Diretora hoteleira Patrícia Correia apresenta primeiro livro

Por a 9 de Junho de 2021 as 9:31

Um esgotamento nervoso aos 24 anos, dependência de antidepressivos durante uma década, duas depressões pós-parto e um divórcio. Esta foi a realidade de Patrícia Correia, diretora do Monte Santo Resort, durante vários anos. Hoje conhecida como ‘doutora amor’, a profissional conta a sua história num livro com o objetivo de explicar o seu caminho e de que forma é que conseguiu atravessar a estrada do sofrimento mental e físico e criar uma nova realidade.

‘Roteiro para uma vida feliz’ é a obra de estreia diretora hoteleira e foi apresentado oficialmente no passado dia 5 de junho. “Este é um livro muito motivador, nada deprimente. Se eu consegui passar por isto, sobrevivi e melhorei e inspirei muita gente, tu também consegues e é essa a mensagem. É muito simples”, conta a autora. Hoje reconhece que é “uma pessoa completamente diferente e feliz” e é esse exemplo que quer transmitir ao leitor; o de que é possível passar de um polo a outro. Pedir ajuda é o primeiro passo fundamental no processo de cura.

 

Do esgotamento a uma década de dependência

Patrícia estudou informática e gestão financeira e a entrada na hoteleira aconteceu por acaso. Os pais ofereceram-lhe um carro e, de forma a conseguir suportar os custos do combustível, acabou por ingressar no setor. Primeiro na copa, com 18 anos, depois na sala a servir refeições e mais tarde na receção. O interesse foi aumentando e a relação consolidou-se até que percebeu que tinha encontrado o seu caminho. “Quando cheguei à receção pensei: “eu já não vou sair daqui, a hotelaria é a minha vida e estou a gostar imenso do que faço”. Gostava imenso do que fazia e era muito feliz”, relembra.

Aos 20 anos trabalhava num hotel, dava aulas em dois sítios diferentes, estudava e preparava-se para casar. Apesar de admitir que o “relacionamento não era muito feliz”, este pareceu o passo certo a dar na procura de uma vida adulta equilibrada e estável. “De um momento para o outro dou por mim a construir uma casa, a trabalhar oito horas por dia, a estudar a 65 quilómetros do meu trabalho, e a organizar o casamento. Todos os dias chegava a casa às 01h30 e saía de casa às 07h00 para trabalhar. O último ano da licenciatura foi muito pesado. Quando chegou a altura de ir para exames estava um farrapo e no último exame tive um grande ‘breakdown’, caí. Estava exausta e tive um esgotamento nervoso que me atirou três dias para a cama aos  24 anos”, relembra.

Esta foi a ponta do fio do novelo que haveria de desenrolar na década seguinte. Patrícia foi medicada com antidepressivos, uma prescrição que deveria ter sido pontual para três ou quatro meses mas que se arrastou durante os 10 anos seguintes. Pelo meio, somou duas depressões pós-parto. A carga de trabalho mantinha-se elevada e qualquer argumento se desenhava na desculpa perfeita para continuar a recorrer aos medicamentos. “Nada doía, estava tudo certo, não me cansava. Eu achava que tinha descoberto um segredo que ninguém sabia que era o de como levar uma vida altamente produtiva e manter-me ali à tona. Não sabia que não era feliz. Só não ia para o hotel de pijama porque não calhava. Tinha zero gosto por mim, zero auto-estima.  Nestes 10 anos fui fazendo devagarinho o mínimo e fui deixando que o universo me fosse dando o que era suposto. Continuava a manter a mesma carga de trabalho porque os antidepressivos diziam-me que eu conseguia”, conta assumindo que a pressão no trabalho alimentava a espiral. A época baixa no hotel, as obrigações salariais entre outros desafios laborais eram utilizados interiormente como argumentos para continuar a recorrer aos comprimidos.

 

Do pedido de ajuda à ‘doutora amor’

Mas há um dia em que tudo muda. “Aos 32 anos olhei para o espelho e vi uma velhota com 65. Aí consegui encarar o touro, percebi que não era maneira de viver”, recorda. A diretora hoteleira começou a confrontar-se e a perceber que tinha de procurar ajuda. “Na altura pensei: “Se o ponto alto do meu dia é chegar à noite à cama para dormir, o que é que ando a fazer da vida? Tinha duas filhas, marido, uma casa grande e cães e não me sentia feliz”, atesta. O pedido de socorro veio com a certeza de que o caminho ia mudar.

