“Sustainability & Sustainalytics” Chaves do futuro para este hotel azul, localizado no espaço e onde todos somos hóspedes?

Por a 24 de Novembro de 2021 as 9:36

Ao dia de hoje*, Glasgow é o palco da 26.ª Conferência das Partes, o órgão responsável pela tomada de decisões da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC). A conferência sobre o clima vai decorrer até 12 de novembro e está a ser encarada como a última grande oportunidade de juntar líderes mundiais num esforço conjunto para salvar o planeta.

Pensemos em conjunto no que representa a nossa indústria! Quantos hóspedes estarão neste mesmo dia de hoje, dormindo em hotéis, usando energia e recursos, consumindo refeições, bebidas, serviços de spa, golfe e todos os demais serviços que o turismo e a hotelaria disponibilizam aos seus hóspedes?
Se fizermos esta reflexão baseada na nossa própria experiência como hóspedes de um hotel, decerto não nos surpreenderá que a indústria do turismo seja responsável por cerca de 8% das emissões de CO2 a nível mundial.
Apenas criando, monitorizando e produzindo o Relatório Social de projetos hoteleiros verdadeiramente sustentáveis estará a nossa indústria a contribuir efectivamente para este propósito maior.

SUSTAINABILITY – O Ciclo de Criação ABC Sustainable Luxury Hospitality

Como ilustrado acima o processo é circular e todos os elementos impactam e sofrem a influência uns dos outros.

Etapa 1 > Quando se inicia um projeto do zero ou se requalifica um património já existente, há que tentar que todos os novos equipamentos e/ou materiais, formas de construção e outras decisões referentes por exemplo ao consumo de água e energia assentem na cultura de sustentabilidade, permitindo, simultaneamente, que esse investimento (por vezes avultado) seja rentabilizado.

Etapa 2 > O impacto sobre a comunidade sugere que sensibilizemos os investidores da importância de apostar na empregabilidade de pessoas da zona, bem como em parcerias e fornecedores locais que dignificam e trazem autenticidade à unidade.

Etapa 3 > Apostar num processo de constante revisão de serviços e/ou equipamentos, sendo que, neste ponto, precisamos que a legislação esteja do nosso lado. Um exemplo: Minibares em unidades de cidade? Porquê? Estes equipamentos exigem um investimento inicial (que podia ser usado noutra coisa), são normalmente inseridos no quarto (local que devia potenciar o melhor das energias e menos equipamentos), aumentam o consumo de energia elétrica; o investimento em produtos para os mesmos torna-se frequentemente em “desperdício”, requer um custo com pessoal para reposição e verificação de consumos. Pergunta-se: Não serão razões suficientes para rever todo o processo e quantificar as perdas?

Etapa 4 > Dar sempre preferência ao uso/compra de materiais recicláveis e produtos sustentáveis. Ao consumir, todos nós fazemos uma escolha, nas nossas unidades essa escolha é apoiar a produção local em detrimento da importação.

Etapa 5 > O cuidado com o consumo alimentar é crítico. Em primeiro lugar, é essencial que os produtos sejam de boa qualidade para que o hóspede sinta a verdadeira experiência gastronómica portuguesa. Paralelamente os produtos devem ser locais e sazonais, por isso consideramos que uma horta é extremamente importante pois permite obter os principais ingredientes no próprio local onde são consumidos. A produção de hortas na cidade é uma tendência recente e apoiada pelo próprio Turismo de Portugal.

Etapa 6 > A contribuição financeira e/ou em projetos de melhoria da comunidade onde o hotel se insere. A unidade hoteleira deve ser considerada como um legado que deve gerar benefícios para todos. Todos sabemos que é um tema social importante. O passo mais imediato está relacionado com os desperdícios diários de alimentos gerados por uma unidade hoteleira e que podem ser doadas a associações que todos os dias se empenham para alimentar tantas pessoas com carências.

Etapa 7 > O impacto na experiência do cliente e/ou hóspede. Hoje a preferência por unidades que contribuem verdadeiramente para a sustentabilidade é um fator decisivo no momento da compra/decisão. Assim, como pequenas mudanças que podem ser implementadas, como exemplo de estadias até 3 noites em que não se deverá mudar a roupa de cama e banho (com exceção de algum acidente), algo que se pretende venha a ser comum a todas as unidades, pois o “cartão” que apela a este gesto e que é hoje em dia colocado nas unidades é constantemente ignorado. Só com esta alteração, estamos a falar de uma poupança de água, energia, custos com pessoal e no próprio ambiente, com impactos significativos na conta de exploração da unidade hoteleira.

Etapa 8 > A constante e cuidada sustentabilidade financeira que envolve uma operação inteira e que, bem quantificada, permite que o investidor e responsáveis pela operação da unidade consigam entender muito melhor o impacto financeiro e imaterial que esta acertada decisão tem.

SUSTAINALYTICS – Medir, Monitorizar e produzir o Relatório Social
As alterações climáticas globais estão a induzir as novas gerações de consumidores a exigir altos standards de práticas de sustentabilidade por parte das empresas em geral e as do turismo e hotelaria em particular, as métricas ESG – Environment, Social & Governance, serão muito provavelmente e a breve trecho alvo de monitorização e reporting social por parte das organizações.

Desta forma os consumidores globais da indústria do turismo, com cada vez maior sensibilidade e exigência nesta matéria, podem vir a diferenciar e escolher os hotéis e resorts que são “eco-friendly” e que já tem em prática, monitorizam digitalmente e publicam um relatório social das boas práticas de sustentabilidade, certificadas e com impacto ambiental demonstrável em pelo menos 4 categorias; eficiência energética, conservação do recurso água, redução de desperdício e origem sustentável das suas compras.

Neste contexto evolutivo, as métricas “ESG” estão em profundo desenvolvimento, tanto ao nível dos KPIs como plataformas tecnológicas de medição e controlo, acompanhamento e produção de relatórios de sustentabilidade, onde a designada “travel-tech”, tecnologia que serve o sector é uma vez mais é chamada a corresponder com soluções disponíveis aos gestores hoteleiros.

Conclusão
Boas práticas de sustentabilidade na criação e reabilitação de projectos hoteleiros, aliadas a plataformas tecnológicas de medição, controlo e reporting social podem constituir um contributo fundamental da indústria do turismo, permitindo que as gerações vindouras possam continuar a fazer o check-in neste hotel azul situado no espaço e que até hoje, que se saiba, não tem qualquer concorrente ou competitive-set que permita aos seus quase 8 mil milhões de hóspedes a transferência da sua “reserva”.

Análise de Luís Brites, CEO Clever Hospitality Analytics & Ana Beatriz, CEO ABC Sustainable Luxury Hospitality.
*Texto publicado na edição de novembro da revista Publituris Hotelaria

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