Hospitality: É possível casar inovação e tecnologia com uma indústria de pessoas
A terceira edição do Spark Summit Les Roches demonstrou que é possível casar a inovação e a tecnologia numa indústria como é a Hospitality, feita de pessoas para pessoas, e concluiu que os humanos necessitam da tecnologia, mas também, a tecnologia necessita dos humanos. É um setor de paixões e emoções.

Carolina Morgado
AHRESP defende reforço de estratégias que evitem prejuízos em eventos desportivos
Dubai alcança as primeiras três Estrelas Michelin
AHP dinamiza formação sobre o regime geral de prevenção da corrupção
APHORT alerta que hotéis portugueses podem pedir compensação à Booking em ação coletiva europeia
Highgate Portugal inaugura três unidades na Herdade dos Salgados sob as marcas Marriott e The Westin
Grupo Água Hotels inaugura boutique hotel em Lagos
Octant Évora aposta em novo espaço vínico com enoteca
Primeiro hotel Kimpton em Portugal abre portas no Algarve
Transação do Tróia Resort já está concluída
Grupo Oásis tem melhor ano de sempre com receitas de 45,3M€ em 2024
A tecnologia não irá substituir o ser humano: irá aumentar o seu valor. Ponto assente. A indústria da Hospitality tem sido a mais empreendedora, está na vanguarda na inovação e das novas tendências. É uma indústria que incorpora muitas mudanças, está a fazer coisas novas e está a ser inovadora, mas na realidade a tecnologia está a mudar este setor que é feito de pessoas para pessoas.
Esta foi a principal conclusão de mais uma Spark Innovation Sphere Summit, que reuniu cerca de 100 especialistas em hospitalidade e tecnologia no campus da Les Roches Global Hospitality Education nos Alpes suíços, para debater “O Impacto das Novas Tecnologias na Hotelaria Tradicional”.
Sem esquecer que o setor das viagens e a hospitalidade seja sempre essencialmente um universo de pessoas, a indústria está em constante inovação. Durante o evento, oradores de setores da hotelaria e tecnologia partilharam ideias e discutiram sobre como algumas tecnologias como a IA, robótica, VR, hologramas, Web3 e outras estão a mudar a indústria hoteleira, especialmente para melhorar a experiência dos clientes e o revenue das unidades hoteleiras.
A indústria da hospitalidade foi a que teve menos mudanças no passado, mas nos últimos três/quatro anos abraçou a tecnologia de forma séria e acompanhou as tendências dos turistas e dos viajantes, conforme foi referido pelo painel de intervenientes, realçando que os hotéis e os estabelecimentos turísticos têm hoje uma enorme possibilidade de fazer uma oferta que há 20 anos só as grandes companhias podiam fazer.
Tem-se verificado que até os hotéis independentes têm apostado nas novas tecnologias e na inovação e, consequentemente, a vender os produtos com valor mais elevado do que as cadeias mais reputadas na mesma localidade, como foi evidenciado por diversas vezes neste encontro de especialistas. É algo que, segundo o CEO da Les Roches, Carlos Díez de La Lastra, “temos verificado, uma vez que estamos em permanente contacto com a indústria a nível mundial. Vemos que há países que estão a fazer um trabalho excelente ao nível da inovação e tecnologia” e, em declarações à Publituris Hotelaria, destacou várias vezes Portugal como bom exemplo ao nível da inovação e da parceria público-privada. “Portugal está a ser um exemplo. Está a ficar potente nesta área da inovação, digitalização e novas tecnologias ao serviço das viagens e turismo”.
Evolução e transformação profissional e pessoal
O gestor avançava na sua intervenção que a Les Roches tem vindo sempre a incutir nos alunos a ideia que esta temática tem de os acompanhar tanto na vida profissional como pessoal. “O ADN da nossa escola tem sido na evolução e transformação profissional e pessoal das pessoas, por uma razão muito simples, a Hospitality é uma indústria de pessoas, mas tem de estar a par e passo com a nova mudança, também acelerada pela pandemia: os clientes querem viver experiências, mas também querem que a digitalização e a tecnologia lhes façam chegar a elas”.
Carlos Díez de La Lastra não esquece que, nesta indústria, os profissionais que queiram ser excelentes e tornar a sua empresa excelente também têm de mudar, de evoluir pessoalmente e constantemente. Por isso afirma que este continua a ser um setor de “paixões e emoções. Não se trata só de conhecimento e nem só de competências, é relevante liderar equipas, entender o seu trabalho e as emoções dos clientes, tudo isto faz parte do negócio, e temos de saber, como líderes, entender, interpretar e dirigir, contando sempre com as emoções das pessoas”.
