BAH: “A origem desta crise não é  financeira, não vamos entrar em guerras de preço”

Por a 8 de Setembro de 2020 as 7:00

Em novembro de 2017 o Bairro Alto Hotel (BAH) encerrou portas para uma remodelação total. O investimento, no valor de 30 milhões de euros deu uma nova cara ao hotel lisboeta que reabriu em agosto de 2019. A ampliação do cinco estrelas, as novas suites e os cinco novos espaços de restauração com conceitos de F&B disruptivos e com a assinatura do chef Nuno Mendes faziam antever um primeiro aniversário envolto em sucesso. A atual conjuntura trocou as voltas à praça hoteleira nacional e na Praça Luís de Camões, não foi exceção . “Ainda estávamos a acertar pormenores e a acabar de “levantar voo” quando fomos forçados a encerrar de um dia para o outro, por falta de clientes e pelo decreto do Estado de Emergência”, explica Marta Tavares da Silva, CEO do BAH. Os meses que se seguiram foram desafiantes e a admistradora explica que teve de reduzir a equipa e recorrer aos apoios que o  Governo colocou à disposição dos empresários mas que considera “claramente insuficientes”.
A reabertura da parte de alojamento está marcada para o próximo dia 23 de setembro e o futuro é visto como uma oportunidade de inovar. “Temos que nos diferenciar pela qualidade e ser mais criativos do que nunca para captarmos reservas”, explica.

Depois de três anos de remodelações, o BAH reabriu há um ano. Como correu a reabertura e qual o balanço deste ano que passou?
O hotel abriu em agosto de 2019 em soft-opening e em outubro começámos a operar a 100%. O hotel abriu muito bem, teve uma óptima aceitação por parte dos nossos principais mercados emissores, tendo mesmo superado as nossas expetativas nos primeiros sete meses de operação, até a pandemia da COVID-19 nos ter atingido violentamente a todos. A oferta gastronómica do hotel, muito virada para a comunidade local, também estava a ter boa aceitação. No entanto, ainda estávamos a acertar pormenores e a acabar de “levantar voo” quando fomos forçados a encerrar de um dia para o outro, por falta de clientes e pelo decreto do Estado de Emergência.

Quais os principais indicadores até fevereiro, mês que antecedeu ao encerramento?
No acumulado a fevereiro estávamos com uma taxa de ocupação de 45% e um ADR de 300 euros. O nosso principal mercado sempre foi os Estados Unidos, em parte por sermos membros da Leading Hotels of the World e Rede Virtuoso e sempre termos trabalhado de muito perto esse mercado, e em parte pelo recente crescimento exponencial deste mercado para o destino Portugal. Os mercados brasileiro, inglês, alemão e francês são outros dos nossos principais mercados e aqueles, que agora, teremos que trabalhar mais de perto, com exceção do Brasil, até as restrições de entrada deste mercado em Portugal, e na Europa, se mantiverem.

Quais foram as principais consequências que a atual conjuntura trouxe para o hotel? Recorreram a algum dos apoios para o setor?
À imagem da esmagadora maioria dos hotéis, fomos forçados a encerrar provisoriamente por falta de clientes. O facto de sermos um hotel urbano, em Lisboa, muito dependente dos mercados internacionais só veio dificultar ainda mais as coisas. Pois, apesar de levantado o Estado de Emergência e, em teoria, podermos abrir; sem voos, com todas as restrições fronteiriças em todos os países e os constantes avanços e recuos na situação epidemiologia na AML a situação é extremamente complicada.
Tivemos de recorrer a vários apoios que o Governo colocou à disposição das empresas mas são, claramente, insuficientes. O turismo tem sido na última década o motor da economia, sendo a maior actividade económica exportadora do país, contribuindo com cerca de 9% para o PIB nacional, logo têm de ser criadas medidas de apoio favoráveis para este sector, sob pena de muitas empresas viáveis não terem capacidade de se aguentarem quando se esgotarem as actuais medidas de apoio.

Tiveram de reduzir a equipa?
Estávamos a concluir o investimento na ampliação e reabilitação do hotel quando fomos apanhados por este “tsunami”. Durante todo o período em que estivemos encerrados em obras, mantivemos o nosso quadro de trabalhadores efetivos, tínhamos acabado um longo e dispendioso processo de selecção, recrutamento e formação das pessoas pois o contexto era de crescimento e, de repente, de um dia para o outro, vemo-nos sem receitas e com um quadro de incerteza tal que não tivemos outra alternativa que não renovar alguns contratos a termo. Tomámos, e continuamos a tomar, todas as medidas por forma a mantermos o máximo de postos de trabalho possível.

O facto de estarem a operar há tão pouco tempo quando precisaram de encerrar novamente, agravou as consequências?
Claro. A nossa posição de tesouraria não é a mesma de unidades que estiveram em pleno funcionamento nestes últimos anos excelentes para o turismo. A nossa tesouraria estava a financiar o investimento na reabertura do hotel.

Parte da unidade  reabriu a 1 de setembro . Que motivos vos levaram a esperar até setembro, quando muitos hotéis começaram a operar em junho?
O hotel abriu parcialmente a 1 de setembro – abrimos o restaurante BAHR aos jantares, os dois terraços – Terraço BAHR e Rooftop – das 12h30 às 24h00 -, com uma carta de refeições ligeiras e lançámos o serviço @Home (take-away). O hotel (alojamentos) reabrirá a 23 de setembro.
Tivemos que tomar decisões – o mal menor – e, tendo em conta que dependemos pouco do mercado nacional para o alojamento e que este não iria passar as férias de verão em Lisboa, o facto de os voos internacionais serem praticamente inexistentes nessa altura, o agravamento da situação epidemiológica na AML, a interdição dos americanos de entrarem no espaço europeu, entre outras variáveis que mudam quase diariamente, fizeram-nos esperar, tomar decisões muito ponderadas e avançar quando víssemos mais alguns sinais de retoma. Decidimos abrir o alojamento a 23 de Setembro.

Como perspetivam os próximos meses? Têm já reservas expressivas?
Perspetivamos meses extremamente difíceis, pois neste momento além do mercado ter encolhido drasticamente vamos estar todos atrás dos mesmos mercados emissores. Temos que nos diferenciar pela qualidade e ser mais criativos do que nunca para captarmos reservas. Acredito que o nosso público-alvo vai começar a viajar quando puder (tem é que poder!), a origem desta crise não é  financeira; não vamos entrar em guerras de preço, esse não é o nosso posicionamento e o valor continua cá.
Não existem reservas expressivas para Lisboa, nem vão existir enquanto a comunicação do problema sanitário não melhorar. As reservas que vão existindo são dos mercados europeus, os tradicionais para Portugal.

Qual será a estratégia para retomar a operação?
Fomos obrigados a rever a nossa estratégia de distribuição a curto-médio prazo e a dirigir os nossos esforços para os mercados europeus de maior proximidade e típicos para Portugal. Em qualquer crise existem oportunidades, e esta é uma oportunidade de diversificamos mercados que não devemos desperdiçar. Revimos também todo o funcionamento do departamento de F&B e adaptámos alguns serviços e horários à nova conjuntura, como a reabertura do Rooftop no último andar à comunidade local.Vamos reabrir os vários serviços e pontos de venda faseadamente, para irmos avaliando a situação e, desta forma, tomarmos decisões mais seguras.

 

*Entrevista realizada via email

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