Opinião | Crianças de alta performance

Por a 13 de Dezembro de 2021 as 11:14

É muito comum, ao estar a trabalhar liderança, quer em processos de coaching individual quer de equipas, surgir surpresa e desconhecimento quando falo de comunicação adulta.

Antes de integrarmos uma empresa, interagimos desde cedo com um sistema semelhante: a nossa família. É aqui que aprendemos sobre os princípios que regem a rede de relações: o respeito, a pertença, equilíbrio entre dar e receber, prioridades e ordens de precedência.

Os adultos ensinam sempre aquilo que sabem fazer melhor e vão programando a mente de quem é mais novo com o poder da comunicação paternal e maternal que funciona na cultura familiar. Em casa, incorporam-se comportamentos, narrativas e rotinas (como se fazem as coisas por aqui) que, sem querer ou de forma inconsciente, se levam para dentro das empresas.

No entanto, a cultura (comunicação) familiar funciona só e apenas dentro da própria família!

Eric Berne, com a análise transacional, ajuda-nos a perceber de forma fácil, que num sistema organizacional quando enviamos estímulos que fazem o outro sentir-se criança, estamos a utilizar uma comunicação não adulta. Quando numa empresa comunicamos como Pai ou Mãe, podemos estar a produzir crianças rebeldes, submissas, sem estrutura, espontâneas, etc.

Alguns exemplos de comunicação de Líder Pai ou Mãe que oiço no meu dia-à-dia:

  • Quando um líder de equipa me pergunta em frente à equipa “ Eles estão a portar-se bem, não estão? ”
  • Quando desabafam “Se não aprendem a bem, aprendem a mal”
  • Quando ouço numa reunião de equipa “Meninos vamos lá, já acabou o recreio”
  • Quando me pedem “ Veja se consegue fazer alguma coisa deles”
  • Quando eu sugiro que o líder participe nos programas de desenvolvimento de equipa: “Mas eu tenho uma agenda muito cheia, não me ponha a falar de mim, são eles que precisam

São raras as exceções de pessoas que apostam em processos de desenvolvimento pessoal e profissional que lhes permite com sucesso, dentro dos sistemas organizacionais, o equilíbrio entre a aceitação dos limites de cada um e o respeito (sem medo e sem castigos) pela ordem de precedência.

Em casa é importante apostar numa comunicação mais consciente, mais adulta, especialmente na fase de transição de um jovem adulto, para que este saiba distinguir a comunicação familiar de uma comunicação empresarial. O objetivo é que, desde cedo, os jovens consigam estar alerta para os estímulos e ocupar o seu papel (de adultos).

A comunicação adulta é constituída por nuances de permissão de ser e de evoluir. Como adultos todos queremos que alguém reconheça o valor da nossa diferença, que facilite a igualdade no trato, que ajude a diagnosticar em vez de punir, que permita solucionar os problemas e não as pessoas, que leve à discussão produtiva em vez da conclusão.

O adulto que está numa equipa e que apenas cumpre, que não é desafiado a pensar, a contribuir, a questionar… será sempre uma criança de alta performance.

#leavenoonehehind, comece por si, comece a mudar hoje: adote uma comunicação de adulto para adulto!

*Cristina Madeira, Specialist on Human Capital Development e ICF Certified Executive Coach & Team Coach.

 

 

 

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