Opinião: Tecnologia. Estamos preparados para a próxima “onda”?

Por a 23 de Maio de 2023 as 11:03

Por força do fenómeno ChatGPT, muito se tem falado do potencial da inteligência artificial na vida de empresas e na nossa própria vida enquanto cidadãos.

Longe de ser um tema novo, esta popularidade repentina trazida pelo ChatGPT lembrou-me uma conversa que tive com um amigo que me dizia a propósito da tecnologia em geral: sabemos que, mais tarde ou mais cedo, uma qualquer tecnologia estará num estado de maturidade que lhe permitirá revolucionar o modo como fazemos qualquer coisa: como produzimos, como aprendemos, como comunicamos. O problema é que não conseguimos antecipar quando exatamente esse estado de maturidade se irá atingir.

Tendemos a olhar para esta tecnologia, assim como para as demais, como uma espécie de projeção de um futuro longínquo que afetará primeiro os outros, que irá transformar a forma de produção de algumas empresas e, eventualmente, substituir algumas funções em empresas longe da nossa esfera de influência. Nos outros. Poucas vezes questionamos “e se isto vier alterar o que faço ou mesmo substituir o que eu faço?”.

Numa reunião recente que preparei, atempadamente e com todo o cuidado – o que representou várias horas de trabalho de preparação –, pensei: “poderia a inteligência artificial ajudar-me a fazer esta tarefa? Será que me podia ajudar a escrever uma intervenção de discussão de um tema da reunião? Qual seria a sua eficácia?”

Decidi experimentar e pedi a ajuda do ChatGPT para escrever um discurso de contextualização da importância dos dados para a decisão em termos de políticas de turismo.

Eis que, em poucos segundos, recebo um discurso na linha do que tinha pedido: incisivo, desafiador, mas construtivo. O discurso convenceu-me e resolvi usá-lo, para demonstrar com um exemplo do que a tecnologia pode fazer por uma determinada tarefa que até então considerei como algo pessoal, que só eu poderia escrever, pela minha mão.

A reação das pessoas que assistiram foi ótima e, aparentemente, de aceitação da minha intervenção como sendo adequada ao fim que se pretendia. Mobilizadora até. No final, disse que poderia ter sido eu a escrever estas notas, mas que tinha pedido ajuda ao ChatGPT e que aquele tinha sido o output. E lá completei a minha intervenção dando o meu toque pessoal e emprestando a minha opinião sobre um tema que conheço, no qual trabalho e sobre o qual tenho opinião formada e conhecida, não exatamente coincidente com o que o ChatGPT propôs.

Mas, mais do que poupar tempo (até porque já tinha preparado a intervenção), pretendi com esta experiência mostrar que temos de acompanhar o desenvolvimento da tecnologia, testá-la nas nossas empresas, nos nossos negócios e nas nossas funções, para percebermos na prática as suas potencialidades, perigos e oportunidades que essa tecnologia nos pode trazer e as ameaças que lhe estão subjacentes.

Quantas vezes somos confrontados por uma nova tecnologia, mais ou menos trendy, de que ouvimos falar, mas que passa sem que tenhamos oportunidade sequer de perceber o que é ou o que pode significar para o nosso negócio? Quantos testaram o metaverso ou percebem as suas verdadeiras potencialidades? Ou leram livros ou artigos técnicos sobre o tema?

Era aqui que queria chegar: à necessidade de desenvolvermos práticas de experimentação, de desenvolvermos um ecossistema que nos permita, de forma contínua, acompanhar os desenvolvimentos da tecnologia, perceber exatamente quais os contornos inerentes a essa tecnologia e testar, nem que seja para perceber que não nos serve e que teremos que manter a nossa forma de produção inalterada.

A ausência desta prática no passado fez com que empresas líderes tivessem desaparecido do mercado, porque não conseguiram no momento certo perceber como se adaptar à “onda” que aí vinha.

Vale a pena refletir em profundidade sobre o tema e perceber como podemos trazer o ecossistema, o talento das nossas universidades e a tecnologia para bem mais perto dos nossos negócios e, desta forma, prepararmo-nos para a próxima “onda”, quem sabe uma que nos pode fazer tombar.

Deixe aqui o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *