“O Algarve descobriu-se em vários níveis e ainda está em transformação”
De acordo com o diretor do Vila Vita Parc, o Algarve autêntico ainda existe, e as pessoas “querem conhecê-lo”. No entanto, atualmente, a região “é mais dinâmica”.

Carla Nunes
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Em entrevista à Publituris Hotelaria Michael Gillig, diretor do Vila Vita Parc, fala sobre a unidade hoteleira no âmbito do seu 30.º aniversário. As mudanças no perfil do hóspede, as suas preferências, mas também as mutações da região algarvia ao longo destes 30 anos foram alguns dos pontos discutidos.
O que mudou em 30 anos?
Seguimos não só a visão do nosso fundador – e agora, da segunda geração –, mas também melhorámos todos os dias a qualidade do turismo e do serviço hoteleiro em Portugal, com a equipa que temos na unidade. Atualmente, a expetativa dos clientes é diferente. Quando reservam um hotel de cinco estrelas, sabem o que esperar em termos de “hardware” – a qualidade dos diferentes materiais, o design da unidade, etc. Mas para nós a autenticidade do serviço sempre foi importante.
O que fizemos há 30 anos, ao construir uma propriedade como o Vila Vita Parc, com 22 hectares de terreno, teve um grande impacto nos últimos 24 meses, porque é isso que os clientes gostam cada vez mais – de ter um espaço privado num resort como o nosso. Também fizemos várias mudanças, nomeadamente em termos de gastronomia – começámos com cinco restaurantes e agora temos 11; tínhamos cerca de quatro bares e agora temos nove.
Mas, novamente, não tem tanto a ver com o “hardware” do hotel: tem a ver com o serviço, a qualidade e a individualidade da resposta, de poder providenciar experiências centradas no cliente. Vemos o hóspede de forma muito individual. Creio que com o tempo nós, colaboradores, criámos uma relação de lealdade com a empresa e a equipa, sentimo-nos confortáveis a trabalhar uns com os outros, o que nos leva a prestar este tipo de serviço. A chave do que alterámos nos últimos anos, para além das várias renovações e implementações, foi a equipa em si e o serviço que providenciamos.
Qual o perfil dos hóspedes do Vila Vita Parc?
Os nossos fundadores são alemães, pelo que, durante anos, verificámos um grande foco de hóspedes alemães. Para além destes, temos uma grande tendência para hóspedes britânicos. No entanto, antes da pandemia, passámos a atrair também o mercado americano, o que não se verificava há dez anos, pelo menos na mesma percentagem que agora. Foi o segundo maior mercado. O número de clientes portugueses também aumentou imenso. Para além disso, a unidade atrai hóspedes multigeracionais, com famílias que nos visitam passadas três gerações. É bom ver que, passados 30 anos, algumas crianças que são agora adultos trazem os filhos ao Vila Vita Parc.
O perfil do turista mudou desde a abertura da vossa unidade? Quais são as preferências?
No passado, as pessoas vinham no verão. [A unidade] era muito sazonal, com ocupação em junho, julho, agosto e um pouco de setembro. Agora, estamos a operar todo o ano. Os clientes continuam a vir no verão, pela praia, pelo golf, mas também pelo aspeto culinário e pelos centros de spa e wellness, que estão a reabrir.
O perfil do viajante mudou. Os visitantes de hoje são mais informados: sabem onde querem ir e o que fazer. Atualmente, os clientes pretendem ter “férias ativas”, nas quais possam descobrir a região, mas também a cozinha portuguesa, os enchidos, saber qual o melhor peixe, os produtos das diferentes localidades… Têm interesse em aprender mais sobre a tradição e cultura portuguesas, e isto é algo que também tentamos explorar com os clientes.
O que diria que os clientes esperam do Vila Vita Parc enquanto espaço e serviço?
