay-off na modalidade de suspensão de contratos de trabalho. E mais de 80% dos hotéis e restaurantes estimavam zero de faturação para abril e maio.

A solução, infelizmente, ainda não está à vista.

Sem certezas quanto ao fim da pandemia, o Governo tem vindo a anunciar sucessivas medidas, alterando-as ao mesmo ritmo, não podendo a AHRESP deixar de reconhecer o esforço empreendido. Contudo, muitas delas revelam-se desajustadas e com processos de decisão lentos para o nível de impacto que seria expectável e desejável.

As linhas de apoio centram-se, salvo raras exceções, em moratórias e alívios temporários, que não resolvem os enormíssimos custos e os pesados encargos fixos que as empresas têm de assumir no curto prazo, e num tempo futuro. E esquecem-se de apoiar convenientemente uma figura típica da nossa atividade e que são os sócios-gerentes “trabalhadores”.

Urge criar uma estratégia concertada e eficaz que consiga ajudar, efetivamente, as empresas a sobreviverem a esta fase, dotando-as de liquidez para que seja, também, possível manterem os postos de trabalho que asseguram, e continuarem a viver no pós pandemia, sem estrangulamentos insuportáveis.

A concessão de benefícios a fundo perdido, o alívio de impostos e taxas, a suspensão do pagamento de rendas, e a diminuição dos encargos com fornecimentos como água, eletricidade e gás, são algumas das medidas defendidas pela AHRESP e as únicas capazes de prestar uma ajuda efetiva às empresas.

A reformulação de estratégias e a aposta no mercado interno no curto prazo deve igualmente fazer parte do caminho da recuperação em Portugal. Sabemos que o Governo o tem feito, mas falta mais.

Portugal não pode desperdiçar o capital e todo o esforço investido que o tornaram num dos países de referência na atividade turística a nível mundial.

Pela primeira vez, e desta feita a nível mundial, toda a atividade turística encontra-se paralisada. Depois da tormenta, há que saber identificar oportunidades para que o nosso país se reerga e, pouco a pouco, reclame o protagonismo que granjeou nos últimos tempos.

Acreditamos que os governos que melhor protejam a atividade turística são os que vão conseguir partir na frente desta corrida.

 

*Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP
**artigo publicado na edição de abril da revista Publituris Hotelaria

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