“O interesse dos investidores internacionais em Portugal é cada vez maior”

Por a 18 de Fevereiro de 2020 as 9:40

Vasco Rosa trabalhava em auditoria para as áreas da construção, imobiliário e hotelaria, antes de fundar em 2015, juntamente com Alexandra Cesário, a Kleya, empresa que dá apoio a projetos estrangeiros de investimento, residência, trabalho e estudo em Portugal. A ideia surgiu depois de Vasco perceber que podia transformar a qualidade de vida de Portugal que tanto atrai estrangeiros num negócio. “Nessa altura, em 2015, Portugal estava a sair da crise, mas havia um enquadramento fiscal e legal, quer com o regime de residentes não habituais, quer com os ‘golden visa’, que criava um contexto muito favorável ao desenvolvimento desta ideia de trazer gente para viver e investir cá”, começa por dizer o CEO da empresa.

Os primeiros clientes surgiram através de contactos pessoais. “Quando estudámos o negócio, identificámos que era necessário criar uma oferta. Existia um ‘gap’ grande em Portugal em termos de oferta para alguém que quisesse instalar-se cá, por exemplo, apenas seis meses por ano. Havia aqui uma oportunidade a nível do turismo residencial e havia também a questão das pessoas que procuram Portugal como destino de reforma”, conta. O primeiro projeto turístico foi com o fundo norte-americano Lone Star, que tinha adquirido Vilamoura no dia em que a Kleya abriu. “Tomámos a iniciativa de dizer qual era a nossa ideia de negócio, o que queríamos desenvolver e, passado um mês, estávamos em Londres a falar com os responsáveis do projeto. Desenvolvemos um conceito de turismo residencial e imobiliário para uma das parcelas dentro do master plan do Vilamoura World. Esse foi o no primeiro trabalho dentro da área do turismo”, recorda.

Na área do investimento turístico estrangeiro em Portugal, a Kleya oferece um serviço que contempla desde a parte da assessoria comercial e estratégica até à negociação. “Isso é essencial para alguém que quer entrar no mercado em Portugal”, defende Vasco Rosa. “Identificamos quais as melhores oportunidades e ajudamos depois a concretizá-las. Por exemplo, um grupo estrangeiro quer expandir-se internacionalmente e pensa em Portugal como um dos seus destinos. Pode vir ter connosco, nós interpretamos o que ele traz em termos de oferta e, se considerarmos que é uma oferta que pode vingar cá, vamos atrás das oportunidades ou podemos criá-las, como estamos a fazer em Vila Nova de Gaia. Isso pode significar negociar com empresas nacionais que têm ativos que consideramos interessantes e desenvolvemos um conceito que permita a entrada de um investidor estrangeiro. Depois, mesmo quando um investidor já está instalado, continuamos a dar apoio”, explica o responsável dando o exemplo. “O operador estrangeiro está a abrir um hotel novo no Porto e quer ter um restaurante, avaliamos quais são os grupos portugueses que podem casar com este grupo. Também fazemos o enquadramento do investidor dentro das linhas e incentivos ao investimento, criação de emprego, reabilitação, etc”.

Projetos
A Kleya está a assessorar um projeto hoteleiro de uma cadeia espanhola que vai estrear-se em maio deste ano em Portugal. Com um total de 70 quartos, o grupo espanhol chic&basic, com hotéis em Barcelona e Amesterdão, vai abrir a sua primeira unidade no Porto. O Chic & Basic Porto, de quatro estrelas, que fica localizada em frente ao Teatro Carlos Alberto, resulta de um contrato de arrendamento por 20 anos assinado entre a marca espanhola e um investidor local. “Este hotel tem um posicionamento muito ‘trendy’ e interessante, que marca uma diferença face à oferta atual. A marca chic&basic estava interessada no Porto ou em Lisboa, e no Porto conseguiu-se criar o contexto ideal para avançar primeiro. Dado o posicionamento da marca, era preciso um ativo muito central e em Lisboa é mais difícil encontrar, neste momento, um ativo com as caraterísticas para este projeto. Mas Lisboa não está excluída. Este investimento não ultrapassará os 15 milhões de euros, com a reabilitação, construção e engenharia a cargo de uma empresa portuguesa”, adianta Vasco Rosa.

A par deste projeto, a Kleya está a desenvolver outro hotel para Lisboa, para “a zona nova da Praça de Espanha”, concretamente. “É uma unidade cujo conceito vai estar ligado à música. Estamos em fase de aprovação do projeto e será uma oferta diferenciada face ao que existe. Mais uma vez com um investidor local, que por acaso também tem afinidades com o mundo da música em Portugal, e um grupo que tem capitais sul-americanos e espanhóis. Neste caso, são 90 quartos e um investimento de 20 milhões de euros.”

