Análise | Cenários e o futuro do Turismo em Portugal

Por a 21 de Dezembro de 2021 as 11:24
António Alvarenga

Pensar o futuro é-nos inato. A capacidade de antecipar as consequências das nossas ações e de visualizar o futuro sob diferentes circunstâncias é uma característica que nos define como seres humanos. A construção e utilização de Cenários (Scenario Planning & Thinking) para a tomada de decisão tem uma história já longa, a qual acelerou após a 2ª Guerra Mundial com organizações como a RAND Corporation e o Hudson Institute. Muito recentemente, foi impulsionada pela pandemia e a “abertura de futuros” que esta disrupção implicou para as organizações.

Os Cenários são narrativas de ambientes alternativos nos quais as decisões de hoje podem vir a ser executadas. O Planeamento por Cenários é uma ferramenta muito poderosa de estruturação de informação, de estímulo à criatividade, de comunicação e de reflexão estratégica. Une várias facetas da análise prospetiva e ilustra contextos estratégicos futuros por meio de narrativas técnicas e simbólicas que podem ser recontadas, visualizadas e discutidas de forma muito eficaz.

Estas características dos Cenários podem ser particularmente relevantes para um sector como o Turismo, caraterizado pela diversidade de stakeholders, pelo entrecruzamento com as dinâmicas territoriais e, entre outras características, pela exposição a forças de mudança globais como a digitalização, o envelhecimento da população, a globalização e mobilidade internacional, e as preocupações ambientais e a economia verde.

Mesmo salientando que qualquer exercício de Cenários exige participação e interação, arrisco a avançar, de forma exploratória e com inspiração em múltiplos trabalhos internacionais sobre o futuro do Turismo (muitos deles focados no pós-pandemia), com algumas ideias sobre o futuro do Turismo em Portugal. Divido esta exploração nos dois blocos constitutivos centrais de um exercício de cenarização, tal como proposto pela Escola Lógico‑intuitiva (“Escola da Shell”): incertezas cruciais e elementos predeterminados.

De entre as incertezas cruciais potenciais para o futuro do Turismo em Portugal a médio/longo prazo, salientaria:

Figura 1: Incertezas Cruciais Potenciais para o Futuro do Turismo em Portugal

Mas nem todas as variáveis-chave terão, no que se refere à respetiva evolução, o mesmo nível de incerteza a médio e longo prazo. Entre os elementos predeterminados a considerar para o futuro do Turismo em Portugal, avançaria com:

Figura 2: Elementos predeterminados para o Futuro do Turismo em Portugal

Tendo optado por uma exploração global de variáveis-chave para o futuro do Turismo em Portugal, e ganhando amplitude com isso, não é possível, ao mesmo tempo e neste espaço, detalhar cada uma delas. Mas posso e devo salientar que, para lá da necessária “discussão estratégica” indispensável ao processo, é fundamental a ancoragem desse debate em “future‑oriented evidence” que suporte a seleção das variáveis. De seguida, e a partir de um processo que identificasse e combinasse elementos como os atrás referidos, seriam então construídas descrições de futuros possíveis, plausíveis e estrategicamente relevantes (Cenários) que cada organização (e/ou departamento; e/ou equipa) pudesse utilizar para imaginar o futuro, (re)pensar as suas estratégias e prioridades, trazendo para a tomada de decisão interna as transformações em curso no seu contexto. E aprendendo, de forma eficaz e divertida, no processo.

Vamos a isso?

António Alvarenga, Professor (Nova SBE), Consultor Internacional (ALVA Research and Consulting) e Investigador (Técnico Lisboa).

2 comentários

  1. António Alvarenga

    30 de Dezembro de 2021 at 16:17

    Caro José, muito obrigado pelo comentário. Considerar explicitamente a incerteza, sem ficar bloqueado por isso (antes pelo contrário) parece-me mesmo muito relevante. Quebrar o ceteris paribus e ganhar sensibilidade, perceção do significado de mudanças estruturais. E isso pode ser feito de forma muito prática, com recursos moderados e divertida.

  2. JOSE FERREIRA PINTO

    24 de Dezembro de 2021 at 2:24

    A OCDE propõe um modelo de governance: anticipatory innovation governance em que foresight e enabling drivers são chave. Infleizmente, quando escrevi um paper sobre a aplicação disso no turismo NTO e o submeti ao Annals of Tourism Research foi rejeitado na base que não viam a aplicação de tal abordagem no turismo em regra ainda muito ligado a modelos preditivos e prescritivos. O paradigma está morto mas o status quo não. É triste quando se vê a importância estratégica de Portugal no futuro dos próximos 50 anos.

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