A internacionalização nos campus da Les Roches, tanto na Suíça como em Marbella (alunos de cerca de 100 nacionalidades) tem sido um fator importante. “Esta diversidade, com a nossa disciplina, com a vivência das práticas, e no nosso exercício de humildade, fazem com que, quem aprende connosco, não [aprende] só técnicas”, referiu.
Foi ainda destacado que o setor da hospitalidade está a entender esta dualidade para evoluir e atender com excelência a procura e necessidades dos turistas e viajantes.
É neste sentido que o CEO da Les Roches chamou a atenção para uma colaboração entre a indústria, as instituições de ensino e instituições públicas, atores privados e startups, com vista à criação de um ecossistema forte que procure acrescentar valor às empresas, colaboradores e clientes.
Não há como voltar atrás
Em jeito de balanço de um dia intenso de trabalhos, Pablo Garcia, diretor do Spark na Les Roches Crans-Montana, realçou que o que ficou bem claro é que “a tecnologia está aqui e não há como voltar atrás, precisamos de ser educados à sua volta, abraçá-la e conduzi-la. É uma cultura que precisamos de fomentar entre os estudantes de hospitalidade”.
O responsável apontou ainda que as intervenções demonstraram que o objetivo da inovação “não é apenas a tecnologia, é facilitar a vida aos colaboradores e clientes”, para sublinhar que a inovação e a sustentabilidade andam juntas. “Precisamos de inovação e de inovadores para criar soluções de apoio a um desenvolvimento sustentável”, afirmou.
Numa ótica de que a tecnologia não irá substituir o ser humano, mas sim aumentar o seu valor, da mesma forma, concluiu a conferência, a inovação não se trata apenas de tecnologia, mas de um processo inato ao ser humano.
O mundo mudou e as exigências também
Na mesma linha de pensamento esteve igualmente Susana Garrido, diretora do Spark Marbella, ao apontar que o mundo mudou e as exigências também, após a pandemia. Assim, os ambientes empresariais em constante mudança fazem parte desta realidade. “Não importa que tipo de indústria seja, todas as empresas precisam de repensar a forma de proporcionar a melhor experiência ao cliente”, para reafirmar a necessidade de uma “inovação aberta e uma abordagem de co-criação em que os atores da hotelaria têm de aprender a atrair e reter talentos para conceber soluções que liderem a mudança e escolher apenas aquelas abordagens inovadoras que serão valiosas para todos os interessados, evitando a tecnologia per si exclusivamente”.
Este feliz casamento entre pessoas, tecnologia, digitalização e inovação também está ligado à sustentabilidade ambiental, económica e social. “É um negócio que tem muitas implicações a nível social. Quando o turismo funciona modifica diretamente todo um país, porque traz riqueza e emprego, mas é preciso ter em atenção a sua sobrecarga, como aconteceu em cidades como em Barcelona, Veneza ou Lisboa, com problemas de convivência”, disse o gestor da Les Roches, para recordar os especialistas que usaram da palavra neste encontro, acrescentando que o que o turismo quer, e todos estão a fazer por isso, é que não se rompam as culturas das cidades e dos países. “Isto é o caminho para a sustentabilidade, e Portugal está a fazer um trabalho muito bom”, frisou à Publituris Hotelaria.
Uma das outras questões salientadas nesta conferência da Les Roches foi, outra vez, casamento. Desta vez entre inovação, tecnologia e experiências que os viajantes não dispensam nos destinos que visitam e querem visitar. Esta convivência, segundo os diversos especialistas, é obvia. “A nova procura do cliente veio também condicionar a tecnologia” dizia o CEO da Les Roches, realçando que tudo isto tem de estar conectado, pois a tecnologia facilita as experiências.
Refira-se que, com o Spark – o braço que trabalha a área da inovação –, a Les Roches criou uma plataforma de inovação mundial para apoiar a inovação hoteleira que engloba soluções de pré-incubação e incubação para empresários que estão a conceber e a entregar ideias revolucionárias ao setor hoteleiro e turístico.
A Spark capacita jovens, licenciados e aliados corporativos a conceber e implementar novas soluções de hospitalidade em laboratórios vivos no campus universitário. Nesta edição, o barista robot foi a grande estrela, tendo servido na perfeição todos os presentes com as mais diversas bebidas quentes e frias.
Este é apenas um dos fóruns de discussão promovidos pela Les Roches, designadamente, com a hotelaria, para falar das tendências de mercado, para abordar a questão dos recursos humanos e do mercado laboral. Se este é um dos principais eventos anuais desta Escola Internacional, há outro ainda que também aborda a inovação de uma forma mais disruptiva.
(O Publituris Hotelaria esteve presente nesta conferência, na Suíça, a convite da Les Roches).