O Alojamento Local na estratégia do Turismo Nacional
Não há dúvida de que vamos entrar num período que vai exigir uma revisão do posicionamento dos operadores do alojamento turístico.
Primeiro, por uma questão simples de matemática e de princípios de mercado: a procura vai crescer num ritmo mais brando e a oferta já cresceu a um ritmo superior à procura. Isto, tanto no Alojamento Local como na Hotelaria. É altura do ajuste, o que não é necessariamente negativo.
Em segundo lugar, há uma mudança na expetativa do turista. Portugal já não é mais a última descoberta dos guias internacionais. É o destino de que todos falam e que ganha há anos os principais prémios internacionais. A expetativa de quem vem é alta. Acabou o efeito surpresa, e entramos na fase do “surpreenda-me”.
Seja pelo aumento da concorrência, seja pelo aumento das expetativas começa a haver pouco espaço para quem oferece só “camas”. Qual o caminho? O Turismo de Portugal, na Estratégia 2027, aponta algumas direções, mas numa ótica de estratégia de destino. Como cada operador individual se pode encaixar nesta visão, é sempre a parte mais difícil.
Há um ponto de convergência: a necessidade de focar num certo nicho. Só assim é possível conhecer melhor o cliente, personalizar o serviço, apresentar oferta complementar que faça sentido. Isto permite que o alojamento se aproxime mais da ideia de experiência completa. Nesta linha, como tendência, é provável que alguns operadores de maior dimensão se tornem empresas multifacetadas de turismo, adicionando à sua atividade de alojamento, a animação turística e eventualmente até agência de viagens.
E qual o papel que o Alojamento Local (AL) pode ter na estratégia de sustentabilidade?
Começa pela responsabilidade que ganhou. Muitas pessoas não sabem, mas o Alojamento Local deixou de ser uma oferta complementar para se tornar um pilar do Turismo. Já representa mais de 1/3 das dormidas no país e cerca de metade das dormidas em Lisboa e Porto.
Mas, o papel mais importante do AL reside na sua capacidade em ajudar a descentralizar o turismo, permitindo a dormida nas regiões mais remotas e menos tradicionais.
Ao contrário do que o debate mediático faz pensar, 70% do AL está fora de Lisboa e Porto. Alguns destinos que estão a crescer com oferta inovadora têm como base o AL. É o caso da Costa Vicentina, do interior da Madeira e ilhas dos Açores, do surf na Ericeira e Nazaré, do outro Algarve, fora do praia e sol, que inclui o centro histórico de Faro e a região da serra.
Além disto, o AL tem estada superior com médias de quatro noites, mesmo em Lisboa e isto incentiva a explorar mais opções fora do circuito tradicional. Depois, a própria proximidade do contato com os hóspedes permite uma promoção das experiências locais, incluindo o comércio de bairro.
Com esta vocação local que permite mostrar o único, o menos óbvio, o Alojamento Local pode tornar-se naturalmente num dos instrumentos do “surpreenda-me” e mostrar que para lá dos prémios ainda há muito mais Portugal.
*Eduardo Miranda, presidente da ALEP-Associação do Alojamento Local em Portugal.