“Projetos com a dimensão do The Oitavos não sobrevivem exclusivamente com o mercado nacional”

Por a 2 de Outubro de 2020 as 11:03

Foi em setembro de 2010 que o hotel The Oitavos abriu portas no coração do Parque Natural Sintra-Cascais. Inserido num complexo de 168 hectares, a unidade tem sido escolha assídua para o segmento de MICE, que tem já um peso de 50% na operação do hotel. Os segmentos de lazer e golfe disputam a outra metade, com uma representação de 30% e 20%, respetivamente. França, Alemanha, Espanha, Portugal, Suíça, Inglaterra, Bélgica e Holanda são os países que compõem a lista dos principais mercados hospedados no cinco estrelas.

Os últimos três anos assumiram-se de excelência para o grupo e 2019 subiu ao pódio da última década arrebatando a medalha de ouro do ano com mais receitas e ‘room nights’, com uma taxa de ocupação média de 56%. Em fevereiro deste ano, havia já um crescimento de 8% face ao período homólogo, o que fazia antever um 2020 agitado. “Hoje, a 31 de agosto, com o mês fechado há sete dias, estamos com uma quebra de 74% no número de noites face ao ano passado. O rombo é gigantesco. Pode dizer-se que este é um ano perdido, o balanço geral é dramático do ponto de vista de receitas da operação do hotel e do golfe. O balanço não é muito animador e tudo o que acontecer daqui e até ao final do ano vai ser curto”, lamenta Miguel Montez Champalimaud, diretor-geral do The Oitavos.

A pandemia da COVID-19 que tem assolado o mundo obrigou ao fecho de portas a 22 de março e a reabertura fez-se a 16 de julho. No primeiro mês de operação a ocupação, feita essencialmente de portugueses, espanhóis e suíços, situou-se nos 39%, indicador que deverá ser inferior em setembro. “Não nos esperam coisas boas, sabemos que vamos ter dificuldade até ao final do ano para manter o hotel ocupado e com clientes. Vamos ver o que acontece nos próximos dias”, acrescenta o responsável.

Apesar dos meses desafiantes, o diretor explica que não foi necessário avançar com despedimentos, tendo mantido a equipa de 120 colaboradores, que estiveram em ‘lay-off’ simplificado, uma das medidas de apoio às empresas a que o grupo recorreu, a par com os incentivos à retoma da atividade
Apesar das nuvens que pairam no ar, o empresário acredita que a recuperação irá arrancar já entre março e abril de 2021, embora admita que vão ser necessários quatro a cinco anos para o setor igualar os valores de 2019. “A recuperação de ‘room nights’ vai acontecer a partir do primeiro trimestre de 2021. Até lá, temos de nos aguentar, consumir pouco, gastar pouco e dividir esforços. Os colaboradores também são parte chamada neste processo. Houve componentes de prémios que tiveram de ser suspensas”, revela.

Estratégia e flexibilidade são palavras de ordem no futuro
O segmento de MICE foi, na ótica do diretor, o mais afetado e será o que mais tempo vai demorar a recuperar. Vários foram os eventos adiados e cancelados no The Oitavos para o próximo ano mas, ainda assim, até ao final de 2020 há iniciativas que se mantêm. “A estratégia base da empresa não alterou para trabalhar os três segmentos. Acreditamos que o turismo vai continuar a ser um dos principais pilares da economia portuguesa e vai continuar a fazer-se turismo no mundo inteiro. Pode demorar mas sou positivo e acredito que as coisas vão voltar ao normal”, analisa Miguel Montez Champalimaud que define já os próximos passos para 2021. “Os objetivos para o próximo ano serão a aposta no mercado nacional e nos mercados de proximidade como Espanha e França. Projetos com a dimensão do The Oitavos não sobrevivem exclusivamente com o mercado nacional. A estratégia não muda significativamente, vamos continuar a apostar no segmento médio/alto e isso é para continuar.”, aponta.

A flexibilidade é também um conceito que tem de estar em cima da mesa, segundo o empresário, uma vez que é preciso acompanhar os receios dos hóspedes que cada vez mais fazem reservas em cima da hora e é preciso, também, dar garantias de cancelamento para imprimir confiança.

Sobre o panorama geral, na praça hoteleira nacional, o diretor acredita que as unidades de segmentos mais altos não serão tão beliscadas e, ao contrário da última crise económica, não vislumbra um elevado número de encerramentos de hotéis. “Não me parece que vá haver muitos hotéis a fechar, principalmente no segmento médio alto. Talvez o segmento médio baixo sofra mais com a falta de clientes. A maioria dos clientes chegam a Portugal por via aérea e com as rotas reduzidas, os voos ficam mais caros”, antevê.

Sustentabilidade
A unidade, gerida pela família Champalimaud, abriu portas em 2010, quase um século depois de Carlos Montez Champalimaud ter comprado a Quinta da Marinha com o intuito de a converter numa área residencial e de turismo de luxo. O respeito pela natureza sempre foi um pilar desde a primeira geração. Ao médico-cirurgião e empresário coube também a função de plantar o pinhal da Quinta da Marinha bem como fixar as areias, num projeto de urbanização celebrado com a Câmara de Cascais.

Leia também: The Oitavos Celebra 10º Aniversário

Também por isso, o The Oitavos nasceu sob este compromisso. Cá fora, no espaço envolvente, a natureza cresce livremente, de forma desordeira, e sem intervenção humana. Lá dentro, há várias políticas sustentáveis que se impõem. Desde logo, no campo da energia, a unidade tem, no total, 1381 painéis fotovoltaicos que produzem 570kw/hora por ano. Está ainda a ser estudada uma solar térmica que irá acrescentar mais 90 painéis. As águas sanitárias e a piscina são aquecidas de forma sustentável através de um mecanismo que reaproveita o calor dos ares-condiconados.

O uso de plástico foi abolido há dois anos e é feita uma sensibilização junto dos hóspedes para a mudança de roupa de cama que é trocada a cada dois dias, excepto se o cliente solicitar o contrário.

A preocupação estende-se ao campo de golfe que tem uma espécie de relva, a bermuda, que não necessita de um elevado consumo de água. Também em redor não há intervenção de jardineiros. “A ideia do meu bisavó quando colocou os projetos em andamento era a de não estragar aquilo que cá estava e garantir que o meio ambiente seria uma parte forte dos projetos”, conclui Miguel Montez Champalimaud. h

Deixe aqui o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *