Opinião | As Ilhas da Madeira e Porto Santo – (Des)vantagem competitiva?

Por a 10 de Agosto de 2020 as 14:26

Por Bruno Martins, diretor-geral do Vila Baleira Resort em Porto Santo

Parece uma eternidade desde que a 15 de março assistimos ao repatriamento de todos os dinamarqueses instalados no Vila Baleira e ao fecho do hotel. Longe de imaginar que tudo iria parar de forma tão violenta e inesperada, seguiu-se um período de confinamento e fecho total dos portos e aeroportos madeirenses. Medidas que permitiram à região chegar a abril com desempenhos de controlo sanitário reconhecidos. Sentia-se segurança e via-se um País em alta na gestão da pandemia. Sonhava-se com a retoma ligeira no Verão.

O selo Clean & Safe ajudou a promover o desempenho de Portugal e a Região inicia um projeto de certificação do destino. Mas desperdiçamos a oportunidade ao não garantir a criação de corredores seguros para aproveitar a boa reputação de Portugal e capitalizar a nossa importância para o Turismo no panorama internacional.

Até que em junho surge o surto em Lisboa. O aumento das restrições das viagens para Portugal abala a operação e estratégia para um Verão que já estava a ser difícil, sobretudo com os cancelamentos de operações oriundas do estrangeiro.

E aqui perdemos mais um momento-chave. Quando muitos países apelavam ao turismo interno, demorámos em concentrar as atenções, o foco, o investimento de tempo e recursos possíveis nas regiões nacionais e a assegurar os corredores seguros para a Madeira.

Portugal era dos países mais seguros do Mundo e os arquipélagos, com raros casos de infeção, eram ouro para abrir brechas em alguns mercados emissores e preparar o “novo normal”.

A Madeira passa a desconfinar lentamente e a obrigar a quarentena à chegada, com abertura gradual. Preparava-se a abertura total para julho exigindo testes à chegada. Novo erro. Benéficos para controlar a pandemia, estes testes eram um obstáculo na venda de viagens pois para a maioria dos turistas era um risco poder ter de ficar em quarentena no destino. A solução surgiu com a introdução dos seguros adaptados à Covid, com o reembolso em caso de teste positivo nas 72 horas antes da partida. Uma boa solução, mas não a que todos desejavam e deveria ter sido promovida pela (des)União Europeia: os testes na origem.

Os arquipélagos introduzem um conjunto de locais para a realização de testes à partida, gratuitos. Hoje os passageiros que realizam testes na origem para Porto Santo situam-se nos 95%. A oferta de mais locais para a sua realização, mais os seguros, criou uma solução de segurança para quem tem disponibilidade para viajar do continente.
A vaga de cancelamentos originada pela falta de soluções e boa comunicação foram substituídos por uma nova forma de vender viagens para a Madeira e Porto Santo. Que começa a dar frutos de forma muito tímida.
O cliente cauteloso já está presente no dia a dia. Não existem muitos destinos tão seguros como o nosso arquipélago. O mote lançado pela Associação da Madeira, “Safe to Discover”, é conhecer esta realidade, com simplicidade e de forma sofisticada.

O momento atual é de comunicação. De informar, sensibilizar, convencer, convidar à descoberta de um arquipélago que mantém procedimentos e práticas tanto na origem como à chegada. Mas é ou não é um fator competitivo?
A chave para tornar este caminho possível é manter por um lado o controlo sanitário apertado e por outro vender algo que será nos próximos tempos o fator principal para decisão de férias: segurança.

Foi nesta perspetiva que os Hotéis Vila Baleira foram o primeiro grupo a oferecer a todos os hóspedes o teste gratuito na origem e o seguro Covid-19. A força da simplicidade da mensagem já demonstrou que a solução terá futuro, pois o novo cliente racional e cauteloso assim o deseja. O grande desafio é abrir fronteiras com esta medida e explorar os mercados emissores. E convencer quem gostaria e tem disponibilidade para viajar, até ultrapassarmos esta pandemia. Esta irá ser a nossa vantagem competitiva.

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