Obrigado, André Jordan

Por a 9 de Fevereiro de 2024 as 16:06

Nasceu a 10 de setembro de 1933, em Lwów (antes Polónia e agora Ucrânia) de onde partiu para fugir ao regime Nazi que invadiria o país, em 1939, dando início à II Guerra Mundial.

Fundador, idealizador e promotor dos empreendimentos Quinta do Lago, Belas Clube de Campo, Vilamoura XXI, entre outros, foi considerado, em 2014, uma das 12 personalidades mais influentes no turismo a nível mundial.

Na última entrevista dada à PUBLITURIS HOTELARIA, em março de 2021, André Jordan afirmaria que “o país tem de ter a coragem de fazer alguma coisa que salve e consolide o país”.

O PUBLITURIS presta homenagem a André Jordan, precisamente, com a republicação dessa última entrevista.

Até sempre e obrigado André Jordan!

“O país tem de ter a coragem de fazer alguma coisa que salve e consolide o turismo”

O empresário André Jordan analisa a atual conjuntura e defende a promoção como medida urgente para a retoma do turismo nacional. A descida do IVA para 10% para todo o setor ou a criação de um Conselho Consultivo do Turismo também ficam em cima da mesa.

“Eu, que ando há muitos anos por aí, não me lembro de nenhuma situação assim em lugar nenhum”. O desabafo é feito por André Jordan, a propósito da atual conjuntura pandémica que amordaçou o turismo. Os muitos anos a que se refere, são 87 de uma vida feita de somas: de países, projetos, cargos, empresas, distinções e prémios. E de histórias que foram compiladas em 2019 num pesado livro de quase 800 páginas que exige ser segurado por duas mãos. “Uma viagem pela vida” foi reeditado no ano passado, porque, afinal, há sempre mais uma palavra a acrescentar, e as de André Jordan não se esgotam. E de entre tudo o que é, é também um exímio conversador. Discorre com facilidade pelos caminhos da memória e não há pergunta que não o faça revisitar uma história que o guia a outra e facilmente atracamos num destino longe da partida. Das suas quase nove décadas de vida, que começaram na Polónia, fazem parte mais de 30 cargos relevantes, cuidadosamente enumerados no seu currículo oficial. Desta longa lista, não consta o título informal pelo qual mais é conhecido: o de pai do turismo português. Deu vida à Quinta do Lago, ao Vilamoura XXI, a nove campos de golfe e ao Belas Clube de Campo. É neste último que se encontra na tarde desta conversa, realizada à distância e com os computadores a servirem de intermediários. Cenário diferente do vivido em 1974, ano em que deu a primeira entrevista em Portugal, ao Publituris, conduzida pelo seu fundador, o falecido jornalista Nuno Rocha.

Apesar das imposições tecnológicas, a sua companhia é acolhedora. “Estou olhando as janelas aqui à volta da minha sala e só vejo verde”, conta, com a melodia brasileira na voz, que nunca perdeu, orgulhoso do Belas Clube de Campo, no concelho de Sintra, que diz ser simbiose perfeita entre a vida urbana de Lisboa que está a dois passos e a tranquilidade da natureza.

A atualidade foi o tema de conversa. Apostar e aprimorar a promoção do país são estratégias urgentes. A baixa do IVA para todo o setor ou a criação de um Conselho Consultivo do Turismo foram outras ideias deixadas em cima da mesa. Isto porque, para salvar o turismo é preciso ouvir quem dele perceba, defende.

Que impacto terá a pandemia na forma como se faz turismo no mundo?
Também estou muito interessado em saber a resposta (risos). Estamos perante uma situação sem precedentes, em relação a um inimigo oculto. O turismo é a vítima inocente de todas as crises mundiais, é sempre o primeiro afetado. Penso que vai haver um surto de uma ilusão realista; vão aparecer muitas pessoas que querem viajar de repente e retomar a sua atividade turística. Mas mesmo que isto apareça com força, não significa que vá perdurar.

Teremos um ‘boom’ apenas momentâneo?
Uma explosão. Mas depois vai acalmar. Não há dúvida que muita gente está afetada economicamente e não vai ter meios para fazer turismo.

