Opinião: Crise da habitação na hotelaria

Por a 25 de Julho de 2023 as 11:16

Portugal, um dos destinos turísticos mais procurados nos últimos anos, depara-se hoje com falta de alojamentos disponíveis para arrendamento a colaboradores.

Esta situação tem múltiplas causas. A expansão de plataformas como o AirBnb levou a um aumento da procura por imóveis para aluguer de curto prazo, uma vez que os proprietários encontraram nesta modalidade uma forma de aproveitar o fluxo constante de turistas. Assim, vimos a saída de uma quantidade significativa de imóveis do mercado de arrendamento tradicional.

Além disso, a especulação imobiliária tem desempenhado um papel importante na falta de alojamentos para arrendamento. Investidores estrangeiros, atraídos por um mercado imobiliário apetecível, compram propriedades para obter um retorno rápido e significativo, o que reduz ainda mais a oferta.

Outro fator a considerar é o aumento do custo de vida. Os salários não acompanham esta escalada, o que dificulta a procura de uma solução outrora mais fácil do que a aquisição. Na maioria das vezes, as rendas pedidas ultrapassam dois terços do rendimento dos indivíduos, deixando-os com pouca margem para outras despesas, o que provoca um efeito constrangedor para todos: a partilha de casa por muitas pessoas, retirando condições básicas e privacidade. No Algarve, há relatos de 12 pessoas a coabitar em apartamentos de dois quartos, sem condições, o que não é admissível.

Uma solução promissora poderia ser a criação de incentivos fiscais para os proprietários que optassem por arrendar os seus imóveis de forma regular, a longo prazo, ou para os privados que decidissem construir habitação para os seus colaboradores, que deveriam ficar isentos dos impostos da habitação dita normal.

Mesmo sem estes benefícios, a solução desta construção específica está a ser vista pelo sector privado como uma boa oportunidade de negócio. Por todo o país, estão a nascer hubs de habitação para colaboradores da hotelaria, com boas condições e a preços muito acessíveis.

No Algarve, um resort de luxo investiu um milhão de euros para adquirir um antigo aparthotel para alojar os seus colaboradores condignamente. Esse mesmo resort adquiriu um terreno e está a construir um resort para 500 colaboradores, com vários edifícios, campos de ténis e piscina num investimento que cifra os oito milhões de euros para poder captar e manter uma equipa feliz. Estes números estão longe do alcance da maioria dos empreendimentos hoteleiros nacionais, e por isso necessitamos de uma ajuda do Estado.

As autarquias também têm um papel preponderante nesta equação, porque se disponibilizassem, por longos períodos, terrenos de segunda linha para as empresas privadas construírem este tipo de solução, seria possível mitigar o problema, garantindo que os colaboradores hoteleiros têm acesso a alojamento estável e acessível. Somente através de um esforço tripartido entre o Estado, as autarquias e o sector privado será possível encontrar soluções eficazes e construir um mercado de arrendamento mensal saudável em Portugal.

Patrícia Correia
Diretora de hotel e VP Events da ADHP

*Publicado no formato imprenso da edição 207 da Publituris Hotelaria (julho/agosto de 2023)

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