Dificuldades em recrutar nos setores mais afetados pela pandemia

Por a 14 de Fevereiro de 2022 as 9:04

A par da necessidade de alavancar, uma vez mais, o negócio, a hotelaria e a restauração, dois dos setores mais afetados pela pandemia, enfrentam a dificuldade em recrutar, sobretudo, trabalhadores qualificados. Aquela que é, de momento, a maior preocupação dos gestores destas áreas exige esforços redobrados na atração de pessoas e também estratégias de recursos humanos reforçadas, que permitam valorizar e fixar capital humano.

As dificuldades agora vividas no recrutamento não são, claro, alheias ao contexto vivido nos últimos dois anos, em que foi necessária uma real redução das estruturas. Obrigados a uma mudança de atividade, muitos dos trabalhadores dispensados não procuram regressar à hotelaria, por diversos motivos: porque passaram a usufruir de condições salarias mais atrativas ou mesmo idênticas, porque as novas experiências se traduziram em mais satisfação no trabalho, por terem conhecido, noutros setores, modelos de trabalho mais adaptáveis a vertentes remotas ou híbridas, por receio da instabilidade contratual ou por terem já sentido a vulnerabilidade do setor perante eventos extremos (como uma pandemia mundial) e temerem a repetição de iguais impactos.

Como devem, então, adaptar-se as empresas destes setores para retomarem a atratividade que foi, em parte, afetada pela pandemia? Sem dúvida que terão de ser mais criativas e apostar em estratégias de atração fortes, como sejam a valorização percebida do trabalho e das funções, das organizações e das perspetivas de futuro, gerando expectativas altas em torno destas empresas.

Isto pode ser conseguido, desde logo, através do desenvolvimento da perceção da marca e da imagem corporativa do empregador, onde existe ainda um grande caminho a percorrer. À semelhança do que já é feito pelas grandes empresas, é necessário concertar diversos meios de comunicação da empresa e do empregador, como a redes sociais, as relações com instituições de ensino e formação, a difusão de boas práticas e da satisfação dos colaboradores atuais como portadores de uma cultura organizacional que poderá influenciar possíveis candidatos.

No entanto, estes esforços comunicacionais têm de ser a face visível de uma mudança mais profunda, nomeadamente, nas estratégias de compensação. As empresas devem repensar os pacotes remuneratórios que oferecem, assegurando que estes são mais à medida das expetativas dos colaboradores e que vão além parte monetária, por incentivarem o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, como forma de melhorar a designada felicidade no trabalho. Para esta, é também determinante uma verdadeira aposta na formação, abrindo perspetivas reais de carreira e criando respostas à evolução das funções a executar e à complexidade de novas competências exigidas pelo mercado.

Mais do que fazer face a uma necessidade presente, é necessário refletir em termos mais preditivos e preparar já o futuro, em que a escassez de mão-de-obra vai, de forma previsível, acentuar-se com o decréscimo da população portuguesa. As políticas de imigração e emigração poderão ser parte da resolução do problema, mas é necessário acautelar outras estratégias, nomeadamente, repensando as competências técnicas (hard skills) e pessoais (soft skills) a desenvolver em espaço académico ou pela via da formação profissional.

Deste modo, as empresas não só deverão implementar programas de formação internos que acautelem o seu futuro (transmissão de conhecimento e boas práticas da empresa, mobilidade interna, ascensão hierárquica) como deverão ser capazes de transmitir externamente as competências de que vão necessitar no futuro. Só com uma relação e trabalho próximos entre empresas, instituições de ensino e entidades representativas do setor será possível garantir a correta preparação dos profissionais que irão fazer a diferença no futuro da hotelaria. A união, neste caso, também fará a força (de trabalho).

 

Protásio Leão, Coordenador da Pós-Graduação em Gestão de Recursos Humanos do ISAG – European Business School

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