Atrair novos mercados e aumentar a estada média são desafios urgentes da hotelaria para 2019
Ana Jacinto, Margarida Almeida, Miguel Proença, e Raul Martins foram os convidados do Business Breakfast Publituris Hotelaria by Roca que abordou os desafios e constrangimentos da hotelaria.

Rute Simão
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Ana Jacinto, Margarida Almeida, Miguel Proença, e Raul Martins foram os convidados do Business Breakfast Publituris Hotelaria by Roca que abordou os desafios e constrangimentos da hotelaria para este ano. Melhorar a oferta, aumentar a estada média, atrair novos mercados e criar destinos são algumas das soluções apontadas para fazer face aos desafios que se avinham.
Com os dois pés já em 2019 é tempo de fazer um balanço do ano anterior, sem grandes demoras, e definir estratégias para os próximos meses que se avizinham. 2018 foi um ano de algum abrandamento, marcado pela redução da taxa de ocupação nas unidades hoteleiras nacionais, e também beliscado pela quebra do mercado britânico em destinos como o Algarve e a Madeira. Apesar de se ter começado a puxar a ponta do fio do novelo, problematizando questões como a capacidade do aeroporto de Lisboa ou as consequências mais profundas do ‘Brexit’, houve ainda um balão de oxigénio ancorado pelo aumento das receitas e pela subida de preços. As nuvens cinzentas, que pairavam no horizonte, ameaçam agora dias de chuva nos tempos vindouros ou, pelo menos, fazem adivinhar um céu menos solarengo. Os desafios para a hotelaria nacional em 2019 foi o mote que impulsionou a 5ª edição do Business Breakfast Publituris Hotelaria by Roca. Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Margarida Almeida, fundadora e managing partner da Amazing Evolution, Miguel Proença, administrador do Hoti Hotéis e Raul Martins, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) foram os convidados que aceitaram o repto lançado pela Publituris Hotelaria e traçaram as linhas do quadro que vai marcar os próximos meses.
“2018 foi um ano bom menos”
A taxa de ocupação, um dos indicadores que se manteve em terreno negativo no ano passado, não é motivo de preocupação para o presidente da AHP. “A queda não é significativa porque estávamos com uma ocupação muito elevada e tivemos uma redução de cerca de 1%. Quando temos ocupação acima dos 80%, baixar dois pontos ou três não é grave. Ao mesmo tempo, verificou-se um aumento do preço e do RevPar e a faturação subiu 6%. Diria que foi um ano bom, um bom menos”, analisa Raul Martins. Já o administrador do Hoti Hotéis relembra 2018 como “um ano de excesso de expetativas” uma vez que não se verificou um crescimento ao mesmo nível do período homólogo. “Há constrangimentos que se começaram a tornar bastante evidentes como o renascimento dos destinos do Norte de África e a questão do ‘Brexit’ mais em termos de expetativa do que consecução”, refere. Já Ana Jacinto prefere ver o copo meio cheio e, embora o número de dormidas não esteja no nível desejado, “o crescimento das receitas e do número de visitantes é bastante positivo”, acredita. Ainda sobre a ocupação, Raul Martins relembra o fator Alojamento Local (AL). “Não subimos em termos de ocupação porque o AL continuou a crescer. Tivemos menos dormidas mas houve mais passageiros a entrar nos aeroportos de Portugal. É natural que tenha ido alguma dessa diferença do número de passageiros para o AL”, aponta. Para este ano o presidente da AHP prevê que o indicador ocupação continue em queda e alerta para a necessidade de não descer os preços, de forma a manter um equilíbrio.
“Este ano é um ano de grande constrangimento a nível nacional por causa do esgotamento do aeroporto de Lisboa. Não vamos conseguir aumentar o número de passageiros mas o número de hotéis vai continuar a crescer” alerta.
Manter o preço, melhorar a oferta
Descer os preços não é um dos caminhos no qual os hoteleiros devam colocar o pé. A solução, na opinião dos intervenientes, passa por continuar a melhorar a oferta nacional. “É importante a captação adicional de valor fruto da melhoria de produto. Estamos muito bem ambientados e cientes de que a temos uma hotelaria com um nível médio acima do padrão europeu. Cada vez temos mais produtos de qualidade”, explica Miguel Proença que aponta a requalificação dos espaços hoteleiros como uma das vias mais eficazes para a competitividade. O administrador do Hoti Hotéis exemplifica com a remodelação feita no Tryp Lisboa Oriente Hotel e que permitiu à unidade, no espaço de dois anos, um retorno operacional de 90%. Mais recentemente, o grupo hoteleiro levou a cabo um ‘rebranding’ do Star Inn Peniche, antigo Soleil Peniche e que já está a surtir efeitos na ocupação do hotel. Raul Martins afina pelo mesmo diapasão e acredita que a qualidade das unidades portuguesas tem feito subir a oferta e esta deve ser a estrada a trilhar. “Não é reduzindo o preço que vamos ter mais hotelaria. Melhorem a oferta, procurem novos mercados, façam campanhas. Reduzir o preço não, porque nos custou muito chegar aqui”, relembra. O também administrador do grupo Altis Hotels está ciente do crescimento da praça hoteleira nacional e dos perto de 170 novos projetos que estão em pipeline para os próximos quatro anos. “Se vai abrir um hotel novo eu tenho de me remodelar para competir com ele. A concorrência é bem-vinda e é um fator de oportunidade”, atesta.
Qualificar o Alojamento Local
Quando o tema é a concorrência, o crescimento em paralelo do AL é outro dos motes impossíveis de contornar num debate sobre o futuro da hotelaria e do turismo. Não é encarado como um constrangimento pelos convidados deste Business Breakfast Publituris Hotelaria by Roca, mas sim como o resultado do saudável crescimento do mercado. Ainda assim, há alertas que saltam de imediato para cima da mesa redonda que une as várias opiniões.
“Os AL são bem-vindos, ainda bem que cá estão. São ofertas complementares. Temos é de ter o cuidado de estas unidades estarem devidamente qualificadas. Não se podem servir pequenos-almoços numa moradia sem cumprir regras de segurança alimentar que têm de ser salvaguardadas” inicia Ana Jacinto. Também Margarida Almeida concorda que a fiscalização e a segurança são imperativas. “Não sou contra o AL desde que ele seja feito com segurança. Sobre a qualidade cada um sabe de si”, refere. A CEO da Amazing Evolution justifica o seu comentário e explica que se o turista tiver uma estadia negativa no AL, o destino pode ficar comprometido e todos saem prejudicados. “Uma má experiência pode contagiar a apreciação do hóspede sobre o país e isso preocupa-me. A fiscalização das unidades deveria ser mais regular”, diz.
Para Miguel Proença há ainda um fosso entre a legislação da hotelaria e do AL. “A hotelaria foi crescendo com muitas regras. E isto é algo que foi gigantescamente simplificado no regime do AL. Seja em rapidez de atuação, seja em custos de investimento. Isso significa que estamos a falar em níveis de exigência completamente distintos em algumas coisas. Por exemplo, na segurança o nível de exigência retira competitividade à hotelaria”, lamenta o administrador do Hoti Hotéis.
Atrair novos mercados, fitar o ‘Brexit’
A saída do Reino Unido da União Europeia e a desvalorização da libra são outros dos assuntos que estão na ordem do dia. Margarida Almeida diz que a procura por novos mercados tem de ser constante. “A primeira vez que ouvi falar no ‘Brexit’ fiquei em pânico porque a Amazing Evolution tinha, sob gestão, unidades no Algarve. E fui gozada porque diziam, na altura, que o mercado inglês nunca iria deixar de viajar e nada ia acontecer. Logo na época, começámos a pensar noutro posicionamento e não estivemos à espera de uma decisão. Fomos à procura de outros mercados. Obviamente que isto não se constrói em dois ou três anos, mas já vamos um bocadinho mas adiantados”, conta. A secretária-geral da AHRESP concorda com a premissa de que é preciso alargar horizontes na captação de turistas. “Não podemos ter regiões muito dependentes exclusivamente de um único mercado. Esse é o grande problema do Algarve, 66% dos turistas da região são provenientes do Reino Unido e na Madeira são 20 %”, indica. Para Ana Jacinto urge potenciar outros produtos e “desviar o sol e mar” para aumentar o leque de opções.
O presidente da AHP eleva a tónica da responsabilização no assunto Algarve. “O Governo precisa de dar incentivos ao transporte aéreo para termos mais ligações na região. O Algarve tem a oferta toda, do barato ao sofisticado. Precisamos é de fazer chegar cá os turistas, ponto. Nós pedimos aos governos que tratem das questões das infraestruturas, como o aeroporto. O resto nós fazemos”, assume. Aproveitando a lista de alertas dirigida ao Governo, Raul Martins deixa mais um. “A Madeira também tem tido uma ocupação elevada mas o problema do aeroporto e dos ventos tem de ser revista. As condições técnicas dos aviões atualmente são diferentes daquelas de quando a legislação foi feita”.
Sobre Lisboa, Raul Martins relembra que a AHP “há 12 anos que anda a falar na solução Portela+1” e acredita que os constrangimentos no aeroporto são temporários. ”Numa perspetiva a médio prazo, em 2023 teremos o dobro do transporte aéreo da região de Lisboa. Estamos agora a baixar o número de turistas que conseguimos receber mas depois vamos dar um salto muito grande. É uma situação de transição”.
Falta recursos humanos
O problema já não é novidade e as queixas são as mesmas de sempre. Quando se reúnem os atores da hotelaria nacional este é sempre um dos temas comuns que, mais tarde ou mais cedo, acaba por toldar os discursos. Apesar dos constrangimentos já referidos que cercam a hotelaria nacional, para Ana Jacinto a falta de recursos humanos qualificados é a principal preocupação da AHRESP, que estima a falta de 40 mil trabalhadores no setor, conforme a associação já tinha informado no ano passado. “O facto de não sermos tão atrativos tem que ver com as exigências do próprio setor que trabalha 24 horas, sábados e domingos. Falamos com os jovens e eles não estão preparados para abdicar das suas horas de lazer, é difícil conciliar a vida profissional com a vida familiar e tudo isso é um grande desafio”, problematiza a porta-voz da AHRESP. Para Miguel Proença este é um desafio que levanta uma “preocupação moderada” numa altura em que o Hoti Hotéis tem várias unidades em pipeline. “Nós estamos numa fase de ebulição de oferta. A capacidade de colocar no mercado profissionais com mínimos de formação é claramente insuficiente para aquilo que são as necessidades e estamos todos a competir pelos melhores”, refere.
A questão salarial é um quase não-assunto para os intervenientes que referem que este não um dos principais motivos que sustenta a falta de recursos na hotelaria e no turismo. “A questão de retribuição é importante mas não é crucial e não é a única, há outras questões que têm de ser levadas em conta” refere Ana Jacinto. Confrontada com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), que dão conta de uma média salarial no setor de 632 euros, a secretária-geral da AHRESP esclarece: “O INE trata os vencimentos base. O setor tem um conjunto de retribuições que não estão a ser tratadas. Nós, no setor, além do vencimento base, que são as tabelas salariais mínimas acordadas, temos uma série de outros complementos que não são contabilizados. Temos os suplementos de trabalho noturno, trabalho suplementar, os pagamentos ao dia de feriado, dia de descanso. O subsídio de alimentação, na maioria das empresas, até mais na restauração, é pago duas vezes porque é pago em espécie mas depois é também pago em valor monetário”, justifica.
O presidente da AHP também discorda dos números do INE. “A hotelaria, dentro do Turismo, é quem paga mais. Na AHP fizemos um levantamento e o nosso ordenado médio está acima de 950 euros”, atesta.
Já Margarida Almeida acredita que para minimizar o problema também as unidades hoteleiras devem ser agentes ativos na formação do setor. “Havendo uma carência na formação, que tem também a ver com o facto de a hotelaria estar agora a florescer de forma mais profissional, enquanto esse crescimento paralelo não for feito pelas escolas, cabe às unidades definir aquilo que é o seu serviço e o seu posicionamento face ao mercado e ao seu cliente e dar formação interna”, refere.
Enfrentar os desafios e criar soluções
As linhas com que a hotelaria nacional se vai coser em 2019 são claras para os convidados desta conversa A ocupação continuará em queda este ano e o número de turistas vai abrandar. O aeroporto da Portela atingiu o limite, a solução Montijo vai demorar, e a questão dos ventos na Madeira tem de ser revista. A Madeira e o Algarve continuarão a ser afetados pela menor presença de britânicos. A oferta não vai ser travada e há 170 novos hotéis prontos a nascer e que terão dificuldades em contratar quadros qualificados. Mas mais do que falar dos problemas que estão a emergir, o principal desafio é criar soluções. O ano de águas mais brandas na chegada de turistas a Portugal é, para Raul Martins, uma oportunidade para os hoteleiros “remodelarem as unidades e qualificar a oferta” para os anos de crescimento que se avizinham, após o aumento da capacidade aeroportuária. Para o presidente da AHP outro dos focos em 2019 deve ser a preocupação em melhorar a estada média, indicador que continua abaixo da média europeia. “Deveríamos promover algumas campanhas para subir a estada média. Por exemplo, se o hóspede fica duas ou três noites, deveríamos estar a oferecer um desconto em mais uma ou oferecer uma noite gratuitamente para o incentivar a ficar mais um pouco. Isto é bom para todos. Era isto que deveríamos estar a fazer este ano”, sugere.
“Há coisas que não conseguimos mudar. Não conseguimos que o aeroporto fique pronto mais depressa, não conseguimos haja uma decisão sobre o Brexit, não conseguimos que a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China tenha fim mas há uma coisa que conseguimos e esse é o grande desafio: é continuar a trazer clientes para os projetos e que haja uma boa gestão das nossas equipas”, aponta Margarida Almeida.
Miguel Proença fala da capacidade de trabalhar o mercado numa perspetiva diferente, apostando também em destinos fora das grandes cidades. “Muitas vezes conseguem-se criar destinos que não existiam através de uma unidade hoteleira. Tivemos essa experiência no caso de Aveiro, com a marca Meliá, relevante para o mercado espanhol, e que acabou por atrair e criar o destino”, conta. O presidente da AHP concorda com o administrador do Hoti Hotéis “Hoje há turistas que decidem ir a um determinado hotel e só depois é que vão ver a localização do mesmo. Atualmente a hotelaria em Portugal tem uma qualidade que permite ter atratividade a esse nível”, refere.
Contas feitas, há motivos para preocupações em 2019?, questionamos. “Há motivos para preocupação, mas há soluções e têm de se apontar soluções. O Governo que nos ajude a trazer os turistas que nós tomamos conta deles”, conclui Raul Martins.