Créditos: Frame It
“Queremos ser os líderes da Baixa de Lisboa”
O Convent Square Hotel – Vignette Collection foi inaugurado a 1 de agosto, resultado de um investimento de cerca de 30 milhões de euros.
Carla Nunes
Conheça os vencedores do Jovem Talento da Gastronomia 2024
Setores ligados ao Turismo entre os que mais recuam na constituição de novas empresas
Hilton estreia-se na Moldávia com investimento inicial de 5M€
RoomRaccoon participa em curso executivo de Revenue Management do ISCE
Ocupação hoteleira no Algarve subiu 8,9% em novembro
AHP reforça parceria com Santa Casa da Misericórdia para integrar pessoas com deficiência na hotelaria
RM Academy apresenta nova plataforma de formação online em Revenue Management
Admar SCR disponibiliza fundo de até 70M€ para investimentos em turismo e saúde
Assembleia Municipal aprova referendo local ao Alojamento Local em Lisboa
Groupe GM passa a disponibilizar linha hoteleira da marca MEMO Paris
Texto: Carla Nunes | Fotografia: Frame It
Localizado no antigo Convento de São Domingos junto ao Rossio, em Lisboa, o Convent Square Hotel – Vignette Collection resulta de uma parceria entre a PHC Hotels – Portuguese Hospitality Collection e o InterContinental Hotels Group (IHG Hotels & Resorts). Da aquisição do edifício até ao início da obra distaram dois anos, de 2015 a 2017 e, desde então, a parte de projeto, licenciamento e trabalhos de arqueologia, bem como a pandemia COVID-19, foram atrasando obra. Agora, o convento datado de 1242 abre portas como um hotel, que pretende primar pelo serviço e experiência ao cliente.
Em entrevista à Publituris Hotelaria, Miguel Andrade, diretor de operações da PHC, dá a conhecer melhor este projeto e a parceria com a IHG Hotels & Resorts.
O Convent Square Hotel – Vignette Collection surge após a reabilitação do Convento de São Domingos, cuja origem remonta a 1242. Que conceito pensaram para esta unidade hoteleira e que proposta têm para os futuros hóspedes?
Tivemos o privilégio de herdar este património, que é um património fortíssimo do ponto de vista histórico. Este edifício data do século XIII, de 1242. Era um antigo convento que fazia paredes meias com a igreja de São Domingos, que tem uma presença brutal na história de Portugal – era a igreja do reino de Portugal onde se celebraram imensas cerimónias fortes da nossa monarquia. É uma igreja que também sofreu imensos tumultos durante o terramoto e também com incêndios. Herdámos esta localização, esta história e este património e para nós era muito claro que tínhamos de fazer um hotel único pela sua experiência ao cliente, pela parte de arquitetura, de bem-estar, gastronómica e de serviço. A nossa proposta de serviço é muito forte e queremos realmente dotar a Baixa de Lisboa com um produto que acreditamos que vai ser único, não só pela parte de arquitetura, mas também pela parte de gastronomia e de serviço.
Com a unidade hoteleira a somar 121 quartos, quais os públicos-alvo que pretendem atingir no Convent Square Hotel?
Os nossos públicos-alvo são também baseados na filosofia da marca. Estamos a falar de um público contemporâneo, moderno, que tem apetência para cultura, para autenticidade, que quer sentir exclusividade, que quer estar em produtos que não são massificados, que são exclusivos, únicos, que têm uma componente histórica. Um público exigente, viajado, que gosta de ser surpreendido. Acredito que as nossas idades andarão dos 50 anos para cima: casais que querem descobrir Lisboa e Portugal, que gostam de gastronomia e cultura – estão aqui a um passo do Rossio, que é o coração de Lisboa, da Baixa Pombalina, da Praça do Comércio – que gostam de sofisticação – mesmo aqui ao lado com a Avenida da Liberdade – que gostam de cultura e alguma parte boémia, em que temos o Bairro Alto e as Portas de Santo Antão. Portanto, é um público exigente, sofisticado, com capacidade aquisitiva e que quer desfrutar com alguma independência e privacidade de conforto e unicidade.
Quais antecipam ser os principais mercados do Convent Square Hotel?
Acreditamos que vamos conseguir captar muito mercado norte-americano, inglês, brasileiro, alemão e francês. São esses os nossos mercados prioritários.
Como pretendem promover o hotel junto destes públicos?
O facto de termos esta parceria com a Intercontinental, por meio da marca Vignette Colection, automaticamente estamos na rede de distribuição da marca, o que nos dá desde já uma projeção global brutal. O cartão de fidelização da Intercontinental tem cerca de 120 milhões de usuários, portanto, vamos chegar de imediato a cerca de 120 milhões de consumidores de hotelaria de luxo, de consumidores de qualidade que estão dispostos, quando vêm para Lisboa, de procurar um produto que vai ao encontro das suas exigências e padrões. Temos uma força comercial organizada, por isso, vamos estar presentes nos fóruns de promoção do turismo de Portugal como temos vindo a fazer ao longo dos anos.
Estamos a falar de um hotel que tem um restaurante, uma área de lounge, mas também opções de wellness como uma piscina interior, sauna e um pequeno ginásio. Estas valências destinam-se apenas ao hóspede ou também vão abrir estas valências a passantes?
É essencialmente para os nossos hóspedes. Vamos trabalhar para que sintam que têm um espaço exclusivo.
E já têm estipulado qual será o preço médio?
Estamos a lançar o produto. Este ano vamos estar na ordem dos 200 a 240 euros e no primeiro ano vamos aumentar para outro patamar. Acredito que ao fim do primeiro ano podemos estar acima dos 250 euros, para um preço médio anual.
Qual foi o valor de investimento final neste projeto?
Desde a aquisição até à obra e a parte de decoração estamos a falar de cerca de 30 milhões de euros.
Hotel cumpre com 536 critérios estipulados pelo IHG Hotels & Resorts
O Convent Square Hotel resulta da parceria com o IHG Hotels & Resorts. O que motivou a associação a este grupo e, em particular, com a marca Vignette Collection?
Quando começámos a olhar para as oportunidades que este projeto tinha, achámos que era muito importante não só posicionar o hotel num patamar de luxo, como manter ao mesmo tempo a sua identidade, narrativa e força cultural. Aí começámos a analisar as oportunidades que as marcas internacionais nos davam e estudámos quatro propostas. A Vignette Collection, pelo seu posicionamento como um produto de luxo, pelos valores que tem do ponto de vista de sustentabilidade, de unicidade, de herança cultural fizeram-nos optar por esta marca.
Referiu que analisaram quatro hipóteses de parceria. Quais foram as hipóteses colocadas em cima da mesa e o que vos levou, em última análise, a escolher o IHG Hotels & Resorts?
Os cinco grandes da hotelaria mundial. O que nos levou a escolher o InterContinental foi a proposta de valor que podia dar a um produto como o Convent Square Hotel.
Como é que esta parceria será refletida no hotel?
Desde já do ponto de vista de standards de conforto. Cumprimos com todos os standards de conforto e produto do InterContinental, desde já a parte de serviço. Toda a nossa equipa que está a trabalhar no Convent, que são cerca de 80 pessoas, tiveram 80 horas de formação pela Intercontinental, mais 120 horas pelas nossas equipas, pelo que no total têm 200 horas de formação. Também cumprimos com todos os standards de produto que estão no quarto, nos pequenos detalhes, na decoração, em todo o ambiente que se vive no hotel. Outro ponto forte da marca é a parte de segurança, e aqui a marca também é de uma enorme exigência. Nestas quatro dimensões estamos a ter a presença da marca. Acima disso, toda a parte de comunicação, de promoção e de distribuição do produto no mundo, é outra forma em que o InterContinental está presente no nosso hotel.