“No dia em que acordei pedi a ajuda de um terapeuta de medicinas alternativas, que era meu amigo. Disse-lhe que queria livrar-me da minha dependência. Ele disse para irmos retirando devagar. Eu num rasgo de coragem, disse ”10 anos depois não tenho esse direito, chega. Vou tirar já. vou limpar o meu organismo já” Tive tantas oportunidades para fazer desmames e havia sempre qualquer coisa. Larguei tudo. Tive uma semana sem falar e entao escrevi um blog porque precisava de comunicar mas não conseguia falar”, relata.

Este foi o início de uma profunda mudança interior. Mais tarde, aos 36 anos, uma bactéria no corpo atirou-a para uma cama de hospital e o elevado risco de morte fê-la colocar tudo em perspetiva. “Nessa altura pensei: Se eu morrer hoje, até hoje não fui feliz. Não consegui passar para as minhas filhas nada. Se eu não fui feliz, o que vim fazer ao mundo?”. Olhei para o céu e pedi que me enviasse um sinal e perguntei: ‘O que é que preciso de fazer para mudar a minha vida se conseguir sair desta cama?’ E um segundo depois entrou o pai das minhas filhas no quarto do hospital”.

Patrícia sobreviveu, divorciou-se e concretizou um grande sonho. Foi estudar hotelaria nos Estados Unidos. Mudou de trabalho e de vida. “Lutar pela minha felicidade não foi fácil. Implicou ir contra a minha família que não percebia e dizia que era só uma fase, mas foi algo que tive de fazer. Hoje sou infinitamente mais feliz”, assegura.

“Estive em serviços mínimos durante 10 anos. Hoje sou mesmo apaixonada pela minha profissão e gosto mesmo do que faço”, diz com orgulho.

Patrícia Correia assumiu a direção do algarvio Monte Santo Resort há mais de três anos e é conhecida como a ‘doutora amor’. A boa disposição, a empatia e a excelente relação com a equipa são uma imagem de marca. “Entrei no Monte Santo de armas e bagagens para revolucionar tudo. Hoje a equipa é muito unida. Traficamos abraços porque gostamos imenso uns dos outros. Dá-me uma pica valente terminar as reuniões de manhã ver as pessoas na máquina do café a rir, e isso é tao bom. Colaboradores felizes fazem clientes felizes e fazem-me feliz a mim também”, relata.

“Hoje não sou só diretora de hotel, sou a Patrícia. A minha alcunha é doutora amor. Os exemplos são a melhor maneira de inspirar os outros e como diretora de hotel é isso que faço muitas vezes. Eu sou a responsável por me motivar, não posso estar à espera de alguém. De colinho toda a gente gosta mas há coisas que só podemos fazer por nós mesmos. Só pede ajuda quem é muito forte e que nunca ninguém tenha medo de o fazer”, conclui.

 

 

 

 

Um comentário

  1. Sivia

    14 de Junho de 2021 at 11:59

    Eu gostaria de ser essa pessoa de sucesso financeiramente mas principalmente em estado de espírito …eu quero ter a sua força a sua vontade …keria ter dinheiro para comprar o seu livro mas de momento não posso…mas de alguma forma honesta vou te-li não sei como e quando só sei que vou …e quero pessoalmente agradecer a Patrícia Correia de me estar a transformar para melhor desde já …acabei de ler o seu depoimento e a ouvi-la no programa da Diana Chaves e João baião no programa da sic (hoje agora mesmo acabei de a ouvir dia 14/06/21…orgulho-me de si grande vitória e grande senhora …ela olhou no espelho e tudo mudou e eu a ouvi a si e entro tudo caiu a fixa …seu sorriso é alegria despertou-me para a vida até ao dia de hoje eu tenho subrevivendo …hoje agora eu digo eu quero viver eu quero ser feliz e tudo isso vou ter na minha vida amor próprio e amar a vida …um dia vou-te abraçar e agradecer …até lá digo (OBRIGADA Patricia um bj)

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