Opinião | “Ultra luxo” em Portugal: Necessidade de consolidação para posicionamento no segmento

Por a 1 de Agosto de 2023 as 11:13

É do conhecimento comum de que estamos num contexto de aumento na riqueza global. Não apenas dos High-Net-Worth Individuals (HNWI), que contribuem com 70% dos gastos com viagens de luxo em todo o mundo, mas também da crescente população de Ultra High-Net-Worth Individuals (UHNWI) – aqueles com um património líquido de pelo menos 30 milhões de dólares. Quatro quintos dos UHNWI possuem negócios próprios ou são executivos C-Level, portanto, as viagens raramente, ou nunca, são apenas para férias.

Como tal, o tempo costuma ser a maior restrição e, portanto, as experiências de viagem que atendem à privacidade e à conectividade estão em alta e são as mais procuradas. Os hotéis que atendem a esse segmento da população enquadram-se na categoria de “ultra luxo”, oferecendo serviços e comodidades extraordinariamente personalizados e muitos deles de renome mundial. Como resultado, são cobradas ADR significativamente mais altas em relação ao sector de luxo em geral, e estão localizados em destinos icónicos com elevadas taxas de procura, tais como Nova York, Londres, Paris e alguns dos destinos de lazer e resort mais procurados. Enquanto as ADR médias do segmento luxo em toda a Europa atingiram cerca de 450 euros em 2022, os hotéis “ultra luxuosos” em cidades como Londres e Paris cobram ADR médias de mais de 1.000 euros por noite, existindo até alguns resorts neste posicionamento, ainda que sazonalmente, atinjam ADR médias na ordem dos 2.500 euros.

Até ao início do século, a oferta de unidades de alojamento turístico “ultra luxuosa” da Europa era dominada por hotéis históricos, na maioria datados do início do século XX que, até recentemente, lutavam com as limitações impostas pelos constrangimentos dos edifícios que foram construídos quando os requisitos dos hóspedes de luxo eram substancialmente diferentes. Mas nas últimas duas décadas, com novos proprietários e alterações nos padrões de procura dos hóspedes, o cenário “ultra luxuoso” em muitas cidades europeias evoluiu, com a abertura de novos hotéis e propriedades históricas existentes, passando por transformações significativas.

As cidades com melhor desempenho na Europa talvez tenham visto as mudanças mais significativas. Londres está actualmente no meio de uma evolução dramática no segmento de “ultra luxo”, enquanto a transformação de Paris está, por enquanto, em grande parte completa, e Roma parece ser o próximo grande destino de luxo com cerca de 1,3 mil milhões de euros transacionados nos últimos quatro anos, para a aquisição de activos que serão convertidos em novos hotéis, muitos dos quais para dar resposta e este segmento em considerável expansão.

Em Portugal, o apetite por activos “ultra luxuosos” está também em crescimento, com investidores estrangeiros e domésticos desejosos para garantir uma oportunidade de desenvolvimento neste segmento. Com os novos produtos previstos para Portugal, os hóspedes de “ultra luxo” que nos visitarem serão agraciados, sem dúvida, com spas de última geração, rooftops exclusivos, suites palacianas e uma qualidade de serviço ímpar.

Karina Simões
Head of Hotel Advisory na JLL Portugal

*Publicado no formato imprenso da edição 207 da Publituris Hotelaria (julho/agosto de 2023)

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