Quantos pontos têm de cumprir no hotel para fazer parte do InterContinental?
São 536 pontos, desde a parte legal à parte de Life & Safety, passando pela parte de produto e segurança. Este é um processo que começámos em julho do ano passado, quando assinámos o primeiro documento com a Intercontinental, o head of tearms. Depois assinámos o contrato em outubro, em que estavam muito mais bem definidas todas as exigências, normas e parâmetros, e desde julho do ano passado temos vindo a trabalhar numa base muito regular no produto, na segurança e na proposta de valor da unidade hoteleira. Há cerca de três meses, a partir de março, começámos a trabalhar a formação específica da marca com a equipa de liderança do hotel, que foi recrutada cá em Portugal em unidades de cinco estrelas da área da grande Lisboa.
Recursos humanos contratados em território nacional
Fizeram uma campanha de contratação de recursos humanos para esta unidade. Neste momento já têm todas as vagas preenchidas ou ainda estão a contratar?
Com todos os entraves e dificuldades que temos tido no recrutamento, conseguimos ter a equipa completa. Temos sete nacionalidades e acredito que entre a proposta de valor da PHC Hotels até à formação, ao facto de ser uma abertura de hotel, de ter uma liderança portuguesa e termos um produto único, temos os ingredientes mais importantes para fazermos um hotel de primeiríssima qualidade aqui no centro de Lisboa.
Tiveram dificuldades em contratar? Ou houve alguma área na qual a contratação foi mais difícil?
Tivemos desafios, mas tínhamos uma estratégia muito clara e tivemos uma boa liderança. A nossa proposta de valor, como disse, é muito competitiva. Acabámos de inaugurar para os colaboradores de toda a PHC Hotels um ginásio. Introduzimos também mais-valias na proposta de valor: seguro de valor para todos os colaboradores; objetivos anuais e um prémio anual para todos os colaboradores, que está indexado a parâmetros de qualidade e de performance financeira; introduzimos gratificação sugerida para o F&B, e no Convent Square Hotel – Vignette Collection vamos introduzir para o alojamento.
Gostamos de ensaiar e perceber o impacto que estas iniciativas têm. Acredito que estamos a dar ótimas condições aos nossos colaboradores para poderem desempenhar com muito empenho e dignidade um bom serviço.
Mas quando fala em desafios, houve alguma área em que tiveram mais dificuldade em contratar?
Há sempre duas áreas que são mais difíceis, que são as áreas de empregadas de quarto e de mesa. São difíceis porque a remuneração, apesar da nossa ser bastante competitiva – estamos à volta dos 900 euros nesse patamar – é mais difícil. Mas nós conseguimos. Temos o nosso quadro de pessoal completo, temos cerca de 86 pessoas a trabalhar. Barmans também é desafiante, e também, curiosamente, as áreas de manutenção, de serviços técnicos, tivemos alguma dificuldade em contratar. Com a quantidade de construção que há neste país há muita transferência de ativos para áreas de construção e menos de hotelaria – tem horários mais difíceis, trabalham aos fins-de-semana, portanto, acaba por não ser tão fácil.
A contratação foi apenas a nível nacional ou também internacional?
O diretor fomos contratar fora do hotel. A nossa equipa de liderança, de chefias intermédias, todas têm experiência internacional e de marca. Esse foi o perfil que identificámos no princípio do recrutamento, que a equipa de liderança tivesse experiência com marcas internacionais e, se possível, tivesse experiência fora de Portugal. Mas a totalidade dos nossos colaboradores foram contratados em Portugal, à exceção do diretor de hotel, que estava a trabalhar no México quando foi contratado.
Pergunto porque no setor tem-se falado muito da necessidade de contratar trabalhadores fora de Portugal.
