Opinião | “Medo do risco é um risco”

Por a 15 de Julho de 2021 as 11:23

São anos de receitas perdidas, de muitos períodos com as portas fechadas, de despedimentos, de cortes, de restrições, de comportamentos erráticos dos governantes e acima de tudo de muita incerteza. São anos em que a estratégia passa por reduzir perdas, controlar recursos, em que os planos anuais, ou até mais longos, foram substituídos por decisões semanais e até diárias. São anos em que investir, apostar ou arriscar seria contrário ao bom-senso. São anos em que se deixou de comunicar, de silêncio, de afastamento e de medo de falar do amanhã. 

Tendo em conta o contexto, faz sentido criticar essa ausência, essa insegurança de promover, de publicitar, de prometer, de gerar expetativas? Não tenho dúvidas que em muitas situações, mesmo que houvesse essa vontade de ir contra a maré, a situação chegou a um ponto tão desesperante que o mais importante foi manter a dignidade e apoio aos colaboradores e famílias. Por outro lado, há quem use a desculpa do Covid para procrastinar, para se remeter à segurança do não fazer, para fugir à iniciativa, à criatividade, à exposição e à mudança. No fundo o Covid não trouxe nada de muito novo a este nível, apenas agravou, pelo encobrimento, o medo de arriscar, bem típico de mercados e negócios tradicionais. Sim, é mais fácil falar quando o dinheiro não é nosso, mas também custa a assistir parado ao medo e à inércia daqueles que, com algum risco e arrojo, estariam neste momento mais longe de carpir mágoas e mais perto de soluções criativas e alternativas. 

Para além de tudo o resto, esta maldita pandemia, levada ao extremo pelo histerismo e cultura do medo, também está a ser responsável por muitas oportunidades perdidas, pelo desperdício de momentos de afirmação únicos, pelo congelamento de mudanças estratégicas e pelo abandonar de ideias inovadoras. Acreditem há hoje quem tenha medo de comunicar, de vender, de promover e de ter clientes. Há quem esteja tão toldado pelo medo que prefere passar despercebido, estar afastado, apenas focado em sobreviver. Sobreviver, o tal pecado empresarial que afeta tantos negócios e tantas carreiras, mas que neste momento nem censurável é…

Nem tudo é mau, nestes momentos também é mais fácil detetar quem fez precisamente o contrário, quem arregaçou as mangas, quem usou a inventividade, a criatividade, a astúcia, quem não teve medo de mudar, procurar soluções, produtos e mercados alternativos, quem se adaptou, quem teve uma atitude positiva e quem se conseguiu sobressair, muitas vezes surfando a onda menos bonita e indesejada pelos outros. Houve que se pôs de pé, mesmo desequilibrado, enquanto outros, cada vez mais afundados, vêm as ondas passar. Há quem aproveite o silêncio dos outros para se fazer ouvir, há quem aproveite a lentidão dos outros para passar à frente, há quem aproveite a falta de ideias dos outros para avançar com as suas. 

Quando tudo voltar ao normal (vai acontecer e quando acontecer será rápido) vão voltar as ideias, a corrida, a pressa, o ruído, as promessas, os projetos e os planos elaborados.

Nessa altura, os que agora não tiveram medo de comunicar irão sorrir e perceber que foi bom terem “dropado” essa onda. 

Não arriscar também acarreta um risco muito grande, o das oportunidades perdidas.

A opinião de Rodrigo Roquette, Marketing & Communications Director do 3HB Hotels.

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