AHRESP: “Para haver criação de riqueza as relações laborais e a organização do trabalho têm que ser diferentes”

Por a 20 de Abril de 2022 as 16:47

Na sessão de abertura da conferência Mercado de Trabalho, a primeira conferência  organizada pela Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Carlos Moura, vice-presidente desta associação, defendeu que é necessário mudar as condições de trabalho do setor, uma responsabilidade que acredita caber não só à AHRESP, como também “à administração, às autarquias e aos parceiros sociais” – no fundo, um trabalho que “compete a todos”.

A conferência decorreu esta quarta-feira no Salão Nobre da Alfândega do Porto, com o objetivo de perceber como atrair e reter profissionais no setor da restauração e hotelaria, quais as práticas no mercado de trabalho europeu e quais são os condicionalismos na contratação de profissionais.

A sessão de abertura contou com a presença não só de Carlos Moura, como também de Miguel Fontes, secretário de Estado do Trabalho, e Catarina Santos, vereadora do Turismo da Câmara Municipal do Porto.

Um dos pontos de valorização prende-se com o aumento dos salários destes profissionais, sendo referida várias vezes por  Miguel Fontes a importância do aumento do salário mínimo nacional, já que “a questão da política de rendimentos é hoje uma prioridade para o Governo”.

Referindo-se a este aumento, Carlos Moura afirma que a AHRESP nunca se opôs à evolução do salário mínimo e que, apesar de “os aumentos de 5 e 6% serem difíceis para as empresas”, é um caminho. No entanto, defende que “não há evolução de salários se não houver criação de riqueza”, algo que afirma que só pode ser atingido com a alteração “das relações laborais e da organização do trabalho”.

Uma dessas alterações passaria pela estruturas sindicais, que segundo Carlos Moura  são ainda “muito conservadoras”, havendo a necessidade de “sair desse marasmo”.

“A AHRESP pôs em cima da mesa este ano modernizar as convenções coletivas. Esperamos que o desafio seja correspondido. Mas do lado das empresas também temos que fazer alguma coisa – temos que saber dignificar e valorizar profissões”, afirma o vice-presidente.

A sessão de abertura foi ainda aproveitada pelo vice-presidente para sublinhar a “importância do IVA”, uma vez que a associação “não percebe porque é que não se pode reduzir temporariamente” este imposto, já que seria “uma forma universal de melhorar a liquidez de tesouraria das empresas”.

Apontou ainda a necessidade de “simplificar o acesso” aos mecanismos de apoio fornecidos pela administração, dado que “o tecido empresarial [do setor em Portugal] é frágil, pequeno, composto por nano empresas, que [nem sempre] são capazes de analisar todos os mecanismos”.

Numa última nota, Carlos Moura dá conta do problema demográfico português e da consequente falta de mão-de-obra para o setor, algo que, segundo o próprio “também se resolve com imigração”.

“Estamos disponíveis para colaborar na organização da imigração, para [empregar] os profissionais. [Mas] o Estado também tem que ajudar na inserção de quem vem trabalhar para [o setor], quer nas suas qualificações, quer na habitação e nos transportes. É um conjunto articulado de soluções”, defende.

Já Catarina Santos, apoiando-se nos dados da World Travel and Tourism Concil, que estimam que 53 mil vagas vão ficar por preencher no setor do turismo em 2022, aponta para a necessidade de uma maior aposta na qualificação e especialização dos recursos humanos e na capacitação em ferramentas digitais.

“As crises oferecem grandes oportunidades e temos que saber ser capazes de as agarrar. Mas também de as respeitar e ir ao encontro das legítimas aspirações e ambições dos profissionais, que querem e merecem melhores condições a acompanhar os ganhos de todo o setor”, termina.

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