Opinião | Contratar pessoas na hotelaria: uma dificuldade antiga e hoje mais difícil

Por a 23 de Agosto de 2021 as 9:30

Refletiu-se, escreveu-se e leu-se muito no passado, sobre a dificuldade de contratação, na indústria do turismo e na atividade da hotelaria e hoje vive-se um “drama” organizacional.

A pandemia que vivenciamos desde início de 2020, contribuiu em muito, para aumentar a complexidade na contratação de mão-de-obra na hotelaria, mas é também, com os ensinamentos que dela retiramos que se deve agir.
Recentemente li indicadores, sobre um estudo da consultora “AKTO – L`humain au coeur des services” do sector de hotelaria e restauração em França e fiquei perplexo, ao perceber que um em cada quatro profissionais, concretizaram, com a vivência desta pandemia, uma mudança de profissão, enquanto que apenas um em cada três empregadores ficou preocupado.

Em Portugal será diferente? Arrisco afirmar que não.
Temos realidades diferentes, em geografias diferentes, com produtos diferentes e culturas organizacionais diferentes e parece-me imperativo, não poder “confundir” o problema, aqui em reflexão, em Lisboa ou no Porto, no interior ou no litoral, nomeadamente, no Algarve com a sua “infeliz” sazonalidade.
A contribuição para melhorar a contratação em hotelaria, só pode acontecer, através de uma profunda e imperativa mudança no topo da gestão das empresas.

Temos que mudar a dignificação das profissões mais árduas, sob pena dos colaboradores encontrarem outras ocupações profissionais, mais bem remuneradas.

Temos que ter soluções integradas, significativamente diferentes, na atração de pessoas.
O topo da gestão, tem de mudar mentalidades medíocres e terem lideranças, nas suas organizações, definitivamente diferentes, para “resolver” a identificação, atração, contratação, acolhimento, integração, satisfação e fidelização do capital humano.

O que deve então, preocupar hoje, os líderes empresariais?
Que visão, missão, estratégia, valores, para os seus ativos humanos que têm de ser os seus principais ativos?
As lideranças de gestão hoteleira, têm que interiorizar, assumir e concretizar mudanças, para aplicação real e visível, de políticas orientadas para pessoas que trabalham para outras pessoas.

Estas pessoas, para trabalharem no setor da hotelaria, têm que sentir na “sua alma”, “a paixão” de trabalharem felizes, reconhecidas, satisfeitas, implicadas, envolvidas, com horários humanistas, com vínculos definitivos e não precários, apaixonadas pela missão, estratégia, valores e resultados da empresa.

Essas pessoas, querem soluções de bem-estar pessoal e familiar, meios que garantam a mobilidade e consequente alojamento, transporte de deslocação, retribuições atrativas e justas, retribuição de trabalho suplementar, acesso a benefícios sociais e materiais, de forma a que o conjunto destas soluções, permitam definitivamente ficar fidelizadas com tudo e com todos.

Aquelas pessoas, exigem políticas de descentralização, que flexibilizem, que respeitem, que ajudem, que dignifiquem as suas profissões, que possam adquirir mais e melhores competências, que lhes proporcionem mais horas de aprendizagem remuneradas, para além daquelas que estão estipuladas nos “curricula” que escolheram.
Diminuir a dificuldade em contratar na hotelaria, exige definitivamente mudanças, como as que referi, caso contrário, a imprevisibilidade de hoje, resultará na insustentabilidade de amanhã.

*Manuel Moutinho, diretor de Recursos Humanos da Nau Hotels & Resorts.

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