AHP: hotelaria nacional pode perder até 800M€ em receitas até junho

Por a 12 de Março de 2020 as 11:55

A Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) estima que a hotelaria nacional possa ficar penalizada com uma quebra de receitas de entre 500 milhões de euros a 800 milhões de euros até junho, devido aos efeitos do COVID-19 na operação do setor, revelou em conferência de imprensa esta quinta-feira, 12.

De acordo com um inquérito realizado aos seus associados, entre 3 e 9 de março foram já canceladas 346 497 noites, o que corresponde a uma percentagem de 30%. A manter-se o mesmo ritmo, a AHP estima que entre 1 de março e 30 de junho possam ser perdidas 4,4 milhões de noites, face ao ano passado (14,6 milhões de dormidas de mercado externo) o que se traduz numa perda de receitas de 500 milhões de euros para os hotéis. Num outro cenário, que a AHP admite ser o mais alinhado com a realidade, as quebras na ocupação podem chegar aos 50% resultando numa perda da 7,3 milhões de noites, no mesmo período, o que totaliza menos 800 milhões de euros para o setor.

Esta fatia engloba não só a diminuição da taxa de ocupação mas também todas as outras vertentes que engordam as receitas do hotel como os eventos, aluguer de salas, F&B entre outras atividades como spa e massagens. Na opinião de Cristina Siza Vieira, CEO da AHP, “a estimativa de perda de receitas é muito mais impactante do que a queda na ocupação”.

Despedimentos e lay-off

Os dados, que evoluem diariamente e que “têm de ser monitorizados com regularidade”, diz a AHP, perspetivam já um cenário menos positivo no setor e a diminuição da receita, que Raul Martins estima que seja de -20% no cômputo geral deste ano,  deverá impulsionar despedimentos no setor. Dos cerca de 100 mil trabalhadores que atualmente exercem funções na hotelaria nacional, cerca de 30 mil colaboradores, em regime de extras, deixarão de ser contratados, perspetiva o presidente da associação.

Saiba mais: O que fazer se houver um caso suspeito de COVID-19 no hotel?

Para fazer face a este constrangimento, Raul Martins diz ter pedido ao Governo o alargamento do período do regime do banco de horas individuais depois de outubro, altura em que este deverá cessar. “Foi um erro acabar com o banco de horas individual e se for extinto a partir de outubro será altamente prejudicial para o setor”, alerta.

Também o lay-off, já aplicado a outras empresas, poderá ser uma das “primeiras soluções” a adotar pelo setor, adianta o presidente que refere que, para já, estas são as duas premissas imediatas a colocar em prática pelos empresários de hotelaria e que a evolução do cenário fará com que sejam discutidas e adaptadas novas soluções.

Raul Martins adianta também que há hotéis no Algarve, cuja reabertura para a época de verão estava definida para o mês de março, que decidiram adiar o início da operação, esperando abrir portas em junho, de acordo com o desenvolvimento do cenário.

Lisboa e Norte lideram cancelamentos até março

No período do inquérito realizado pela AHP, aos seus 400 associados e que teve uma taxa de resposta de 56%, os hoteleiros da região de Lisboa e Norte do país foram os que se manifestaram mais afetados com os cancelamentos das reservas. Na capital, os mercados italiano, chinês, francês e britânico foram os que ocuparam a linha da frente na hora de cancelar. No Norte, os turistas que mais adiaram a estadia foram os nacionais, franceses, espanhóis e italianos.

No total, 71% dos hoteleiros, até 9 de março, admitem já estar a ter uma taxa superior de cancelamentos face ao período homólogo.

Procedimentos para os hoteleiros em caso de suspeita de infeção no hotel

Sobre os procedimentos a adotar pelos hotéis em caso de suspeita de contágio de COVID-19, o presidente da AHP diz que o recente esclarecimento da DGS é elucidativo e aplaude o facto de, contrariamente ao que já aconteceu noutros países, os hotéis nacionais não serem obrigados a cumprir a quarentena. “Quarentena é um erro e, quanto à AHP, ainda bem que não vai acontecer”, explicou, sublinhando o protocolo de isolar apenas o(s) caso(s) suspeitos, individualmente.

 

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