Corpo Santo Hotel: “Não vamos ter lay-off, temos resultados que nos permitem isso”

Por a 27 de Março de 2020 as 9:44
(à direita) Pedro Pinto, diretor Geral do Corpo Santo Lisbon Historical Hotel

Numa altura de incerteza para o setor hoteleiro, muitas são as unidades que, forçadas a encerrar devido à pandemia da COVID-19 ou beliscadas pela quebra na ocupação, anseiam pelos apoios do governo para fazer face aos constrangimentos na tesouraria. Fora da fila está o Corpo Santo  Lisbon Historical Hotel que garante que a estratégia implementada pela unidade tem sido estruturada e eficaz.

“Por opção da administração não vamos ter lay-off, temos resultados que nos permitem isso”, explica Pedro Pinto, diretor do  cinco estrelas lisboeta, referindo-se a uma das medidas anunciadas pelo Executivo de António Costa para amparar as empresas no pagamento de salários.

O diretor, que foi um dos convidados do primeiro webinar Quasetudo Talks , esta quinta-feira, 26, garante que o hotel começou a ”ponderar cenários mais negativos” há um mês e que foi procurando encontrar soluções atempadamente. Uma delas diz respeito aos 72 colaboradores, que se encontram atualmente de férias ou a recuperar o banco de horas, decisão que, assegura, foi discutida com os trabalhadores e aceite pela maioria. “Há cerca de um mês que andamos a falar disto e ver o que é que também as pessoas estão dispostas a fazer para ajudar as empresas. Durante um mês e meio, dois meses, estamos em manutenção e limpeza geral”, elucidou, acrescentando que este período está a ser aproveitado para fazer limpezas e inventários.

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Sobre as linhas de crédito já anunciadas para o setor, Pedro Pinto mostra-se cético. “Quando o dinheiro entrar nos bancos vai saindo a conta-gotas e nada garante que serão as melhores empresas a ter acesso aos créditos. Porque não são só as empresas que não têm dinheiro para pagar os ordenados que precisam de ajuda. No nosso caso, temos uma boa situação financeira mas que nos limita a participação noutras ajudas. Ficamos sem saber se o interessante é ter maus resultados financeiros para depois aceder a estas coisas”, aponta.

O hoteleiro mostra-se ainda reticente sobre a finalidade das ajudas do Estado . “Mais do que dar o dinheiro é saber se ele é bem empregue. Não só à saída do banco mas na entrada da empresa. Estou com serias dúvidas que este dinheiro vá chegar, não por ser pouco mas por não estar no sitio certo”, diz, deixando ainda uma crítica: “Abrimos revistas e jornais dos setor e vemos tantos milhões a serem faturados. Depois chega a um mês de ordenados e não há (dinheiro)”.

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Ainda sobre os apoios monetários, o diretor assegura que estes “nunca vão chegar nem em quantidade nem em dimensão” . “O dinheiro, por si só, não resolve isto. Não vai haver hospedes se não houver aviões”, vislumbra.

Cancelamentos de reservas: “Considero que é possível que a Booking venha a acabar e nunca na vida tinha pensado que isto fosse possível”

O Corpo Santo Lisbon Historical Hotel, inaugurado há cerca de três anos e cuja taxa de ocupação do ano passado foi de 95%, encontra-se aberto em atividades de manutenção mas não aceita reservas até dia 1 de junho. “Contactámos os clientes proativamente em meados de fevereiro. Em março, fechámos as vendas todas. Quem conseguiu antes que os clientes alterassem as reservas, fez um ótimo trabalho e, nesse aspeto, estivemos bem. Criámos uma politica de cancelamento que permitia a pessoa alterar até depois de um ano da reserva e nalguns casos, em época baixa, oferecemos uma noite extra de estadia”, explica Pedro Pinto que garante que este processo foi relativamente simples, devido ao facto de ter sido o próprio hotel a cancelar as reservas com antecedência.

“Quem não teve uma politica pensada, com uma certa estratégia e está agora, nesta altura do campeonato, a propor às pessoas alternativas, que estão a pensar se não morre ninguém da família, dos amigos ou no país. As pessoas têm mais que fazer do que aturar hoteleiros”, atira.

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Sobre o processo de cancelamento, que assolou a praça hoteleira nacional, o diretor reflete sobre a importância de se sensibilizar o cliente para a reserva direta e deixou duras críticas às plataformas como a Booking que “não resolve nada na hora da verdade”.  “A Booking e a Expedia resolveram fazer à moda antiga: enviar um email e depois os hotéis que se amanhem. Todos os hotéis foram inundados de emails, ninguém conseguia responder em tempo útil. As pessoas inundaram as redes sociais de comentários e gerou-se uma crise até tomarmos conta disso. Considero que é possível que a booking venha a acabar e nunca na vida tinha pensado que isto fosse possível, pensava que era daquelas empresas que eram imortais. Quem fez as reservas diretamente no hotel organizou-se melhor e mais rapidamente, conseguiu mudar a reserva ou receber o dinheiro, conseguiu ter um tratamento em condições e com a Booking não aconteceu nada disso, os chats ficaram bloqueados, eles não respondem a coisa nenhuma”, conta.

Sobre os próximos passos e a recuperação do setor, o diretor coloca as perspetivas em 2021.  “Os meses de abril e maio são difíceis de recuperar, são meses fortes. Vamos reformular orçamentos e perceber o que se pode fazer. Será que nos outros meses vamos conseguir compensar? Certamente que não. O mercado americano representa um terço  das nossas vendas e é difícil encontrar um mercado que compense essa diferença. O orçamento vai-nos passar ao lado. Este ano não há nada a pensar, foi-se, acabou… para o ano temos de pensar e vamos ter uma recuperação difícil”, conclui.

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