Opinião | Nem tudo está perdido

Por a 12 de Abril de 2021 as 10:51

Por esta altura, seria expectável que a hotelaria estivesse já a sentir os primeiros sinais de retoma. A verdade é que esta terceira  vaga pandémica veio trocar-nos as voltas, e adiar o início da recuperação que se esperava que fosse na Páscoa deste ano. Estamos  agora de olhos postos no Verão, e confiantes na vontade (quase necessidade!) que a população em geral tem de viajar, depois de  um ano que nos colocou à prova aos mais variados níveis.  

O mercado de investimento hoteleiro, como seria de esperar, foi também duramente impactado. Mas é curioso perceber que, apesar  da expectativa de arranque da recuperação se centrar mais nos destinos resort, as unidades hoteleiras com estas características, são aquelas que veem o seu preço mais afectado. Tal facto centra-se numa maior liquidez associada aos activos urbanos, os quais  em termos de potenciais usos alternativos – na iminência de o Turismo não recuperar da forma esperada – serem bastante mais  flexíveis. 

Na verdade, sentimos que a confiança no nosso destino se mantém e os investidores continuam activamente em busca de  oportunidades. Apesar de existirem os investidores oportunísticos tradicionais nestas fases do ciclo, temos também investidores  disponíveis a pagar um valor justo por activos core. De qualquer forma,,o que podemos dizer é que se verifica ainda um mismatch entre a oferta e a procura. Na realidade, apesar de se falar que existem muitos activos à venda no mercado, são tradicionalmente  

unidades independentes, de menor dimensão e em localizações secundárias, ou até mesmo projectos de desenvolvimento, mas este  não é o tipo de activos com maior procura – esta tem-se centrado em activos em operação, com localizações prime, e bons tenants.  A área de desenvolvimento de novas unidades hoteleiras tem vindo a enfrentar alguns constrangimentos, decorrente principalmente  da maior dificuldade na obtenção de financiamento, e também neste domínio se verifica a existência de algum produto no mercado. 

A dificuldade na obtenção de financiamento – mesmo para activos em operação – tem sido também uma pedra na engrenagem.  Embora os atuais mercados de financiamento na Europa para activos hoteleiros permaneçam mais caros do que antes do COVID,  começamos a assistir movimentações para níveis pré-COVID. Os activos hoteleiros são uma classe de activos com crescente  interesse por parte dos credores europeus, portanto, acreditamos firmemente que haverá um apoio contínuo e aprimorado da  comunidade de crédito europeia, embora haja uma mudança no foco para ativos de lazer versus activos de negócios (hotéis MICE).  Assim, para além do tradicional negócio de Sale & Leaseback que começa a ser equacionado por alguns players do sector para fazer  face à situação difícil que estamos a atravessar, a opção de uma análise de um possível refinanciamento poderá ser uma alternativa  para enfrentar os tempos difíceis que ainda estão para vir.

Karina Simões, Senior vice-president Portugal JLL Hotels & Hospitality Group.

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