Opinião | Nem tudo está perdido
Por esta altura, seria expectável que a hotelaria estivesse já a sentir os primeiros sinais de retoma. A verdade é que esta terceira vaga pandémica veio trocar-nos as voltas, e adiar o início da recuperação que se esperava que fosse na Páscoa deste ano. Estamos agora de olhos postos no Verão, e confiantes na vontade (quase necessidade!) que a população em geral tem de viajar, depois de um ano que nos colocou à prova aos mais variados níveis.
O mercado de investimento hoteleiro, como seria de esperar, foi também duramente impactado. Mas é curioso perceber que, apesar da expectativa de arranque da recuperação se centrar mais nos destinos resort, as unidades hoteleiras com estas características, são aquelas que veem o seu preço mais afectado. Tal facto centra-se numa maior liquidez associada aos activos urbanos, os quais em termos de potenciais usos alternativos – na iminência de o Turismo não recuperar da forma esperada – serem bastante mais flexíveis.
Na verdade, sentimos que a confiança no nosso destino se mantém e os investidores continuam activamente em busca de oportunidades. Apesar de existirem os investidores oportunísticos tradicionais nestas fases do ciclo, temos também investidores disponíveis a pagar um valor justo por activos core. De qualquer forma,,o que podemos dizer é que se verifica ainda um mismatch entre a oferta e a procura. Na realidade, apesar de se falar que existem muitos activos à venda no mercado, são tradicionalmente
unidades independentes, de menor dimensão e em localizações secundárias, ou até mesmo projectos de desenvolvimento, mas este não é o tipo de activos com maior procura – esta tem-se centrado em activos em operação, com localizações prime, e bons tenants. A área de desenvolvimento de novas unidades hoteleiras tem vindo a enfrentar alguns constrangimentos, decorrente principalmente da maior dificuldade na obtenção de financiamento, e também neste domínio se verifica a existência de algum produto no mercado.
A dificuldade na obtenção de financiamento – mesmo para activos em operação – tem sido também uma pedra na engrenagem. Embora os atuais mercados de financiamento na Europa para activos hoteleiros permaneçam mais caros do que antes do COVID, começamos a assistir movimentações para níveis pré-COVID. Os activos hoteleiros são uma classe de activos com crescente interesse por parte dos credores europeus, portanto, acreditamos firmemente que haverá um apoio contínuo e aprimorado da comunidade de crédito europeia, embora haja uma mudança no foco para ativos de lazer versus activos de negócios (hotéis MICE). Assim, para além do tradicional negócio de Sale & Leaseback que começa a ser equacionado por alguns players do sector para fazer face à situação difícil que estamos a atravessar, a opção de uma análise de um possível refinanciamento poderá ser uma alternativa para enfrentar os tempos difíceis que ainda estão para vir.
Karina Simões, Senior vice-president Portugal JLL Hotels & Hospitality Group.