As necessidades de recursos humanos na hotelaria e a oferta das instituições de ensino

Por a 12 de Julho de 2022 as 9:02
Nuno Abranja recursos humanos

A falta de mão-de-obra na atividade turística e a imperativa necessidade de dignificar e valorizar as profissões hoteleiras com as condições que merecem não é algo exclusivamente português, mas um problema mundial.

As empresas hoteleiras não estão a conseguir contratar suficientemente rápido para dar resposta à veloz recuperação do turismo no “pós-pandemia”, se é que assim já podemos chamar.

Na última conferência da AHRESP, a Randstad referia que o turismo em Portugal perdeu aproximadamente 27% dos trabalhadores durante a pandemia. Neste momento, o desafio para os hotéis é atrair, captar e reter talentos, que demorará meses a normalizar, exigindo agora das empresas maior flexibilidade, mais objetivos, melhor ‘salário emocional’ e outros benefícios que engrandeçam o “pacote salarial”.

Sendo a hotelaria um subsetor com uma vasta gama de produtos e serviços direcionados a um público cada vez mais heterogéneo, torna-se vital um update constante da academia para construir formações, conteúdos e métodos de ensino ajustados a essa heterogeneidade para satisfazer as exigências formativas mais prementes dos hotéis.

As diferenças entre a formação e as carências do mercado existirão sempre. Importa, contudo, que o tecido hoteleiro e as instituições de ensino trabalhem em proximidade para reduzir ao máximo as disparidades que persistam.

As principais expectativas de um aluno do ensino superior é sempre almejar o melhor emprego possível. Não seria lógico nem pensável se assim não fosse. Na hotelaria não é diferente.

Qualquer diplomado pretende alcançar cargos de gestão, mas a progressão na carreira hoteleira está ainda muito reservada a quem já trabalha na área há alguns anos e não tanto ao “encartado”. Basta ver a maioria dos anúncios de emprego dos hotéis.

Não obstante, regista-se um crescimento atual de oportunidades de carreira para quem já trabalha em hotelaria com um “canudo” na bagagem.

Seria um lugar-comum se afirmasse que a solução para tornar o setor hoteleiro mais atrativo fossem salários ajustados, horários flexíveis, regalias de trabalho, progressão na carreira… Mas na verdade é apenas isto que os profissionais desejam.

Não há nada pior num emprego do que as pessoas trabalharem sem ambição. Mas combater a falta de mão-de-obra e de empregados qualificados na hotelaria não requer apenas melhores salários.

Hoje, o colaborador comum procura uma cultura organizacional centrada no trabalhador, um propósito laboral, um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, progressão na carreira, reconhecimento, recompensa… Ao fim ao cabo querem um “pacote salarial emocional” merecido e justificável.

Atentas a esta transformação, as instituições de ensino trabalham todos os dias para encontrar estratégias inovadoras, soluções formativas adequadas, métodos de ensino empreendedores, conteúdos curriculares criativos e capacidade reforçada para responder aos problemas do setor, mas precisam incontornavelmente dos inputs dos hotéis, os principais players do mercado.

Nuno Abranja, diretor do departamento de Turismo do ISCE – Instituto Superior de Lisboa e Vale do Tejo e CEO da consultora OMelhorDoTurismo.

*Publicado na edição de maio da Publituris Hotelaria

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