Acabou de ser aprovado o passaporte verde europeu. Considera que este é um instrumento fundamental para a retoma das viagens entre países?
Tudo o que for feito no sentido de haver um maior cuidado é importante. A existência deste passaporte faz uma certa pressão para as pessoas se vacinarem. Quem viaja sem passaporte será prejudicado na sua liberdade de movimento. Há dúvidas também sobre as vacinas, que ainda não têm um historial – não se sabe quanto tempo duram, qual o efeito que têm. É tudo um pouco duvidoso por enquanto. Por exemplo, esta situação em relação a uma das vacinas, que foi suspensa na Europa. E vem alguém dizer: ‘’Em Portugal está ótimo, ontem só morreram 90 pessoas” (risos). O ser humano passou a ser uma estatística.

Esta questão da AstraZeneca veio beliscar a confiança na vacinação…
Estou no grupo de risco. Tenho 87 anos e sou cardíaco. Estou à espera da Pfizer, porque não aceitaria que me dessem a AstraZeneca porque não é recomendada para pessoas velhas. Até agora não me chamaram.

Mas é também um cético nesta questão das vacinas.
A solução só chega no dia em que encontrarem uma cura. Claro que a vacinação pode prolongar o tempo de vida. Por exemplo, a poliomielite paralisava os membros inferiores e era uma verdadeira epidemia. Houve muita gente que passou a vida numa cadeira de rodas, como o presidente do Estados Unidos, Franklin Roosevelt. E a doença já foi completamente erradicada. Há algumas vacinas que acabaram com a doença.

Apelidou o Plano de Recuperação, desenhado pelo Professor António Costa e Silva, de tese académica. Qual é a sua opinião sobre as considerações relativas ao turismo apresentadas no documento?
Praticamente não há nada a respeito do turismo neste plano. Os economistas portugueses têm pena e vergonha que Portugal não seja a Alemanha, que não seja um país industrial a fabricar milhões de automóveis e de tecnologia. Somos um pequeno país e mais equilibrado do que se possa pensar; socialmente e até economicamente. Apesar de haver pobreza, não há miséria.

Que leitura faz da ação do governo relativamente ao turismo, neste último ano de pandemia? Os apoios têm sido ajustados?
Deram agora 300 milhões de euros para a área do turismo que é uma espécie de esmola. Não quero falar sobre este assunto, isto é uma situação pontual e as coisas têm de ser pagas e vão ser muito dificilmente pagas. Quando as moratórias acabarem vamos ver como é que isto fica. É preciso que o governo invista em promoção depois; agora, no auge da pandemia, não valia a pena.

Promoção e marketing
Sempre defendeu que a promoção do país é insuficiente.
A infraestrutura do turismo é muito boa, o que é fraco é o marketing e a promoção. Tem de haver uma promoção feita pelas empresas e não pelo governo, porque o governo não conhece o negócio do turístico. Quem o conhece é quem vive dele. Tivemos em Portugal um fenómeno económico muito interessante com números altos de turismo, mas rentabilidade quase inexistente. Isso criou uma ilusão. Dizermos que recebemos tantos milhões de turistas, mas depois o resultado desse movimento foi muito fraco porque sempre falhámos na promoção, sempre fizemos a promoção errada. Não criámos atrações para o turista com melhores meios económicos e não aproveitámos as potencialidades turísticas do país.

Proponho uma baixa do IVA para todo o setor turístico para 10% – para hotéis, restaurantes, rent-a-car, golfe etc. O país tem de ter a coragem de fazer alguma coisa que salve e consolide o turismo. A não ser que não queira ter turismo. Há quem não queira.

O segmento do golfe pede que seja reposta a anterior taxa de 6% de IVA.
Sou mais a favor de haver uma baixa de IVA para todo setor turístico. E era preciso haver uma aceitação da importância do turismo para a economia do país. Grande parte do desenvolvimento dos Estados Unidos, por exemplo, é feita através do estímulo fiscal. Não só na indústria e no comércio, mas na cultura, educação, saúde… O instrumento para impulsionar o turismo é o IVA. Não é preciso o governo dar dinheiro, mas sim deixar o usar o dinheiro que o próprio turismo gera para a sua promoção e desenvolvimento. Sobre o golfe, acho que há uma grande necessidade de desenvolver o golfe nacional, com escolas, repartições públicas, militares… Não é caro e iria aumentar muito a sustentação do golfe a nível interno. Atualmente, isso não é possível.

