Especial 2022 | Agir conjunturalmente, pensar estruturalmente

Por a 21 de Dezembro de 2021 as 14:14

A data em que escrevo estas linhas não pode deixar de influenciar a mensagem que aqui vou deixar. Estamos há muitos (demasiados) meses em pandemia, a viver um momento absolutamente singular, enfrentando um dos maiores desafios globais de que há memória e hoje com mais incertezas quanto ao seu fim.

Para mal dos nossos pecados, esta crise tem uma tal natureza que atinge o Turismo no seu âmago, ao impedir que as pessoas viajem, circulem e se juntem, levando ainda ao coartar, quando não mesmo à proibição, do funcionamento das suas atividades económicas.

Estamos agora a acabar um ano que foi especialmente complicado, e outro se prefigura não menos difícil. Apesar de tudo, a conjuntura atual é diferente e por isso deve também ser tratada de forma distinta.

Por um lado, toda esta situação já não nos é estranha, conhecemos um pouco mais e, de alguma forma, aprendemos a lidar com ela. Por outro, a vacinação poderá favorecer um cenário para 2022 que não deverá assumir uma tal gravidade que possa obrigar a restrições ao funcionamento dos nossos estabelecimentos. Assim esperemos!!
Seja como for, e ao contrário do que chegámos a perspetivar, o ano de 2022 poderá ainda não ser o ano da plena retoma, em que chegaremos aos níveis pré-pandemia, como todos desejaríamos. Mas espero que seja um ano diferente (para melhor), em que se assista a uma recuperação generalizada do Turismo e de toda a economia, com a natural e previsível passagem da pandemia a endemia.

Para isso, é fundamental que o Estado não descure, nesta importante fase, o apoio às empresas do Turismo, dando-lhes o folego de que precisam para que continuarem a sua atividade e conseguirem manter, e até criar, novos postos de trabalho, reassumindo-se esta atividade como o verdadeiro motor da nossa economia. Ao mesmo tempo preserva-se uma das nossas maiores mais-valias, que é o nosso produto turístico, reconhecido como dos melhores do mundo.
Aliás, a este propósito, recordo que recentemente a Comissão Europeia anunciou a prorrogação do quadro temporário dos auxílios estatais até 30 de junho de 2022. Esta decisão permite aos Estados-Membros prorrogar os seus regimes de apoio e garantir que as empresas mais afetadas pela pandemia não sejam subitamente excluídas dos auxílios necessários.

Esses apoios, meramente conjunturais, podem ajudar as empresas a lidar e a ultrapassar esta situação excecional, tentando “corrigir” os efeitos provocados pela pandemia. Mas é necessário ir mais além, até às medidas que são estruturais para que não se comprometa a produtividade e a imagem do nosso Turismo. Há muito que estão identificadas questões que devem merecer uma séria intervenção, como é o caso dos demasiados encargos sobre as empresas e sobre o trabalho, uma legislação laboral que parece afastar-se cada vez mais das especificidades do turismo, a constante instabilidade jurídica e a cada vez maior escassez de trabalhadores disponíveis para a Atividade Turística.

Há, assim, que dar resposta a todos estes problemas (sobejamente identificados), a par de uma campanha séria de qualificação e também de dignificação de todas as profissões do Turismo. Os empresários já deram provas da sua invulgar capacidade e resiliência. É chegada agora a hora da sua recompensa.

Infelizmente, o mundo tem dado provas que recompensa mais a aparência do mérito do que o próprio mérito, mas tenho esperança que o próximo ano traga, efetivamente, as devidas e merecidas recompensas para as empresas turísticas.

Um Ano bem melhor do que 2021 são os meus sinceros votos!

Opinião de Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP

Deixe aqui o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *