Da vinha às termas: Ocram tem 3 novos hotéis na manga e prepara ‘rebranding’

Por a 3 de Dezembro de 2021 as 15:23

Um hotel vínico, um cinco estrelas num monumento nacional em Amares e uma unidade nas Termas de Melgaço são os próximos hotéis da empresa de exploração hoteleira.

O portefólio da Ocram Hotel Management vai continuar a crescer a Norte do país. A empresa tem três novos projetos em desenvolvimento, um dos quais abre portas já no próximo ano.

O The Vinea Collection Hotel by Piamonte Hotels, cuja inauguração está agendada para maio de 2022, está a nascer em Monção e resulta da reconversão de um imóvel centenário com uma quinta tradicionalmente produtora de vinhos.

A Ocram adquiriu o ativo em agosto de 2020 num investimento de seis milhões de euros, que conta com os apoios do Compete 2020. O cinco estrelas terá uma oferta de 70 unidades de alojamento, Spa, uma piscina infinita com vista para a Serra do Gerês, restaurante e bar.

A casa senhorial do século XVII está cercada por 16 hectares de vinha que serão aproveitados pela empresa para a produção de vinhos. O primeiro lote de Alvarinho será lançado dentro de dois anos.

Em andamento está também a já anunciada reconversão do complexo termal de Melgaço e do antigo Hotel do Peso. A Ocram ficará responsável pela exploração do projeto com 60 quartos que deverá abrir portas em 2024. O orçamento para a reconversão está definido em de 7 milhões de euros e é da responsabilidade de investidores franceses.

Da lista de novidades consta ainda um cinco estrelas em Amares, no distrito de Braga. A Ocram ganhou a concessão e a exploração do Mosteiro de Santo André de Rendufe, durante um período de 50 anos, no âmbito do programa Revive.

Aquele que foi um dos principais centros beneditinos portugueses entre os séculos XII e XIV dará lugar a um hotel cinco estrelas com 75 quartos num investimento de aproximadamente cinco milhões de euros.
A abertura de portas deverá ser concretizada dentro de um prazo de cinco anos. A Ocram assume que este é um projeto “bastante interessante, com uma localização prime e que irá permitir a criação de uma oferta hoteleira bastante completa na região”. Contudo, é preciso que o financiamento seja aprovado para dar seguimento ao projeto, alerta a empresa de exploração hoteleira.

“O monumento tem estado parado numa situação decrépita e nós vamos tentar unir as pontas soltas. Desenvolvemos o projeto, investimos, prevemos orçamentos e, se depois não tivermos a aprovação do financiamento – o que está a acontecer muitas vezes no Revive – é preciso um reforço da posição do Turismo de Portugal. É de todo o nosso interesse desenvolver o projeto mas também ter a aprovação do financiamento que está associado ao programa Revive e não outro financiamento qualquer”, sublinha Marco Rodrigues Dias, managing partner da Ocram, que atesta que sem financiamento não haverá hotel.

“Era muito bonito se conseguíssemos erguer este monumento nacional. Obviamente que isto está condicionado. O financiamento do Revive é interessante. Tem uma maturidade longa, uma garantia do Estado até 80% e considero que um monumento nacional deve ter esta percentagem. Se não conseguirmos ligar as pontas soltas não há projeto.”, garante o responsável.

Em cima da mesa, a Ocram tinha também anunciada a exploração de um novo hotel em Vila Nova de Gaia, com 60 quartos, no próximo ano. A pandemia acabou por ditar a paragem das obras e o projeto fica, para já, em ‘stand by’. “O Hotel de Gaia parou. Tínhamos um contrato de exploração e o proprietário decidiu não continuar a obra do hotel por causa da pandemia e da falta de liquidez. A obra já estava atrasada devido a contingências financeiras dele e ele acabou por decidir não continuar. É uma pena. Discordo totalmente desta decisão, porque a obra está já a 60% e este é um momento em que nunca se deve parar uma obra. É uma pena enorme”, lamenta.

Rebranding
Se o período da pandemia trouxe desafios, também permitiu concretizar oportunidades e a Ocram aproveitou para arrumar a casa e preparar um ‘rebranding’. Até ao final do ano a empresa assumirá a denominação de Ocram Investiment Group (OIG). “Em 2019 tivemos bons resultados do ponto de vista da exploração hoteleira. Veio a pandemia que também foi importante para repensarmos e reestruturarmos a própria empresa. Passámos por uma reorganização societária forte. Neste momento, temos uma holding que detém um conjunto de empresas e que são empresas exploradoras e proprietárias. Isso permite-nos estar agora disponíveis para a abertura de capital que era um dos nossos objetivos. O ano de 2019/2020 foi muito passado para fazer um trabalho de fundo de ‘backoffice’ longe dos holofotes mas que nos permite, agora, ter uma estrutura qualificada para receber investimento privado, estrangeiro ou nacional, que é canalizado para os hotéis”, refere o managing partner.

Marco Rodrigues Dias explica que a Ocram está focada exclusivamente na exploração ou aquisição de ativos hoteleiros e que não presta outro tipo de serviços de consultoria. O objetivo é o de se assumir como uma marca hoteleira. A Piamonte Hotels é a insígnia sob a qual a estratégia recai, com uma aposta na expansão do portefólio que vise unidades de lazer com características específicas.

