E depois do primeiro hotel?

Por a 17 de Junho de 2019 as 16:25

Não será um desejo de todos, nem uma ambição de 100% dos que trabalham no setor da hotelaria e do turismo, ou até mesmo dos que estão presentes noutros setores, como a construção civil e o imobiliário, ser proprietário de um hotel. Mas será, certamente, um sentimento muito generalizado.

O sonho de ter o próprio negócio, numa área com enorme crescimento e simultaneamente tão atrativa e agradável, e deixar uma marca na região, de reconverter um património do qual já era proprietário ou de diversificar para aquele que parece ser o setor do futuro, levou muitos de nós a construir o primeiro hotel. Quase sempre pequenos hotéis, designados por boutique, com conceitos mais ou menos sofisticados a proporcionar experiências únicas, mas todos com um cunho muito pessoal. Foi esse cunho pessoal, de cada hotel ser diferente, de em cada hotel encontrarmos a exclusividade, que levou a que a procura por estes hotéis de charme tenha crescido de forma exponencial.

E quando se chega ao que se pensa que é o topo da montanha, a conclusão é que existe sempre uma outra montanha para subir, ou seja, que se precisa de criar mais um hotel e depois outro ou então …

E depois dos primeiros tempos, e depois de se perceber que não é um negócio, mas um “perdócio” (como dizia um antigo líder que tive)? E depois de se perceber que se está sozinho no mercado e que ninguém quer saber daquele hotel sozinho no mercado? E depois de se perceber que se trabalha 14 a 16 horas por dia, sem folgas, e que nem assim o negócio é capaz de criar grande riqueza ou até mesmo ser sustentável ou pagar o investimento? E se não se consegue montar o segundo hotel e o terceiro e o quarto para se ser rentável?
Pois esta é, como muitos sabem, a grande realidade dos pequenos hotéis. Todos os dias alguém apresenta um novo hotel para venda, que dificilmente será vendido um dia, por estas e outras tantas dificuldades.

Não acredito que exista outra forma que não seja, tal e qual, em tantos ou quase todos os outros setores, uma concentração. Mas existe uma dificuldade adicional, capital muito intensivo, com baixo retorno para hotéis médios e pequenos, de muito longo prazo, o que quase impossibilita as concentrações por aquisição.

Excluindo os hotéis já entregues aos bancos e que se regem por outras lógicas de gestão, só retirando dos hotéis toda a complexidade de gestão, entregando a quem faz disso vida e negócio e deixando exclusivamente a componente operacional, será possível ganhar escala, fazer parte de um grupo maior, sendo que esse sim tem capacidade de promover, vender, gerir preços, negociar as compras. E muito dificilmente existe uma outra realidade que não seja esta, a não ser a exceção para criar a regra.

Ter escala tem cedências, tem investimento, tem um mudar de atitude, mas tem também um incomparável conjunto de vantagens únicas, podendo mesmo ser a única forma sustentável, partilhando tarefas para crescer e cada parte se focar no que é capaz de criar mais valor.

*Opinião de Miguel Velez, CEO da Unlock Boutique Hotels
**Artigo publicado na edição de junho da revista Publituris Hotelaria

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