Em Gaia, estão também a desenvolver um conceito com um grupo português, que vai ter uma componente hoteleira e imobiliária “Esse projeto creio que vai ser uma oportunidade para requalificar a frente de rio em Gaia. Vai ser mais do que um projeto hoteleiro”, adianta apenas o responsável.

Investimento em alta
“O interesse e a vontade de investidores internacionais na área do turismo em Portugal é cada vez maior”, afirma o CEO da Kleya, defendendo que todos os indicadores apontam para isso. “A conjuntura internacional continua instável em muitas geografias, isso acaba por beneficiar Portugal. Também o facto de termos saído do procedimento da troika cria hoje uma segurança para que fundos de investimentos estrangeiros, que antes não olhavam para Portugal, passem a olhar. O nosso ‘rating’ está outra vez em níveis aceitáveis. Isso também facilita a procura por Portugal”, considera. Para o responsável, a dificuldade “está em encontrar as oportunidades”.

Apesar disso, considera que nas cidades ainda há áreas disponíveis para reabilitação. “A zona do Intendente há cinco anos era uma zona que ninguém pensaria como um local ‘trendy’, hoje está completamente diferente. Outras zonas da cidade proporcionam isso também: a zona do Beato, Marvila”. Independentemente das oportunidades, há também que avaliar o perfil de risco do investidor: “É muito mais seguro para o investidor internacional olhar para um hotel já em funcionamento, mas há outros investidores que têm esse perfil de risco e que estão disponíveis. Esse é também o nosso papel: encontrar parceiros locais fortes na área da construção, e outros, para poder facilitar a entrada de um novo player em Portugal”.

Não obstante considerar que ainda existem oportunidades para investir nas duas principais cidades do país, Vasco Rosa revela intenção de apostar no Interior do país. “Portugal tem excelentes redes de infraestruturas quer de comunicações, quer de estradas e internet e é fácil chegar aos aeroportos internacionais. Portanto, locais como Évora, Coimbra, Aveiro e o Norte, oferecem condições para o desenvolvimento de novos projetos e estamos já a trabalhar com alguns ‘players’ internacionais nesse sentido, até porque há incentivos para o desenvolvimento dessas zonas e que também podem alavancar esse processo. Espero em 2020 concretizar o primeiro projeto hoteleiro em Évora”.

Oportunidades e ameaças
O conforto, a segurança, a estabilidade política, aliada à personalidade dos portugueses são as caraterísticas que tornam Portugal um destino atrativo para viver ou investir. “Tenho pena que muita gente tenha saído no tempo da troika. Um dos maiores riscos que vejo é a falta de mão-de-obra qualificada para dar suporte ao crescimento da economia, e esse é um problema que pode agravar-se à medida que a economia cresce”, alerta. Do outro lado da moeda existem ainda alguns constrangimentos, que apesar de já identificados, ainda persistem.

“Apesar de ter havido progressos significativos, continua a haver espaço para melhorar a simplificação administrativa e a transparência para um investidor internacional. Dou como exemplo a legislação para o alojamento local. Não faz sentido para um hostel, que é um empreendimento turístico, estar debaixo dessas regras. Há um caminho a fazer ao nível legislativo, até porque a indústria do turismo tem modelos de negócio inovadores a aparecer e é preciso adaptar a legislação. É necessário assegurar também a transparência e eficiência nos processos. Não podemos continuar a ouvir dizer que um projeto de licenciamento demora meses para ser tramitado. Isso liga com os recursos humanos, na administração pública também não há pessoas suficientes para dar resposta”, defende.

Quanto aos clientes, Vasco Rosa define o perfil dos clientes da Kleya: “Somos uma empresa jovem, que se carateriza pela sua capacidade de inovação, como tal, procuramos operadores com este tipo de perfil. Ou seja, os nossos clientes não são os operadores já estabelecidos. Procuramos investidores de média dimensão, com perfil internacional, presentes em mais de um país, e que tenham uma oferta diferenciada em termos de ‘lifestyle’”.

Criada em 2015, a Kleya conta atualmente com uma equipa multidisciplinar de 10 colaboradores. “Considero que uma das mais-valias da nossa empresa foi a criação de uma equipa muito diversa com valências muito diferentes, desde o marketing à arquitetura, da hotelaria à gestão financeira”, conclui

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