Da promoção à gestão dos preços. Cinco temas a considerar na retoma da atividade no Algarve

Por a 20 de Abril de 2020 as 16:18
AHETA

Promoção, transporte aéreo, apoio às empresas, medidas de incentivo à retoma e imprevisibilidade quanto ao comportamento dos mercados foram temas debatidos na web conferência “Algarve: Preparar o Futuro”, organizada pelo Publituris na passada sexta-feira, dia 17, com o apoio do Turismo do Algarve, e que contou com a participação de João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve, Alberto Mota Borges, diretor do Aeroporto Internacional de Faro, Pedro Lopes, administrador do Grupo Pestana para o Algarve, e Luís Correia da Silva, presidente do Conselho Nacional da Indústria Nacional do Golfe (CNIG).

Como deverá ser feita a promoção?
A recolha de informação sobre os mercados internacionais é, nesta fase, o melhor instrumento para adequar a promoção que será necessária na retoma da atividade turística do Algarve. É nisso que o Turismo do Algarve está a trabalhar com parceiros, como o Aeroporto de Faro e os associados da Associação Turismo do Algarve (ATA), mas também com o Turismo de Portugal e com as suas redes externas para a definição de onde devem ser alocados recursos, garante João Fernandes. O objetivo, afirma, é “acertar quer nos canais certos, quer nos mercados certos, e no timing adequado”.

O presidente da ATA fala também da necessidade de ter ações concretas e visíveis que ajudem os consumidores a ter uma “perceção de segurança”, mesmo antes de chegarem ao destino.

Ainda com muitas questões que não conseguem para já ter resposta, nomeadamente quanto ao período de retoma da atividade em Portugal e nos mercados externos, os instrumentos de promoção já definidos para este ano aguardam o timing certo para avançar.

É o caso dos Planos de Comercialização e Venda que as ARPT’s desenvolvem com seus associados. “Há muitas empresas que já tinham definido os seus planos para este ano e que os interromperam, e bem, para perceberem melhor qual é a evolução dos diferente mercados e onde devem fazer as suas apostas. A precipitação na realização de ações muito concretas já definidas quando o mercado é muito incerto pode ser um desperdício de recursos”, considera João Fernandes. “O que esperamos é que a partir de junho retome a atividade, sobretudo baseada no mercado interno e no mercado interno alargado, e que no último trimestre haja uma retoma do mercado internacional, mas isso é uma expetativa que depende de um conjunto muito vasto de fatores”, defende.

Em relação às campanhas internacionais com companhias aéreas e com operadores, a ATA mantém contacto com parceiros e está a acompanhar a situação. “Temos vários outros instrumentos, além do Vip.pt para a realização de campanhas”, afirma o responsável. É o caso do Plano Especial de Promoção (de reforço sazonal) que foi acordado com as empresas e que foi interrompido por esta pandemia, mas que continua contratualizado. “É um dos ativos que temos para colocar imediatamente em ação essa relação com os operadores e companhias aéreas.”

Eliminação de taxas e portagens?
Foi um dos pontos sugeridos por quem assistiu à web conferência. O Turismo do Algarve enviou recentemente uma comunicação aos presidentes das câmaras municipais com o intuito de sensibilizar quanto às taxas turísticas. “Explicámos que este período é especialmente sensível e que a retoma se faria com fatores de competitividade e que a suspensão destas taxas seria uma boa prática”, refere João Fernandes. A resposta chegou com um comunicado da Associação de Municípios do Algarve “exatamente nesse sentido”. “Penso que temos também aqui um acompanhamento dos autarcas da consciência que todos os fatores que aumentarem a competitividade são importantes”.

Quanto à eliminação portagens, João Fernandes reconhece que, “havendo condições para isentar de portagens, não só a Via do Infante, mas também o acesso à região, isso seria muitíssimo bom. Não sei se teremos condições para esse efeito. Não acredito que aconteça, muito menos apenas centrada nos cidadãos nacionais, até porque viola as leis da concorrência europeia”.

No entanto, o responsável do Turismo do Algarve refere outros exemplos de redução de custos para as empresas, nomeadamente para as empresas marítimo-turísticas, no que diz respeito aos valores de concessão com a doca pesca. Já em relação às câmaras municipais, o responsável sugere alguns encargos que relacionados com a gestão de resíduos sólidos e água. “Há um conjunto de custos de contexto que são elevados para as empresas e que deverão ser reequacionados e há várias autarquias que estão a perspetivar estas medidas”.

Nova vaga de apoio à retoma
Para fazer face às consequências imediatas da pandemia na economia, o Governo lançou um pacote de medidas que atendem, sobretudo, às dificuldades de tesouraria e à proteção do emprego. Mas a essas medidas terão de ser adicionadas outras de apoio à retoma. Na opinião de João Fernandes, “teremos de ter medidas para, passado este período, haver um apoio para a retoma. As medidas que temos agora têm uma natureza de sobrevivência”, considera.

