Acreditar em nós, acreditar em Portugal

Por a 6 de Maio de 2020 as 11:03

Este não é um artigo fácil de escrever, uma vez que o turismo a nível global chegou a um impasse. Todos esperávamos um declínio económico nos próximos 12 meses, mas nenhum de nós, nem mesmo Warren Buffet, contava com este choque para o mercado. Por isso, por favor, não se sintam mal e nem se culpem, por não estarem preparados para uma crise como esta, todos nós trabalhámos para o crescimento do turismo em Portugal e para a dinamização da nossa economia com o mesmo empenho de anos anteriores.

Estávamos ocupados, geríamos hotéis maravilhosos, restaurantes incríveis e proporcionávamos às pessoas de todo o mundo, momentos inesquecíveis. Muitos planeavam novos hotéis – incluindo eu próprio – renovações e modernizações de edifícios históricos e, claro, projetávamos novas experiências para os hóspedes, no nosso maravilhoso país. Infelizmente, tudo se desmoronou e parece tão injusto, porque desta vez, fizemos tudo, de uma forma responsável. Tínhamos menos dívidas, estávamos a construir produtos de classe mundial, estávamos a treinar e a investir mais nas pessoas, mas agora está tudo a falhar.

Para lhe dizer a verdade, não se sinta só, pois todos, incluindo eu, que investi no turismo, estamos na mesma situação. Pessoalmente, esperava continuar a investir por muitos mais anos, antes de começar a colher as recompensas, mas tal não vai acontecer, porque muitos dos meus investimentos estão num impasse. De um momento para o outro a minha mentalidade e a forma de pensar financeiramente fizeram uma inversão de marcha, dando agora prioridade à sobrevivência e depois questionar-me sobre: – o que fazer agora? Ninguém te vai censurar se fizeres o mesmo. O mercado mudou, e estamos todos às escuras, à espera de ajuda para simplesmente sobreviver. Tudo o que lemos refere-se a um cenário de apocalipse para turismo, hotéis, restaurantes, reservas, viagens e eventos, todos em queda ou muito perto disso.

Temos de abandonar este estado de pessimismo e ser realistas, sem nunca esquecer o otimismo– por mais difícil que pareça. Sim, alguns dos nossos negócios vão fechar, alguns dos nossos sonhos não se vão concretizar e alguns dos nossos pesadelos passarão em breve a ser reais – piores do que imaginamos. A verdade é que provavelmente vai piorar e durar mais tempo do que contávamos. Por isso, habituem-se a mais más notícias, à medida que os operadores de viagens, companhias aéreas, fornecedores e clientes fecham. Muitas pessoas perderão os seus empregos e os impostos vão aumentar, fazendo com que seja ainda mais difícil sobreviver. As viagens ficarão mais caras e complicadas, uma vez que estamos agora a combater, não só a permanente ameaça do terrorismo, mas também a doença, dos nossos aeroportos e fronteiras. Podemos chegar ao ponto de recusar a entrada de pessoas oriundas de determinados países e por outro lado, não permitir viagens para alguns destinos. Uma coisa é certa, o mundo tal qual o conhecemos deixará de existir. Tudo está prestes a mudar. Até as “ameaças” aos nossos negócios poderão surgir de onde menos esperamos e contamos.

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É aqui que acredito que Portugal e os portugueses têm uma enorme vantagem neste novo mundo. Somos pessoas destemidas e corajosas; temos um país bonito e acolhedor que poderá atrair o mundo, mais rápido do que muitas outras regiões. O povo português vai apoiar o seu

mercado interno ao viajar, explorar, gastando localmente antes de o fazer globalmente. Temos uma autoridade de Turismo forte que construiu e projetou bem a marca “Portugal”, os nossos vinhos, comida, ondas, sol, paisagens e, acima de tudo, as pessoas continuam a existir e continuam prontas para partilhar Portugal com o mundo. Sim, precisamos de ajuda, mas os portugueses já passaram por tempos difíceis e também são incríveis em ajudar-se a si mesmos e surpreender o mundo com a sua inovação e desenvoltura.

É isto que temos de fazer – cada cidadão português – terá de tornar num embaixador da marca Portugal – e assim que for permitido sair das nossas casas, não vamos deixar escapar para outros países, os nossos jovens talentos e pessoal qualificado. Temos de lhes proporcionar oportunidades rapidamente, para que possam trabalhar e construir um futuro melhor e mais inclusivo. Precisamos que os investidores acreditem em nós, o Governo nos apoie com verdadeiros incentivos e serviços financeiros para refinanciar e dar-nos a oportunidade de crescer de novo ou mesmo de recomeçar. Precisamos que os portugueses acreditem primeiro e só assim, podem fazer com que o Mundo volte a querer visitar e viver em Portugal. Não queremos perder tempo com a culpa, mas sim construir confiança. Não queremos odiar, mas sim mostrar amor. Não queremos separação, mas sim construir pontes e amizades juntos.

