“Gostamos de ser os melhores, mas não os únicos”

Por a 13 de Outubro de 2020 as 7:00

Há nove anos, o grupo português Neya Hotels optou por abrir a sua primeira unidade hoteleira numa zona menos ‘premium’ da cidade de Lisboa. O Neya Lisboa não tinha como propósito ser apenas mais um de muitos hotéis na capital portuguesa, que oferecia somente um bom pequeno-almoço e uma boa cama. O quatro estrelas foi desenvolvido com o intuito de marcar a diferença na vida das pessoas, seja daquelas que ali se hospedavam, seja da comunidade local e nacional. Foi neste sentido que os proprietários do grupo optaram por aplicar na prática um conceito de responsabilidade tripartida, como explica Yasmin Bhudarally, CEO do grupo, focando-se na sustentabilidade nas suas três vertentes: ambiental, social e económica.

“Começámos a pensar que um hotel não pode ser só isso [bom pequeno-almoço, boa cama], tem de ser muito mais do que isso, tem de ser um pouco a nossa filosofia de vida e que tem de passar também para outros públicos”, explica a responsável, que defende que “os hotéis têm de ter uma filosofia agregadora, algo que os identifique e diferencie”.
O hotel tem uma forte aposta na vertente social da sustentabilidade. O Quarto Solidário foi a forma encontrada pelo grupo para contribuir socialmente para um planeta melhor, disponibilizando alojamento e pequeno-almoço a famílias carenciadas, para já no hotel Neya Lisboa, que têm os filhos nos hospitais da cidade. “A questão da responsabilidade social nasceu também pela proximidade ao hospital Dona Estefânia. Com algum esforço e dedicação começámos a criar formatos de trabalho, foi quando surgiu o conceito de quarto solidário após alguns anos”, esclarece Yasmin Bhudarally, que pratica voluntariado desde os seus nove anos de idade.

Este ano, devido à pandemia, esta ação teve “uma projeção diferente”. Apesar de encerrado durante o período de confinamento, o Neya Lisboa não deixou de apoiar as famílias que não tinham onde ficar enquanto os seus filhos estavam nos hospitais da cidade. “Durante estes meses de pandemia, tivemos o maior registo de sempre de números de quartos em termos de alojamento, o que nos apraz muito, porque de alguma maneira estivemos fechados mas não mudámos o nosso ADN e isso é fundamental no nosso posicionamento”.
Esta é uma prática que o grupo quer também levar para a recém aberta unidade na Cidade Invicta, estando de momento a encetar contactos para estabelecer parcerias neste sentido.

Ambiental
É também na vertente ambiental que a unidade se diferencia. Os elementos da Natureza foram assim trazidos para dentro das quatro paredes da unidade através da respetiva decoração e as práticas sustentáveis para contribuir para um planeta mais verde também. Mas a sustentabilidade ambiental na unidade vai mais longe. O Neya Lisboa é, por exemplo, o único hotel no país com a certificação Carbono Zero, em que compensa as emissões de carbono através da reflorestação de áreas florestais na região do Marvão. O hotel é inclusive abastecido com 100% de energia proveniente de fontes renováveis, além de promover a reciclagem e a redução da produção de resíduos através da utilização de palhinhas biodegradáveis, da promoção do consumo de água da torneira e produção de sacos de algodão reutilizáveis. Com a pandemia, Pedro Teixeira, responsável pela implementação de todos os procedimentos de sustentabilidade do grupo, admite que o volume de resíduos produzidos aumentou, devido, por exemplo, ao embalamento de unidoses no pequeno-almoço, “mas estamos a tentar minimizar ao máximo” o impacto deste aumento. O Neya Lisboa é também um dos dois hotéis do país com sistema de gestão de qualidade, segurança e ambiente com as normas ISSO 18001, 14001 e 9001.
Mas os desafios ao nível das práticas sustentáveis não se ficam por aqui. Os objetivos futuros, complementa, Pedro Teixeira, passam por implementar carregadores de veículos elétricos, desenvolvimento de hortas urbanas nas duas unidades e colocação de painéis fotovoltaicos, ou seja, “mais energia limpa no nosso hotel”.

“Gostaríamos de ser uma referência no panorama hoteleiro português”, sublinha a CEO do grupo, que explica que nove anos depois sente que “o nosso trabalho está a ser muito gratificante e reconhecido e que no panorama hoteleiro português estamos a fazer a diferença pelo posicionamento”. O objetivo do grupo passa por incentivar outros hotéis a seguirem o exemplo. “Costumamos dizer que gostamos de ser os melhores, mas não os únicos”.

A sustentabilidade está também presente aquando da escolha dos fornecedores das duas unidades – Neya Lisboa e Neya Porto. “Todos os nossos fornecedores são portugueses, à excepção daqueles que poderemos não ter. Isso faz parte do nosso conceito económico, apoiamos empresas portuguesas e isso faz toda a diferença”, indica Yasmin Bhudarally.
No que diz respeito aos fornecedores alimentares, o grupo conta com a certificação Portugal Sou Eu, fomentando assim parcerias com fornecedores locais, como os Frescos de Almeirim ou até mesmo os fornecedores do vizinho Mercado 31 de janeiro para a unidade de Lisboa. “A nível de fornecedores existe um trabalho, uma seleção e um pensamento que também faz parte do nosso dia-a-dia”.

Porto
No início do passado mês de agosto, a NEYA Hotels abriu portas da sua segunda unidade, o NEYA Porto Hotel, que nasce no antigo convento Madre Deus de Monchique que encerrou em agosto de 1834. O NEYA Porto Hotel apresenta 124 quartos, um Business Center, três salas de reunião totalmente equipadas com serviço de apoio para a realização de eventos paperless, o restaurante, Viva Porto, e o bar Último. O quatro estrelas contou com um investimento de 18 milhões de euros, dos quais 6,5 milhões foram ao abrigo do Programa COMPETE.

Em jeito de balanço deste primeiro mês de operação, a CEO do grupo aponta que este foi “um mês desafiante” sobretudo no que à gestão diz respeito. “Com as incertezas com que vivemos temos que todos os dias ir sabendo geri-las, é uma navegação à vista”, indica a responsável, referindo que é difícil ter uma estratégia nos dias de hoje devido às incertezas que a pandemia abarca. “A minha estratégia tem sido debater sempre com a minha equipa, manter-nos atualizados, falarmos com os outros e navegar à vista, o que é melhor e o que podemos fazer, nunca esquecendo que existem situações que de facto não controlamos e situações que podemos controlar”, afirma.

Quanto ao futuro do grupo, que acaba de receber o galardão Energy Globe Award pelo NEYA Lisboa, tornando-se assim no único hotel português com este prémio, o mais relevante no setor da sustentabilidade a nível mundial, a responsável considera que “não passará por baixar os braços”. “Poderá haver algum repensar dos projetos em termos de timing mas estão na mesa e vão estar na mesa porque o nosso grupo é resiliente”, sublinha.

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