“Este ano o nosso ‘norte’ foi o de reerguer, apaziguar e reconquistar”

Por a 26 de Dezembro de 2019 as 9:30

Falta pouco mais de um mês para encerrar o ano e os balanços começam já a ser feitos. 2019 fez-se de recordes para a região do Porto e Norte, que tem liderado o ranking do crescimento turístico nacional, com uma performance que tem vindo a subir degraus nos últimos anos. Até agosto, o destino ultrapassou os 7,2 milhões de dormidas, um salto de 9,7%, face a 2018. A praça hoteleira continua a engordar, apresentando um total de 1400 empreendimentos turísticos que representam, no seu conjunto, a oferta de mais de 55 mil camas. No Porto, o Alojamento Local (AL) não perde o passo e a cidade tem já uma fatia de 13 mil camas, correspondendo a 8440 unidades de alojamento. Luís Pedro Martins, presidente da entidade regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP), encontrou a casa desarrumada, em janeiro, quando assumiu o cargo. Este foi o ‘’ano zero’’ dedicado a “reerguer, apaziguar e reconquistar confiança e credibilidade”, explica. Onze meses depois, e com bons resultados entre mãos, o responsável passa rapidamente os olhos pelo estado atual do turismo e hotelaria na região e traça os objetivos para 2020’.*

O Porto e Norte é o destino que mais tem crescido a nível nacional. Quais são os produtos da região que têm tido uma melhor performance turística? E que produtos têm ainda um elevado potencial de desenvolvimento?
Considerando o peso da marca Porto no destino, um dos produtos que mais tem crescido é, de facto, o City and Short Break. Contudo, um dos produtos que tradicionalmente gera maior impacto positivo na Região, no que diz respeito ao contributo para a distribuição de fluxos, o combate à sazonalidade e o crescimento em valor, é o Touring Cultural e Paisagístico, assente em visitas relacionadas com o património cultural e natural. Quanto a elevado potencial de crescimento, destacamos o Turismo de Natureza e, sem dúvida alguma, o segmento Enoturismo dentro da gastronomia e vinhos.

Assumiu a presidência da Entidade Regional do TPNP em janeiro. Perto de chegar ao final do ano, que balanço faz?
Mais do que falar sobre a situação em que se encontrava a TPNP o importante é falar sobre o presente e as perspetivas de futuro. O ano de 2019 está a ter excelentes resul-tados. É uma tendência de crescimento sustentado, fruto do excelente trabalho que tem vindo a ser desenvolvido por todos os players, demonstrando que esta é uma região com capacidade real para atrair turistas, que está a ser capaz de lhes dar res-posta e que, portanto, tem ainda perspetivas de crescimento. Diria que uma marca que é hoje inquestionável na nova dinâmica é a aposta na promoção dos subdestinos mais afastados das “portas de entrada” de turistas na Região, nomeadamente o Dou-ro, Trás-os-Montes e Minho. Penso que também tem sido claro para todos que apos-tamos em projetos intermunicipais e que potenciem a internacionalização do destino. Somos claramente anti “capelinhas” até porque defendemos que “Juntos Somos Mais Norte”.

Quais são os maiores constrangimentos ao turismo da região?
Temos o desafio de conciliar a estratégia dos municípios no contexto do desenvolvimento turístico das comunidades intermunicipais, e em conjunto dos respetivos subdestinos. Temos ainda o desafio de procurar conciliar os objetivos dos negócios do turismo e o das políticas públicas deste setor, que nem sempre se encontram alinhadas. Nesta matéria, é essencial, como já veiculado anteriormente, reforçar o trabalho entre as duas organizações de turismo, TPNP e ATP, a operar no território, de modo a não dispersar recursos e a otimizar a relação com os stakeholders públicos e privados a operar na região. Em complemento, atuar na atratividade dos destinos, harmonizar e consolidar a qualidade do produto turístico e reduzir as assimetrias.

Quais serão as principais mudanças com a fusão da Entidade Regional do TPNP e da ATP?
Não se trata de uma fusão, o que estamos é a construir um caminho comum para o Porto e Norte em termos de estratégia de promoção turística, estamos a dialogar, sem pressa, dentro dos timings de ambas as entidades, para que a exemplo do que acontece nas outras regiões do país, não exista uma liderança bicéfala no turismo da região. No entanto, independentemente deste objetivo, existe hoje um relacionamento bastante saudável entre a TPNP e a ATP.