Acredito que Portugal, depois desta crise, terá uma vantagem inacreditável em relação ao resto do mundo, com base nas nossas experiências e vontade de ter sucesso. Cabe-nos a nós aproveitar esta vantagem e criar a nossa própria história e não nos queixarmos de como foi ou como poderia ter sido. Peço a todos que compreendam o propósito da unidade e que construamos o sector do turismo em conjunto. Seremos melhores e mais fortes do que nunca. Não perca esta oportunidade, ela não vai esperar por ninguém, mas pode incluir todos.

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Versão em inglês

This is not an easy article to write as tourism globally has come to a standstill. We were all expecting an economic decline in the next 12 months but none of us, not even Warren Buffet, expected this shock to the market. So, please don’t feel bad or blame yourself about not being ready for such a crisis as we were all playing our roles in growing tourism in Portugal and driving our economy as we had done in previous years.

We were busy, running wonderful hotels, amazing restaurants and providing people from around the world with unforgettable experiences. Many were planning new hotels – including myself – revamps and modernisation to historical buildings and of course working on new experiences for guests in our wonderful country. It has unfortunately all come crashing down and it seems so unfair because we were doing it responsibly this time around. We had less debt, we were building world class products, we were training and investing more in people, yet it’s all failing apart now.

To tell you the truth, don’t feel alone, as everyone including myself who invested in tourism is in the same situation. Personally, I was hoping to keep investing for many more years before beginning to reap the rewards but it’s not to be as many of my investments come to a halt. In one quick moment my finances and mindset has had to do a U-turn and I must firstly think of survival and then ask myself what now? Nobody will begrudge you if you do the same. The market has changed, and we are all in the dark, expecting assistance to simply survive. Everything we read refers to a doomsday scenario for tourism, hotels, restaurants, bookings, travel and events, which are all going under or about too.

We will need to snap out of this negativity soon and become realistic fast but it’s also important that we have a sense of optimism whilst all this is taking place – difficult as it may seem. Yes, some of our businesses will close, some of us won’t build our dreams and some of us will go through more nightmares soon – worse than we imagined. The truth is, it’s probably going to get worse and last longer than we are currently expecting. So, get used to more bad news as travel operators, airlines, suppliers and clients close. Many people will lose their jobs and taxes will be increased making it even more difficult to survive. Travel will become more expensive and more complicated as we are now not only fighting the ever-existing threat from terrorism but also disease at our airports and borders. We might not even want people to visit from certain countries or we might not want to visit certain countries and the way we knew the world will no longer be the world we know today. Everything is about to change. Threats to our businesses will appear from places that we least expect and when we least expect to.

This is where I believe Portugal and the Portuguese have a huge advantage in this new world. We are brave and courageous people; we have a beautiful and welcoming country which could attract the world faster than many other regions. The Portuguese people will support their local market by travelling, exploring and spending locally before doing so globally. We have a strong tourism
board that has built a solid brand “Portugal”, our wines, food, waves, sun, scenery and most importantly people are still here and ready to share Portugal with the world. Yes, we need help, but the Portuguese have been through hard times before and are also amazing at helping themselves and surprising the world with their innovation and resourcefulness.

This is what we must do – each and every Portuguese citizen – be a brand ambassador for Portugal – as soon as we can get out of our homes because we don’t want to lose our young talent and vastly experienced staff to other countries. We must provide them opportunities quickly so that they can get working and build a better and more inclusive future. We need investors to believe in us, the Government to support us with real incentives and financial services to refinance and give us an opportunity to grow again or even start again. We need the Portuguese to believe first as only then will the world believe and come back to visit or live in Portugal. We don’t want to waste time with blame but rather build trust. We don’t want to hate but rather show love. We don’t want separation but rather build bridges and friendships together.

I believe that Portugal after this crisis will have an unbelievable advantage to the rest of the world based on our experiences and will to succeed. It’s up to us to take advantage of this advantage and create our own story and not complain about how it was or should be. I ask you all to understand the purpose of unity and for us to build the tourism sector together. We will be better and stronger than ever. Don’t miss this opportunity as it won’t wait for anyone but can include everyone.

*Tim Vieira, investidor
** Artigo publicado na edição de abril da revista Publituris Hotelaria

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