AHP: “Assiste-se claramente a um abrandamento do crescimento”

Por a 21 de Novembro de 2019 as 12:03

O presidente da Associação da Hotelaria de Portugal, Raul Martins, disse, esta quinta-feira, dia 21 de novembro, que “na hotelaria assiste-se claramente a um abrandamento do crescimento”. A afirmação, proferida durante a abertura do 31º congresso da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), foi sustentada pelos números da atividade até agosto. “A taxa de ocupação nos hotéis caiu ligeiramente (meio ponto percentual), o preço médio, que no último ano tinha crescido 7%, até agosto deste ano cresceu, sim, mas apenas 2%, tal como o REVPAR na hotelaria, que em 2018 cresceu 5% e até agosto deste ano cresceu, também, mas 2%”.

Mas se do lado da procura há um abrandamento, o mesmo não sucede do lado da oferta, que continua a aumentar, alertou Raul Martins. “Desde o início do ano abriram ou reabriram 36 hotéis, de acordo com o Registo Nacional de Empreendimentos Turísticos, o que significa mais 3% de quartos e de camas. Neste momento, portanto, temos disponíveis no mercado 205.816 camas hoteleiras. No caso do Alojamento Local, falamos de 91 mil estabelecimentos e com uma capacidade para 523 mil camas. Mais do dobro da hotelaria e que corresponde a um aumento de 17%”.

A par da questão da oferta crescente de alojamento, Raul Martins enumerou os desafios com os quais o setor hoteleiro se debate: “O estrangulamento do aeroporto Humberto Delgado, agravado nos próximos anos pelas obras de remodelação, que nos leva a recusar 2 milhões de passageiros por ano; a dependência do Algarve da tour operação e as paralelas insolvências de grandes operadores, online e offline; a debilidade da operação aérea no Funchal; o abrandamento do crescimento económico da Europa; a recuperação de outros destinos de sol e mar; a escassez de recursos humanos para trabalhar no turismo; a muito sensível questão da quebra de 2 grandes mercados para Portugal, para enunciar apenas alguns, obriga-nos a ser muito dinâmicos, atentos às tendências, rápidos nas decisões”.

No que respeita ao setor de actividade hoteleira, Raul Martins avançou que a AHP entregou recentemente um documento à Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, onde constam os principais dossiers que preocupam o setor. Entre eles, consta o processo de revisão da portaria de classificação dos hotéis, que ainda não foi ultimado. “Recordo que a AHP entregou à Secretaria de Estado do Turismo uma proposta em 31 de março de 2017, fruto de um trabalho que reuniu os contributos dos mais importantes grupos hoteleiros portugueses e de hotéis independentes”.

A AHP também quer ver finalizado o processo de regulação dos requisitos dos estabelecimentos de alojamento local e defende “que os estabelecimentos “coletivos” como os designamos, isto é,  hostels; blocos de apartamentos e  estabelecimentos de hospedagem a partir de certo volume de quartos, com gestão e serviços integrados, devem fazer parte do elenco dos empreendimentos turísticos e estar sujeitos a iguais obrigações”.

Raul Martins falou também da portaria prevista na Lei das Finanças Locais que irá determinar os critérios de distribuição do denominado IVA Turístico: “A AHP de há muito propôs que fosse atribuído ao Municípios uma percentagem da receita do IVA cobrado em determinados sectores e a revista Lei das Finanças Locais veio, em boa hora! a prevê-lo.   Urge agora publicar a portaria aí prevista que irá determinar a compensação devida aos municípios pelo acréscimo de despesas decorrentes de uma maior afluência de turistas. Esta medida é fundamental pois fará cair pela base as taxas turísticas que as Câmaras Municipais se têm precipitado a aprovar (e outras estão na calha)”.

No documento entregue à tutela do turismo está também patente a relação com as OTA’s, com o presidente da AHP a pedir que se aja “ativamente” no acompanhamento da Booking.com e outras OTAS: “Perante o desequilíbrio de posições relativas, é fundamental que a tutela do Turismo seja mais activa no acompanhamento dos dossiers da distribuição hoteleira pelas grandes plataformas online, particularmente no caso da Booking.com, intervindo  sempre que necessário, em defesa dos hoteleiros nacionais”. O presidente foi mais longe e exigiu “a proibição das cláusulas de paridade, assim como a obrigatoriedade de transparência das relações da Booking com outros operadores e das condições das tarifas “booking basic””. Para Raul Martins, é também necessário reforçar “a obrigação de cumprimento pontual dos contratos com os hoteleiros e obrigar a Booking a passar faturas quando vende através do “booking basic””.

Por fim, o presidente da AHP falou ainda dos recursos humanos. Nesta matéria, a AHP pede ao governo “um programa de fundo para captar e formar recursos humanos para trabalhar no Turismo”. Esse programa poderia começar “por adequar a rede formativa, lançar as bases para a dignificação das profissões ligadas à hotelaria e turismo, agilizar procedimentos com vista à concretização de quotas de imigrantes, entre outras medidas”.

Também o fim das concessões de Jogo consta do documento entregue à secretária de Estado do Turismo. A AHP quer garantir “que as verbas oriundas do Jogo sejam mantidas sob controlo e gestão do Turismo de Portugal, canalizando-as para os fins de apoio às empresas e à atividade deste Instituto que são destinadas à promoção”.

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