Afirma que a responsabilidade da promoção do país cabe às empresas. Mas nos próximos tempos estarão fragilizadas e sem capital para fazer esta aposta…
Por isso é que proponho que possa ser utilizado metade do valor do IVA para programas de marketing e promoção. Aí não obriga o governo a aumentar a dívida e essa receita, aparentemente diminuída, vai voltar com o aumento do turismo. É preciso coragem para revalorizar o turismo. Se não o fizermos vamos ser destruídos pela guerra de preços.

É preciso olhar para o turismo com seriedade?
Há zonas simpáticas no interior do país e este turista e este mercado vão acabar por se encontrar. Precisamos de ter um determinado volume de receitas para que isso seja significativo para a economia do país, para o emprego e para criar empresas fortes. O turismo nunca foi levado realmente a sério, sempre foi uma coisa assim meio envergonhada. O turismo é serviçal, há esse complexo que não há, por exemplo, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França, na Itália e em Espanha, que investem pesadamente no turismo.

Acusou o Turismo de Portugal de estar mais preocupado com as estatísticas e não avaliar o verdadeiro impacto económico que o turismo representa. É uma estratégia que deve mudar?
Quando o Turismo de Portugal faz um filme de promoção com locais maravilhosos de Portugal, só há um problema: são todos inacessíveis, ninguém consegue chegar lá no alto da montanha ou na praia deserta num canto qualquer (risos). Isso é muito bonito mas o Turismo de Portugal deve promover Portugal e os empresários devem promover o produto.

Estes últimos anos de crescimento foram uma oportunidade desperdiçada, nesta ótica da promoção?
Concordo. Devíamos, nessa altura, ter feito um trabalho das empresas com o governo e ter promovido a qualidade do turismo, a qualidade do produto para atrair, na retoma, um cliente mais sofisticado e mais exigente. Portugal foi eleito – de verdade, não é naqueles prémios que não são bem independentes – como segundo melhor destino para viver no mundo. E temos de saber aproveitar, transformar isso numa campanha.

Preços
Para nos sabermos vender ao mercado certo? Até agora Portugal é conhecido por ser bom e barato.
As pessoas descobriram que a relação qualidade/preço em Portugal é imbatível. O Alojamento Local é um brinco; limpo, de boa qualidade, com móveis corretos, etc. Se for para a Áustria ou para Alemanha [o AL] é uma porcaria. Não há qualidade nem atração nenhuma. O português é muito caprichoso, gosta de fazer as coisas corretas, simpáticas e limpas.

É difícil comer mal e dormir mal em Portugal.
É impossível comer mal em Portugal a não ser nos hospitais (risos).

Falou do perigo de sermos destruídos pela guerra de preços.
Já tivemos isso em Portugal. Em várias épocas de crise a recuperação foi com a guerra de preços. Quando Adolfo Mesquita Nunes era secretário de Estado do Turismo, começaram a convidar a imprensa estrangeira para vir cá. Vieram todos. Deram a passagem e pagaram a hospedagem e veio o mundo inteiro, bons e maus. Há uns que disseram que escreviam para um jornaleco qualquer e vieram cá também (risos). Vi dezenas de publicações e nenhuma deixou de frisar o facto de Portugal ser barato. Isto foi muito prejudicial.

Como é que se começa a despir esta capa do preço baixo para atrair um segmento mais alto?
Precisamos de agências de marketing e de promoção de alta qualidade. Não se pode comprar publicidade ou marketing barato, porque o barato sai caro: eles não têm qualidade nem acesso aos meios, é dinheiro deitado fora. É preciso criar eventos de qualidade, de nível, a área desportiva é muito atraente, temos condições desportivas naturais para atrair ténis, golfe, caça, iatismo, etc. Criar eventos de participação. Porque eventos de assistência vai ser mais difícil; infelizmente o MICE vai ser difícil. As empresas descobriram que não precisam de fazer aqueles congressos que deslocam centenas de pessoas durante dois ou três dias. Este segmento vai sofrer muito. Por exemplo, numa prova de competição desportiva, todos os dias, nos vários países, estão ser comunicados, na comunicação social, os resultados. É uma forma de utilizar o próprio atleta e a sua presença para promover Portugal no país dele.

