Especial 2022 | Mercado Interno para 2022: uma questão de afinação ou uma revolução?

Por a 23 de Dezembro de 2021 as 13:00

O primeiro, primeiríssimo voto para 2022, é claro que não pode deixar de ser retomarmos a liberdade de viajar, sem constrangimentos nem medos.

Mas, dito isto, há mais por onde as nossas reflexões nos podem levar. Cá vão os meus ‘5 centavos’ de contributo:
No encerramento do recente congresso da AHP, o Presidente da República colocou uma interessante questão. Reconhecendo que o mercado interno tinha tido um crescimento muito expressivo, perguntava se seria uma aposta a intensificar.

Ora creio que aprofundar o que atraiu o mercado interno e construir a partir daí propostas de valor é um desafio e uma oportunidade, não só para 2022 mas também para mais além.

É certo que estamos todos com muita vontade de viajar, de conhecer novos destinos, de ter novas experiências, de nos reconectarmos física e espiritualmente com o Mundo. Por isso creio que – e os movimentos internacionais em 2021 já o demonstram, ainda que timidamente- a retoma do Turismo acontecerá “para fora”.

Mas também é certo que ainda existem muitas incógnitas e restrições, quer as que decorrem da evolução da própria pandemia, quer as que condicionam as operações aéreas. Acrescem as condicionantes económicas e (crescentes) ambientais, desde o preço dos combustíveis, aos limites às emissões de CO2 (o setor de aviação civil actualmente é responsável por cerca de 3% das emissões globais e a IATA, a poucas semanas da COP 26, comprometeu-se a “zerar” as emissões carbónicas até 2050).

Recordo que em 2020 com o afundamento a pique do Turismo, em Portugal (e no Mundo), o que ainda aguentou alguma atividade turística ( e mesmo assim…) foi a procura interna, isto é, os residentes em Portugal (nacionais e não nacionais) . O turismo interno cresceu em 2020 em hóspedes e dormidas, invertendo-se os pratos da balança: de 40% em 2019, em 2020 o turismo interno passou a pesar, como emissor de hóspedes, 63%. Em 2021 o acontecimento repetiu-se. No acumulado de Janeiro a Setembro, o mercado interno pesou 64% em hóspedes e 56% em dormidas.
Ficámos por Portugal, e que país descobrimos!

Este fenómeno, não tendo paralelo em Portugal, não nos é específico, naturalmente. Todos os países registaram esse contrabalanço.

E no futuro? Olhar para o mercado interno para que este possa crescer e ganhar quota de mercado será uma questão de calibrar, de pequenas afinações, ou uma questão de revisão mais profunda de modelos?

Se me pedissem para apostar, diria que o turismo tem efetivamente uma oportunidade para consolidar e crescer no mercado interno. E que isso apenas exigirá uma afinação, fine-tuning, como referido pelo Presidente da República. Nada de revolucionário, portanto. Está tudo cá. Podemos ir para fora cá dentro.

Post Scriptum: A par desta consolidação, faço votos de que se tomem importantes decisões que também nos levem a consolidar o nosso lugar de primeira potência no Turismo de alto valor, sustentável e responsável, capaz de gerar e distribuir riqueza que contribua para a proteção do nosso património humano, cultural e natural.

Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da AHP

Deixe aqui o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *