Opinião | Tech über alles

Por a 26 de Março de 2021 as 9:33

A entrada da Amazon no setor do turismo com o Amazon Explore é algo que devemos analisar com detalhe e, se possível, com o mínimo de preconceito.

A COVID-19 travou a economia global infligindo elevadas quebras no setor do turismo. As restrições à circulação, tanto entre como dentro dos países, aliadas ao confinamento, retiraram-nos o nosso escape de viajar para outras paragens com o objetivo de recarregar baterias e gozar umas merecidas férias da rotina.

Tal como o tele-trabalho, a possibilidade de utilizar o computador para eliminar a distância entre a nossa casa e o escritório, o “tele-turismo” propõe-se como a opção para fazer férias sem sair, fisicamente, de casa. Num mundo pré-COVID onde a experiência física era rainha, a realidade aumentada e a realidade virtual permitiam que a agência de viagens, o hotel ou o museu nos presenteassem com um aperitivo visual daquilo com que nos poderíamos deleitar caso “apanhássemos” o avião ou o comboio e fossemos ao local. Hoje, no mundo COVID, e especialmente durante momentos de lockdown mais apertados, não há físico, apenas virtual.

Da mesma forma que aulas online não substituem a experiência de estar in situ na escola com colegas e professores, o erro está na forma como colocamos a questão. Não se trata de “substituir” mas sim de ter aquilo que é possível e que, ao mesmo tempo, permita uma experiência ou satisfação dentro de uma gama tolerável.

Conhecer uma nova cultura, desde interagir com as gentes a provar a culinária, de visitar os templos a conhecer a história, é uma experiência que se pode descrever como sendo bastante analógica, pura e próxima dos nossos sentidos mais primitivos. Mas com em tudo ao longo das últimas décadas, a tecnologia tem deixado a sua marca. Marca essa que não só tem tido impactos positivos ou negativos, o que é bastante intuitivo, como também mistos, em função de quem é impactado, como ainda vemos, por todo o mundo, na discussão sobre as plataformas de transporte de passageiros (TVDE).

Os players no setor turístico serão impactados de forma diferente, dependendo também da sua capacidade de adaptação. Uma empresa de animação turística pode utilizar o marketplace da Amazon para vender passeios virtuais pelas mesmas cidades onde promove passeios a pé. Ou outras. Um hotel pode também colocar nesse ou noutro marketplace digital um passeio de 360 graus pela sua suite mais exclusiva meramente para promoção da sua marca, procurando com isso trazer visitantes para o hotel físico e que ficarão naturalmente em quartos mais baratos.

Todavia, não creio que deixemos de viajar (num futuro próximo) por causa da Amazon Explore ou de outras opções virtuais, mas claramente o leque de opções acabou de se tornar irreversivelmente diferente. E mesmo num mundo pós-COVID, que ainda não sabemos quando chegará, o que fazer com os desafios do turismo sustentável e das alterações climáticas? Serão estas novas bolsas de ar para o turismo virtual?

Miguel Alves Agostinho, diretor executivo da APFM e Board Member da EuroFM

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