Construímos o “hardware” à volta do segmento de cliente que queremos atingir, com o conhecimento que fomos adquirindo ao longo de 30 anos. De momento temos cerca de 17 tipologias de quarto, mas também temos uma creche, um Kids Club, um Teenage Clube, vários restaurantes e complexos desportivos… Estamos a cumprir com várias expetativas dos clientes quando escolhem um resort no sul da europa, numa região de praia. [No entanto, temos em conta] que o cliente é muito mais ativo, não quer ficar apenas pelo resort. As gerações também mudaram – um hóspede de 50 anos já não é igual ao da geração anterior. Este hóspede tem uma ideia do que quer fazer. O que também vimos do último ano é que o consumo é diferente – não é a quantidade que importa, mas sim a qualidade. Ao mesmo tempo, querem ter várias experiências culinárias e saber de onde vêm os produtos, se são locais. A nossa equipa adora falar sobre isto com o cliente e “alimentá-lo” com este tipo de informação.
Como descreveria o Algarve quando abriram o Vila Vita Parc e como se caracteriza atualmente?
O Algarve descobriu-se em vários níveis. Ainda existe o Algarve autêntico, e as pessoas querem conhecê-lo. Mas, por outro lado, [a região] agora é mais dinâmica, quer em termos de atividades, quer ao nível da produção agrícola, por exemplo. Temos uma boa produção de vinho, de azeite, mas também uma dinâmica de produção biológica que nos dá uma perspetiva de como o turismo influenciou esta área. Pequenos restaurantes, tascas e espaços de praia utilizam cada vez mais produtos locais e têm orgulho em ter esta identidade.
Antes existiam dois ou três alojamentos muito bons. Agora, duas mãos não chegam para contar os alojamentos de qualidade. Por outro lado, deixa-me muito contente ver que a região é tão atrativa para jovens, millennials e nómadas digitais, com alguns a procurarem a costa do Algarve pela prática do surf.
Há também novas descobertas: cidades como Loulé, Silves e Faro estão mais recetivas ao turismo, verificando-se a abertura de novos negócios que permitem outras experiências. Lentamente, verifica-se uma mudança para as zonas mais rurais do Algarve, até Monchique. Muitas zonas ainda estão intocadas, ao contrário de outros países, onde o turismo chegou a um ponto em que se perdeu o equilíbrio entre os locais e a natureza. É verdade que no Algarve há mais pessoas em alguns meses de verão, mas muitas delas respeitam os locais. O Algarve ainda está em transformação.
Diria que a sazonalidade ainda é um desafio para o Vila Vita Parc?
Sim e não. O que diria que continua a faltar-nos é um pouco do mercado de MICE. No que toca a leisure, temos uma ocupação de 90%. Em novembro, dezembro, janeiro e fevereiro também temos alguma atividade de MICE, com grupos pequenos como a Lamborghini, mas faltam-nos grupos empresariais grandes como a Mercedes ou a BMW, por exemplo.
Este ano foi diferente, tivemos uma forte procura por clientes de leisure e algumas pessoas estão a ficar muito mais tempo connosco do que no passado. Temos pessoas que ficam um mês ou um mês e meio no inverno, para aproveitar o clima ameno.
Quando começaram a ter hóspedes com estadias mais longas?
No final de março, abril. Diria que na passagem de 2021 para 2022. Em 2020 tivemos que fechar a propriedade por três meses pela primeira vez e a reabertura foi ainda mais complicada, com todas as regulações. O verão de 2020 foi bom, mas sentimos que nove em cada dez clientes estavam muito nervosos. Em 2021 não fechámos, apenas a zona de restauração. Foi diferente. Os clientes estavam mais relaxados e sentiam que já podiam fazer tudo novamente. Retomámos os tratamentos [de spa]. Começámos a notar que os clientes, passado uma semana, decidiam estender a estadia para a semana seguinte. Parte dos nossos clientes tinham a disponibilidade para ficar e este impacto foi muito grande nos meses de inverno, de 2021 a 2022.
Quais os objetivos ao fim de 30 anos de operação?
Estamos a terminar a primeira fase da nossa vida para chegar à segunda. Já começámos a celebração dos nossos 30 anos de atividade, com 30 eventos. Os próximos 30 anos ainda estão muito longínquos, mas para os próximos cinco a dez anos gostaríamos de renovar alguns dos nossos quartos, implementar uma nova área de wellness e começar novos investimentos. Só este ano vamos lançar três novas villas e temos também planeados três novos restaurantes – dois fora da propriedade e outro integrado na mesma, com os conceitos a variar entre vegetariano/vegan e grill. Por isso, sim, ainda temos várias coisas em pipeline e temos sempre espaço para melhorar todos os dias.