Os eventos são o único gatilho possível para elevar o segmento do turista que atraímos?
Temos de ir também pela cultura – já defendi a construção do Museu dos Descobrimentos várias vezes. Temos alguns museus contemporâneos muito bons. O Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, é uma grande atração e que tem uma altíssima qualidade. Eventos musicais. E temos de contratar agências e pessoas que nos ajudem a pensar nesta promoção e que nos ajudem a perceber o que é que temos de fazer. Sou a favor da criação de um Conselho Consultivo de Promoção Turística que reúna pessoas não só ligadas ao turismo, mas também pessoas da aviação, do desporto, do comércio de luxo, que nos venham ajudar a pensar na promoção do turismo.

Pessoas de fora do país?
De dentro e de fora. Temos um português que foi presidente da Publicis Groupe, que é uma das maiores agências do mundo, e que é apaixonado pelo turismo. Nunca ninguém falou com ele. Há pessoas que têm muito a contribuir, a nível de criatividade, e não só,e que não são convocadas nem ouvidas.

Potencial e crescimento
Defendeu, em tempos, a criação de um Ministério do Turismo. Mantém esta opinião?
Um Ministério do Turismo iria ajudar, principalmente, porque transmitiria aos outros ministérios a visão e o interesse do turismo, que eles não têm. Basta ver como o professor António Costa e Silva ignorou o turismo, por que não sabe o que é o turismo. Essa coisa do turismo de qualidade é uma coisa que ainda ninguém percebeu.

As Secretarias de Estado não se têm sabido posicionar?
Não vou dizer que não têm estado à altura, mas não há uma estratégia e não há apoio de verdadeiros profissionais de marketing, de promoção e de hotelaria. Por isso é que defendo a criação deste Conselho. Seria útil à própria Secretaria de Estado, teria o apoio de um grupo especializado. É preciso lembrar uma coisa: o turismo é um negócio de grande importância para o país e temos de o tratar desta forma.

Depois da última crise, o setor cresceu exponencialmente. Que diferenças assinala entre a conjuntura atual e esta última crise?
São duas crises completamente diferentes. A anterior foi uma crise económica e financeira, não parou o turismo – diminuiu, mas não parou. Esta paralisou o turismo por imposição dos próprios governos. Eu, que ando há muitos anos por aí, não me lembro de nenhuma situação assim em lugar nenhum. Portugal tem todas as condições para ser bom, mas tem de aspirar a outro nível. Não sou contra o turismo barato, mas não é economicamente viável.

Dispomos de oferta hoteleira para este segmento mais alto?
Absolutamente. Portugal não quer sheiks árabes. Não precisamos de bilionários que querem suites de mil metros quadrados. Um piloto de uma grande companhia aérea, um médico de sucesso, um engenheiro. Esse é o nosso turista, de boa situação financeira. E que gosta de Portugal porque é discreto e sóbrio, que tem bom clima. Para este mercado os hotéis são absolutamente aceitáveis, têm bom serviço, têm conforto. Não têm é torneiras de ouro e essas coisas. Nós temos a infraestrutura.

Vê a Comporta como um possível destino para este segmento?
Não conheço a estratégia, não posso opinar. A Comporta já não é uma zona com potencial, é hoje uma empresa e um negócio que tem os seus parâmetros, que desconheço. Mas penso que é uma zona muito atraente e que tem uma promoção muito longa, que durou muitos anos, com personalidades como o Christian Louboutin que pouco a pouco foi atraindo uma clientela para a Comporta. A Comporta tem o seu futuro, com certeza. Mas não posso opinar sobre o ‘business plan’, não conheço.

Que outros destinos têm potencial?
Como empresa e grupo, estamos dedicados a um conceito que demorou a atingir a maturidade. O Belas Clube de Campo é uma combinação do urbano com a natureza. Agora com a pandemia o mercado vem mais ao nosso encontro. O Alentejo e o Ribatejo, têm futuro, bem como Almada.

Ainda ninguém olhou para a margem sul de Lisboa com olhos de ver?
Almada tem um projeto do arquiteto Fonseca Ferreira que salvou Lisboa, porque a cidade estava no caminho para ser ocupada de uma forma selvagem. Ele fez um masterplan para Almada, dos antigos estaleiros com uma grande marina, muito atraente. Mas não chegou ainda o momento. Para já, a prioridade é potenciar a mudança das empresas e dos empresários para Portugal, e é preciso compatibilizar a habitação de nível com a habitação subsidiada para os trabalhadores e para as pessoas que não têm capacidade para pagar.

No Algarve, por exemplo. Não há habitação para os trabalhadores.
Não há margem de lucro suficiente para construir habitação para os trabalhadores, não compensa. Tem de ser algo subsidiado pelo governo, tem de haver um acordo entre o setor privado e o setor público de gerar habitação para as classes trabalhadoras.

O turismo residencial é outro dos eixos que defende para o futuro do setor. Como vê as novas regras aprovadas sobre os ‘golden visa’, que visam migrar o investimento imobiliário para o interior e ilhas?
(risos) Isso parte do princípio que as pessoas vêm para Portugal para se esconder. Eles não vêm para se esconder, vêm para viver numa comunidade compatível com o seu estilo de vida. Haverá um ou outro que vai para o interior, mas a maioria não irá. Isso vai acabar com os vistos dourados e é uma falha.

O Porto tem sido o destino com maior crescimento nos últimos anos. Como olha para este crescimento?
O Porto foi muito prejudicado até existir a autoestrada. Quando cheguei a Portugal, era muito complicado ir para o Porto, a estrada era muito má. O Porto tem tido um desenvolvimento muito positivo. A Casa da Música e Serralves são duas peças muito importantes. Nos últimos 10 a 15 anos tem tido um desenvolvimento muito elegante e interessante.

Aeroporto e TAP
Qual a sua opinião relativamente à construção do novo aeroporto complementar à Portela?
Não sou especialista, apesar de já ter sido administrador de uma companhia aérea na Argentina. Desde 1972, quando o governo emitiu um concurso para o projeto de um aeroporto em Rio Frio, tem-se discutido o novo aeroporto de Lisboa. Há 50 anos que andamos nisto. Quanto à necessidade de um novo aeroporto, também não sou especialista. Quando viajo vejo que há muitas horas mortas nas chegadas e nas partidas de Lisboa. A meio da tarde, entre a hora de almoço e o final da tarde não se vê um avião a chegar ou a sair. Não acho muito saudável ter um aeroporto a poluir o centro da cidade. Já morei mais do que uma vez em lugares onde quase que se podia tocar no avião. Tem de haver um consenso sobre a localização. Aonde? Também não sei dizer.

Nem o Montijo nem Alcochete seriam soluções viáveis?
Não sei. Claro que há uma vantagem comercial grande em ter o aeroporto perto da cidade, em pouco tempo chega-se ao hotel. Não é a melhor solução do ponto de vista da saúde e do ambiente.  Também não seria bom para o turismo se o aeroporto fosse muito longe, como em Alcochete, acho um bocado longe.

Então é mais favorável ao Montijo?
Se me convocassem para opinar, teria de estudar o assunto. Em Portugal temos um problema: falta de conhecimento e excesso de opinião. Se o turismo for prejudicado pela falta de possibilidade de viajar para Lisboa isso é muito preocupante.

Como vê a atual situação da TAP?
Não há dúvida de que a TAP é um retrato bastante interessante daquilo que é Portugal e os portugueses. A TAP tem comissárias de bordo veteranas, que eu conheço. É sempre uma situação engraçada, quando chego ao avião sou recebido com beijinhos. A TAP é um objeto de afeto e de carinho dos portugueses, até porque é uma excelente companhia em termos de segurança e de serviço – sobre o conforto, já não vou tão longe (risos). Sempre foi uma boa companhia. Da parte da população há uma visão um bocado emocional sobre a TAP. Não sei avaliar qual é o interesse nacional do ponto de vista do governo em ter uma companhia própria. O hub de Lisboa foi muito importante para o surto do turismo e principalmente em relação ao Brasil. O facto de ter sido gerida por uma administração brasileira permitiu que fossem criadas muitas ligações que trouxeram brasileiros a Lisboa. Isto foi tudo muito útil. Agora, se se justifica o investimento? Não sei dizer.

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