Temos pessoas da Ásia, do Brasil, de Angola, de Cabo Verde… mas continuámos cá, não fomos buscar aos países de origem.
Perspetivas
Com os adiamentos constantes da construção de um novo aeroporto em Lisboa, teme que os futuros hóspedes possam ter dificuldades em chegar, sequer, ao hotel?
Acho que não. É importante resolvermos definitivamente a questão do aeroporto, é uma vergonha nacional estarmos há 40 anos a falarmos desse mesmo tema. Infelizmente a capacidade instalada está quase esgotada, não podemos crescer muito mais, e acho que o grande ponto é exatamente esse, não podermos crescer. Agora, o aeroporto, mantendo-se onde está… as acessibilidades ao centro estão cada vez melhores, o metro está a funcionar melhor, há bons investimentos no metro. Acredito que isso não vá piorar.
Atualmente, a questão da guerra na Ucrânia e subsequente inflação continuam na ordem do dia, bem como a subida da taxa de juro e a diminuição do poder de compra. Como encara esta conjetura no turismo nacional? Pode afetar a vossa operação?
Já está a afetar. Temos grande mercados emissores europeus, o Reino Unido e a Alemanha. A Alemanha é um dos países que tem uma maior racionalidade na decisão, portanto, automaticamente os alemães alteraram o paradigma das férias. Não deixam de sair do país, mas vêm menos vezes e, quando vêm, é com estadias mais curtas. Portanto, esse é o impacto. Agora, se a taxa de juro continuar a subir, se não houver um teto, naturalmente pode afetar outros consumidores, nomeadamente o Reino Unido, que também é um grande mercado emissor em Portugal. Acreditamos que também possam ser substituídos, como tem sido [o caso] dos norte-americanos, [um mercado] que tem vindo a crescer, sobretudo para Lisboa. Também hoje, para nós, são a primeira nacionalidade que visita a PHC Hotels. Infelizmente há muita incerteza nos mercados, fruto desta instabilidade da inflação alta e da guerra na Europa, que também não ajuda. Vamos fazendo expetativas a curto prazo e tentando ajustar as nossas estratégias, mais no curto prazo e menos no médio a longo prazo.
No panorama nacional, e sobretudo em Lisboa, surgem cada vez mais novos hotéis, inclusive na área de influência onde se encontra o Convent Square Hotel. Esta proliferação de novas unidades na Baixa de Lisboa pode retirar-vos clientes?
Acho que isso é um desafio, uma oportunidade. Temos de entender os mercados e adaptarmo-nos. Cada vez mais as propostas distintivas, com identidade, com produtos que acrescentem valor à experiência do cliente que se consigam diferenciar vão ser as ganhadoras. Vamos ter público que vão para hotéis com menos diferenciação a preços mais concorrenciais. Se queremos trabalhar um mercado de qualidade, temos de ter uma proposta de valor mais elevada. Onde é que isso se materializa? No serviço, conforto, nos requintes, nos detalhes, na proposta gastronómica. E é aí que estamos a apostar.
A lógica passa pela questão do “melhor turismo em vez de mais turismo”?
Acho que cada vez mais temos de ir para esse caminho. Trazer turistas que procurem outra proposta e outras experiências que não o sol e praia e a massificação do turismo. Penso que esse tempo acabou e cada vez mais temos de ter boa cultura, boa natureza, um Portugal sustentável, que saiba receber, um bom serviço. Não perder a nossa portugalidade, saber dar aos clientes e aos nossos visitantes o que sabemos fazer melhor, que é o serviço, a nossa gastronomia, a nossa herança cultural. Acho que aí vamos ser sempre ganhadores.
Quais as perspetivas para este hotel daqui a três anos?
Sermos os líderes da Baixa. Queremos ser os líderes neste segmento: hotel histórico, com herança cultural muito forte, dentro do mercado do luxo. Queremos ser uma referência, em Lisboa, dentro desse segmento.