O adulto líder… a maior (des)ilusão das empresas

Por a 18 de Novembro de 2020 as 14:23

Chegamos ao estado adulto, meramente por via do envelhecimento, qual fronteira do tempo que controla e carimba a (suposta) maturidade. A este estado é associado um conjunto de pressupostos, proporcional aos desafios que deles advêm. Acresce o facto de existir um conjunto adicional de expectativas associado à posição de líder.

Vamos somando pressupostos e expectativas. Aproximamo-nos da ilusão e da frustração. Não percebemos o quão distantes estamos da realidade. Existe uma dupla lacuna, porque aprendemos a ser adultos, com outros adultos e não aprendemos a ser líderes, porque somos adultos. E assim se perpetua a ilusão.

A análise transacional é uma das mais brilhantes ferramentas da psicologia que Eric Berne nos trouxe, permitindo distinguir três estados de ego, com que o líder responde aos estímulos, através da leitura dos padrões de comunicação e comportamento.

Eric Berne define ego como “um sistema de emoções e pensamentos acompanhado por um conjunto de padrões de conduta”. No estado de ego de pai (ou mãe no caso das líderes), as reações aos estímulos são em função
da vida aprendida, modelando e perpetuando os comportamentos e frases dos pais ou cuidadores.

Existem como extremos dominantes, os modelos controlador e protector. No estado de ego criança, em função da vida sentida, as reações são reflexo da infância. Nos extremos surgem a submissão ou egocentrismo, como espelho dos convites dos interlocutores, respetivamente o domínio ou complacência.

No estado de ego adulto existem respostas pensadas, em função da capacidade de processar a informação, analisar e experimentar. Uma conceção de vida refletida. Este modelo funcional permite ao adulto maximizar relações e negócios, quebrando padrões de comportamento, analisando os seus pensamentos, modificando a narrativa em função do interlocutor, resolvendo problemas em função da experiência, encorajando a equipa, arriscando a confiança em cada interação.

Todos podemos mudar a perspetiva e contribuir para um estado adulto mais pensado, influenciando a mudança de mentalidades, trazendo modelos de desenvolvimento e aprendizagem ajustados às reais necessidades desta dupla transição. Para aprendermos a ser adultos, temos que nos desformatar, limpar o “disco rígido” e ter a capacidade de flexibilizar a imagem do que significa ser adulto.

Esta transição não acontece simplesmente porque fazemos anos, nem porque saímos de casa ou porque passamos a ter um emprego. O professor Peter Jones, da Universidade de Cambridge, defende que “chegar à maioridade é uma transição muito mais subtil do que se julga”, que “ocorre ao longo de três décadas”. Todas as pessoas passam por mudanças no cérebro até aos 30 anos.

Agora que todos sabemos mais, nesta fase de reinvenção, por onde devemos mesmo começar? Pelo adulto ou pelo líder? A nossa maturidade é nossa responsabilidade!

Cristina Madeira, Specialist on Human Capital Development e ICF Certified Executive Coach & Team Coach.

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