O Alojamento Local na estratégia do Turismo Nacional

Por a 27 de Fevereiro de 2020 as 14:33

Não há dúvida de que vamos entrar num período que vai exigir uma revisão do posicionamento dos operadores do alojamento turístico.
Primeiro, por uma questão simples de matemática e de princípios de mercado: a procura vai crescer num ritmo mais brando e a oferta já cresceu a um ritmo superior à procura. Isto, tanto no Alojamento Local como na Hotelaria. É altura do ajuste, o que não é necessariamente negativo.

Em segundo lugar, há uma mudança na expetativa do turista. Portugal já não é mais a última descoberta dos guias internacionais. É o destino de que todos falam e que ganha há anos os principais prémios internacionais. A expetativa de quem vem é alta. Acabou o efeito surpresa, e entramos na fase do “surpreenda-me”.

Seja pelo aumento da concorrência, seja pelo aumento das expetativas começa a haver pouco espaço para quem oferece só “camas”. Qual o caminho? O Turismo de Portugal, na Estratégia 2027, aponta algumas direções, mas numa ótica de estratégia de destino. Como cada operador individual se pode encaixar nesta visão, é sempre a parte mais difícil.

Há um ponto de convergência: a necessidade de focar num certo nicho. Só assim é possível conhecer melhor o cliente, personalizar o serviço, apresentar oferta complementar que faça sentido. Isto permite que o alojamento se aproxime mais da ideia de experiência completa. Nesta linha, como tendência, é provável que alguns operadores de maior dimensão se tornem empresas multifacetadas de turismo, adicionando à sua atividade de alojamento, a animação turística e eventualmente até agência de viagens.

E qual o papel que o Alojamento Local (AL) pode ter na estratégia de sustentabilidade?
Começa pela responsabilidade que ganhou. Muitas pessoas não sabem, mas o Alojamento Local deixou de ser uma oferta complementar para se tornar um pilar do Turismo. Já representa mais de 1/3 das dormidas no país e cerca de metade das dormidas em Lisboa e Porto.
Mas, o papel mais importante do AL reside na sua capacidade em ajudar a descentralizar o turismo, permitindo a dormida nas regiões mais remotas e menos tradicionais.

Ao contrário do que o debate mediático faz pensar, 70% do AL está fora de Lisboa e Porto. Alguns destinos que estão a crescer com oferta inovadora têm como base o AL. É o caso da Costa Vicentina, do interior da Madeira e ilhas dos Açores, do surf na Ericeira e Nazaré, do outro Algarve, fora do praia e sol, que inclui o centro histórico de Faro e a região da serra.
Além disto, o AL tem estada superior com médias de quatro noites, mesmo em Lisboa e isto incentiva a explorar mais opções fora do circuito tradicional. Depois, a própria proximidade do contato com os hóspedes permite uma promoção das experiências locais, incluindo o comércio de bairro.

Com esta vocação local que permite mostrar o único, o menos óbvio, o Alojamento Local pode tornar-se naturalmente num dos instrumentos do “surpreenda-me” e mostrar que para lá dos prémios ainda há muito mais Portugal.

*Eduardo Miranda, presidente da ALEP-Associação do Alojamento Local em Portugal.

Deixe aqui o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *