Opinião: “O legado dos megaeventos”

Por a 4 de Junho de 2024 as 11:17

O turismo de eventos pode ser entendido como o conjunto de atividades exercidas por pessoas que viajam para participar em diversos tipos de eventos – profissionais, corporativos, culturais, sociais, musicais, científicos, desportivos, religiosos, entre outros.

Segundo o relatório publicado pela Allied Market Research, o turismo de eventos atingirá 2.5 biliões de dólares em 2032 a uma taxa de crescimento anual composta de 4.6%, entre 2023 e 2032. Tal também é confirmado pelo relatório do Future Market Insights. Este crescimento é impulsionado pela globalização dos eventos, evolução do turismo experiencial, interesse crescente em eventos desportivos e musicais, investimento governamental na transformação dos destinos anfitriões, emergência de novos destinos, aumento de eventos híbridos, integração de tecnologia e criação de redes de colaboração.

Alguns impactos do turismo de eventos são de curto prazo. No entanto, quando realizados de forma sistemática e sustentável geram desenvolvimento do turismo a longo prazo. Importa, porém, considerar o possível displacement e efeitos negativos nos destinos, tais como diminuição de turistas regulares, aumento de preços, preocupações com segurança, dificuldade de reserva de alojamento e transportes e congestionamento de tráfego.

Do futebol à Fórmula 1 e ao surf, os fãs do desporto viajam mais para desfrutar da emoção de assistir a eventos ao vivo, prolongam as férias e usufruem de uma viagem diferente. No caso dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, estima-se que Paris receba 15 milhões de turistas, bem como o início de um programa de renovação da cidade, com a limpeza do Sena no valor de 1,4 mil milhões de euros.

Portugal vai organizar o Mundial de Futebol de 2030 com Espanha e Marrocos. É mais um megaevento a realizar-se no País depois da Expo 98, do Euro 2004 e das Jornadas Mundiais da Juventude. Importa refletir como estes eventos influenciam a atividade turística e os seus potenciais impactos.

A cobertura mediática e a visibilidade aumentarão a notoriedade turística e a imagem do país. Os fãs de futebol de todo o mundo terão mais um motivo para visitar Portugal. O turismo de eventos impacta o posicionamento de um destino tornando-o, por vezes, num ícone associado a um evento (exemplo de Idanha-a-Nova, palco do Boom Festival, classificada pela UNESCO como Cidade Criativa da Música).

O aumento das chegadas de turistas internacionais gera receitas na cadeia de valor, desde as empresas de turismo e eventos, até aos prestadores de serviços essenciais, com impacto económico na população, através da criação de novos postos de trabalho.

Por outro lado, preparar o país para o Mundial de Futebol requer investimento em infraestruturas. Além da renovação de estádios e centros desportivos, poderá ser necessário investir em estradas, transportes, aeroportos, parques e alojamentos, cruciais para o sucesso do campeonato e para a qualidade de vida dos cidadãos, beneficiários a longo prazo. É, por isso, essencial envolver as comunidades locais, promovendo a coesão social, a inclusão e o espírito de pertença. O evento pode mesmo apoiar causas e projetos locais, incentivar o voluntariado e ser um íman para imersão cultural, entretenimento e interação social. Acolher este megaevento espoleta o sentimento de orgulho nacional, reforçando o patriotismo, criando oportunidade de mostrar ao mundo a paixão pelo futebol e a distinta hospitalidade.

Adaptar eventos às preferências individuais permite aos participantes criarem a sua jornada personalizada. Festivais como o Rock in Rio organizam experiências únicas, com vários palcos de diferentes géneros musicais, instalações artísticas e opções culinárias. A personalização aumenta a satisfação e a fidelização, promovendo uma maior ligação entre evento e participantes.

Os grandes eventos estimulam debates, aprendizagens, colaboração entre os players do turismo, incentivam a troca de experiências entre locais e visitantes, enriquecem a cultura local, preservando-a e revitalizando-a. Artesãos, artistas e profissionais da cultura partilham assim o seu talento com uma audiência mais vasta.

O ambiente é um dos temas na agenda global – são geradas toneladas de lixo, tanto orgânico quanto seco, devido à quantidade de objetos descartáveis e aumenta a emissão de gases poluentes, resultado da maior utilização de transportes. Mas existem oportunidades – investimento em transportes alternativos, utilização de energias renováveis, melhorias na gestão de resíduos e encorajamento de práticas e comportamentos sustentáveis por turistas e por toda a cadeia de valor da organização de eventos (exemplo do Chefs on Fire).

Os avanços tecnológicos revolucionam a indústria – plataformas avançadas de software de gestão, aplicações móveis personalizadas, blockchain, AR, VR, chatbots, assistentes virtuais e data analytics com IA melhoram a experiência dos turistas, fornecem informação e recomendações personalizadas em tempo real, mapas interativos, garantem transparência e segurança nas reservas e pagamentos e ajudam os organizadores de eventos a recolher insights sobre preferências e comportamentos.

Em resumo, o turismo de eventos tem peso na economia e na promoção de destinos, mas requer planeamento cuidado e abordagens sustentáveis para maximizar os benefícios a longo prazo.

Alexandra Ventura
Executive Director do Nova SBE Westmont Institute of Tourism & Hospitality

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