A opinião de Luís Correia da Silva vai no mesmo sentido. Apesar de considerar fundamental a existência de um programa de incentivo para que os turistas venham ao Algarve, o presidente do CNIG alerta: “Estaremos sempre condicionados nesse programa pelos timings e em relação à disponibilidades das companhias aéreas”. “As empresas têm de ser ajudadas. Essa ajuda não pode ser apenas em termos de aumento de investimento de promoção e marketing, mas também vai ter de se encontrar um outro quadro de apoios ao funcionamento e à operação para fazer com que as empresas se aguentem nos próximos 3, 6 e oito meses. A última coisa que desejaríamos é que quando todos os turistas estrangeiros estivessem disponíveis para vir para cá e metade das empresas não tivessem condições para funcionar”.

Gestão de preços e estratégias criativas
Baixar os preços levará a um período de recuperação ainda mais alargado e será um retrocesso para o destino. Além do mais, as empresas terão menos receita e mais custos. A ideia é consensual entre os oradores.
“Foram feitos investimentos brutais nos últimos anos pelas empresas e pelas autarquias. Não devia ser possível neste momento abastardar os preços de forma a tornar isto uma situação em que perdermos mais cinco anos de preços para o Algarve”, refere Luís Correia da Silva. “Isto tem de ser visto como uma situação excecional. Os custos das empresas vão aumentar brutalmente e as receitas diminuir. E a última coisa que devemos fazer é diminuir preços substancialmente, porque então é que a sobrevivência das empresas não vai ser possível, atendendo aos custos que vão ter ao nível da operação”, defende.

O mesmo caminho é defendido pelo administrador do Grupo Pestana no Algarve, Pedro Lopes: “Nós, Grupo Pestana, se for necessário, abrimos menos unidades. É preferível ter menos unidades abertas, menos restaurantes abertos, mas a funcionar bem e aplicar preços justos. Andamos para trás e deixamos de ser o Algarve que somos hoje. Um destino de qualidade como o Algarve custa dinheiro.”

O destino vai ter de reinventar estratégias para conquistar turistas. Nesse sentido, João Fernandes recordou o exemplo de Pampilhosa da Serra que, após os incêndios, atribuiu um adicional ao subsídio de alimentação a quem fosse almoçar a um restaurante local. “Estivemos a ver essa medida, por exemplo, para o Algarve, não como uma retoma da procura, mas numa fase anterior para dar algum oxigénio às empresas, nomeadamente à restauração e ajudar desse forma à manutenção da sua atividade. Antes mesmo de termos procura de turistas, teríamos uma capacidade de consumo adicional. Estimámos o valor e é um valor relativamente baixo por autarquia e para a Função Pública. Temos de considerar que serão os consumidores menos abalados com toda esta crise, quer do ponto de vista do emprego, quer da remuneração”, afirma. Uma segunda medida, refere, poderia ser a atribuição de vouchers para experiências no destino para profissionais de saúde e outros profissionais que estiveram no combate à pandemia.

Transporte aéreo
Nesta fase, o Aeroporto Internacional de Faro está a trabalhar na implementação de medidas para a retoma da operação comercial. Medidas essas que passam, por exemplo, por “pequenas obras no sentido de dar segurança aos passageiros, a quem os assiste e a quem opera”, refere Alberto Mota Borges, diretor da infraestrutura. O responsável lembrou que o acionista da ANA Aeroportos de Portugal, a Vinci Airports, opera em 45 aeroportos em todo mundo e, como tal, “há um conjunto de medidas de sucesso, quer do ponto de vista logístico, quer do ponto de vista comercial que têm sido partilhadas entre o grupo e os responsáveis nas várias geografias”. Alberto Mota Borges sublinhou que “não vale ir muito rápido”, porque, “se tivermos uma partida falsa, as consequências serão muito mais danosas para o destino. Estamos otimistas e a implementar as medidas, mas é necessário implementá-las com segurança”.

O diretor do Aeroporto Internacional de Faro afirma que existe “uma participação ativa com a Associação Turismo do Algarve, com a Entidade Regional de Turismo e com o Turismo de Portugal, porque estamos totalmente empenhados em estar na linha da frente da retoma da atividade coordenados com as várias entidades”.

“O nosso compromisso e apoio é total para o desenvolvimento de sistemas de promoção do destino. O orçamento alocado para esta atividade [marketing] é significativo e, com certeza, este ano não haverá dificuldade em eventualmente fazê-lo crescer”, disse o responsável da infraestrutura aeroportuária do Algarve.

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