“Neste momento só analisamos hotéis com um mínimo de 40 quartos, 4 estrelas, e cujo edifício principal respeite a traça tradicional portuguesa, que tenha história. Isto é nicho, mas é um nicho no qual estamos confortáveis porque temos uma equipa altamente competente que consegue pegar neste tipo de ativos e lançá-los para o mercado. O Ribeira Collection Hotel [em Arcos de Valdevez] foi a consolidação disto; era um hotel que estava muito mal e percebemos que sabemos trabalhar dentro deste nicho e por isso vamos focar muito a nossa operação aqui”, assegura.

Crescimento sustentável no interior do país
Para já, há muito trabalho em mãos para os próximos anos mas a Ocram não exclui, entretanto, olhar para outros projetos desde que estes permitam aquele que é um crescimento sustentável do portefólio da gestora.

“A hotelaria é um mercado de capital intensivo. Não é possível escalar em hotelaria sem investimento e temos de olhar os investimentos de forma mais estratégica. Não conseguimos recuperar o investimento num hotel em 10 ou 12 anos. Os investimentos em hotéis recuperam-se em 20/25 anos, em zonas com uma boa capacidade de resposta. Obviamente que Porto e Lisboa estão fora disto porque são mercados tão próprios, com uma afluência tão grande e com preços médios tão elevados que estão um pouco fora disto. Estamos sempre abertos a novos investimentos mas dentro de um contexto de sustentabilidade”, assume Marco Rodrigues Dias que, embora não exclua a possibilidade de analisar outro tipo de ativos admite que o objetivo é continuar a afinar a estratégia no mesmo caminho.

“Nos negócios temos de estar sempre abertos a estudar. Não retiro nenhum interesse a unidades corporativas em grandes cidades, por exemplo. Temos de ser sinceros: quem me dera ter um hotel em Lisboa ou no Porto. Mas o mercado nestas cidades tem um comportamento muito próprio e que está acima das nossas possibilidades por agora. Nós sabemos trabalhar melhor em contextos de lazer. É um mercado no qual temos experiência e por isso é uma área na qual a nossa estrutura se sente bem. Obviamente que os hotéis corporativos nos interessam, se vierem estudamos. Mas não estamos ativamente à procura desse tipo de unidades de negócio”, informa.

Sobre os próximos destinos de investimento, o managing partner aponta a Serra da Estrela, Bragança, Lousã ou o Ribatejo como potenciais locais de investimento.

“Temos interesse em sair mais da região norte, temos desenvolvido mais aqui porque a região Norte estava muito carenciada de bons projetos de lazer e tem um potencial extremo. Temos outros interesses, estamos ativamente a procurar no Alentejo e no interior”, diz.

“A hotelaria ficou conhecida por ter mão de obra barata e temos de mudar este paradigma”
Para o sócio fundador da Ocram um dos constrangimentos aos futuros investimentos é, inevitavelmente, a falta de mão-de-obra qualificada. Este é um aspeto de peso na hora de pensar em avançar com novos projetos. “Não há nenhum hotel neste mundo que consiga trabalhar sem pessoas, ainda por cima os hotéis de lazer que são hotéis que obrigam a prestar um serviço melhor, onde as pessoas passam mais tempo no hotel, temos de ter todos os serviços a trabalhar de forma harmoniosa e isso obriga a ter muito staff”, analisa.

O responsável, formado em economia e com mestrado em gestão hoteleira, assume que é imperativo desenhar uma estratégia para captar e reter talentos. A questão salarial é um dos pontos urgentes a mudar mas, para isso, é preciso que exista também uma redução da carga fiscal para as empresas.

“A hotelaria ficou conhecida por ter mão de obra barata e temos de mudar este paradigma e isso começa não só nas escolas mas também no choque fiscal a nível dos impostos nas empresas. Não há grupo nenhum que fique contente em pagar mal, temos constantemente aumentado os salários dos colaboradores mas temos de ter apoios significativos como a redução da TSU e a redução do IVA na restauração. Precisamos de ter um reforço de medidas para todo o setor: hotéis restaurantes, agências de viagens. Caso contrário, vamos perder todo o património que temos vindo a construir desde 2010. As pessoas vão sair da hotelaria”, alerta.

O empresário explica que parte da identidade do produto turístico nacional passa pela própria maneira de receber portuguesa e, é por isso, que a aposta em mão-de-obra estrangeira não pode ser a única solução. “Por muito que consigamos importar mã-de-obra, não é a mesma coisa. Temos de procurar cá dentro e garantir que conseguimos atrair os nossos cidadãos para esta área. A importação de mão-de-obra é boa mas tem de ser com equilíbrio. Nao concebo não ter portugueses na nossa estrutura, é a nossa identidade. Não quero pagar 700 euros a mão-de-obra estrangeira, quero pagar 1000, 1200 euros a profissionais portugueses”, acrescenta.

Marco Rodrigues Dias acredia que esta crise de recursos humanos “é muito pior” do que a anterior. “Muitos colaboradores saíram da hotelaria. Numa fábrica, por exemplo, o salario é o mesmo e com o fins de semana livres. Isto é muito a realidade aqui do Norte, há muitas fábricas e muita procura por mão-de-obra intensiva. Neste momento temos colaboradores que mesmo com salários altos preferem não trabalhar, encontraram outras fontes de rendimento até em teletrabalho”, relata, apelando a um encontro de soluções.

“Todos os parceiros, dos institucionais aos privados, têm de estudar formas de fazer com que a hotelaria seja novamente atrativa”, conclui.

*Artigo Publicado na edição 188 da revista Publituris Hotelaria

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