Que vantagens sublinha?
Vantagens estratégicas e operacionais. Desde logo, a concretização de uma estratégia integrada que potencie os esforços dos atores do turismo em oposição a uma série de estratégias potencialmente dispersas e que não beneficiam a ação do setor público e do setor privado do turismo. Só agindo concertadamente entre a gestão e o marketing do destino é possível assegurar o consumo dos diferentes produtos turísticos regionais a partir dos principais pontos de acesso para os mais afastados, localizados nas áreas rurais e urbanas circundantes. Já para não falar das inúmeras vantagens que advém da otimização de recursos financeiros, físicos, materiais e humanos, por via da não sobreposição de competências e ações.

Como vê a oferta de alojamento na região?
Estamos perante uma oferta vasta e diversificada, que nos permite satisfazer diversos segmentos da procura turística. O número de empreendimentos turísticos, mostra um parque hoteleiro qualificado. Se a este cenário juntarmos a oferta de AL, que no Porto e Norte já ultrapassou, as 15200 unidades, estamos perante uma oferta diversificada que cobre quase todos os municípios da Região. No entanto, e porque ainda temos alguns municípios sem qualquer oferta de alojamento, temos de promover esse investimento. Os novos empreendimentos turísticos que têm vindo a surgir na região são todos de qualidade superior e muitos dos já existentes, que necessitavam de alguma atualização, entraram em processo de reconversão para subirem de categoria. A abertura de novos mercados, alavancada pelas novas rotas, está a trazer para a região um perfil de turista muito mais exigente e muito mais focado na qualidade de serviço que lhe é prestado. Muito foi feito, mas há sempre espaço para crescer e melhorar.

Como olha para o crescimento do AL no Porto?
Referindo-nos ao alojamento local na cidade do Porto, estamos perante a oferta de 8.440 unidades de alojamento e mais de 13 mil camas. De facto, se compararmos com as 7.111 camas nos 106 hotéis existentes na cidade, parece-nos um valor excessivo. Contudo, temos de atender ao facto de que o AL chegou ao mercado para atingir segmentos de procura que os hotéis não cobriam, concretamente a oferta em estabelecimentos de hospedagem, como são exemplo os hostels, os apartamentos, ou ainda as moradias. Acresce que, se não fosse o alojamento local, teríamos ainda mais dificuldade em atingir o objetivo da coesão territorial na Região, e permitir que o fluxo turístico se fixe para lá dos centros de maior atração turística das cidades do litoral. Mesmo olhando para a cidade do Porto, se não fosse o AL não teríamos a oferta das mais de quatro mil camas que vieram acrescentar atratividade a outras áreas da cidade, para onde o turismo nunca tinha olhado, para lá da Baixa e do Centro Histórico. Não obstante, estamos conscientes da necessidade de gerir o destino para não deteriorar a qualidade de vida da população local.

Quais são os objetivos para o próximo ano? Qual será a estratégia em cima da mesa e em que medida se vai diferençar da aplicada este ano?
Este ano o nosso “norte” foi o de reerguer, apaziguar, reconquistar confiança e credibilidade e iniciar um percurso de trabalho de enorme transparência, onde uma das prioridades é a organização interna da entidade. Este ano foi o ano zero. Estamos, neste preciso momento, a trabalhar o plano e orçamento para 2020. A nossa prioridade será a de consolidar a nova estrutura organizativa da TPNP em virtude da aprovação da alteração dos nossos estatutos. Desta alteração surgem a criação de três núcleos operacionais, concretamente um de desenvolvimento, dinamização e promoção turística, um outro que se dedicará ao marketing e comunicação do destino e um terceiro à gestão das lojas interativas de turismo e I&D. Com esta nova estrutura operacional, estaremos preparados para trabalhar os programas estratégicos, concretamente o lançamento das bases para a criação de um masterplan regional que permita cruzar a estratégia da região para o turismo, com a dos municípios com maior atração turística e respetivas comunidades intermunicipais dos nossos quatro subdestinos: Porto, Minho, Douro e Trás-os-Montes. Será atualizado o Plano de Marketing Regional, de acordo com a Estratégia Turismo 2027, e feita a respetiva implementação anual de modo articulado com a o Turismo de Portugal e a Agência Regional de Promoção Externa. Continuaremos a trabalhar no sentido de apoiar a atividade dos nossos empresários e a promover o aparecimento de novos projetos de interesse turístico na Região e daremos continuidade aos projetos transfronteiriços de cooperação e promoção, concretamente com a Galiza e Castela e Leão.

Atigo publicado na edição 166

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