“Até mesmo o mais burro gestor quer vender mais caro”

Por a 21 de Novembro de 2019 as 13:41

Os responsáveis dos grupos Pestana, Vila Galé, Porto Bay, SANA e Hoti Hotéis abriram a discussão no congresso organizado pela AHP, que está a decorrer em Viana do Castelo até à próxima  sexta-feira, 22. 

Aumentar os preços, esticar a estada média, melhorar a qualidade do serviço e investir no interior. Estes foram os eixos mais defendidos pelos responsáveis de cinco dos principais grupos hoteleiros portugueses, que debateram o investimento do setor no país, no painel inaugural do 31º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo.

Sobre o atual estado do crescimento turístico, todos os intervenientes concordaram o país entrou  numa fase de abrandamento. Os administradores dos principais grupos hoteleiros nacionais, recusam alarmismos e sublinham a necessidade de adotar novas estratégias e limar indicadores.

“Estamos num ciclo muito positivo, não vejo razões para pessimismos. Mas vejo razões, isso sim, para um apelo à lucidez  e à fidelização. Portugal está num momento em que tem de aproveitar para fidelizar todos os novos clientes que vieram a Portugal e, no fim do dia, fidelizar passa sempre por uma aposta nos recursos humanos”, atestou José Roquette, administrador do grupo Pestana.

Sobre a dificuldade em melhorar a qualidade dos recursos humanos e, consequentemente, do serviço oferecido no país, a maioria dos intervenientes admitiu que os baixos salários são um dos principais problemas. “Precisamos de remunerar melhor os trabalhadores se quisermos continuar a termos gente boa se não a gente boa vai-se embora”, alertou Jorge Rebelo de Almeida, administrador do grupo Vila Galé, que referiu ainda que a dificuldade de contratação que o setor enfrenta ”justificaria a abertura das fronteiras para contratar brasileiros, por exemplo”.

Além de ser imperativo investir na qualidade do serviço, os hoteleiros defenderam, ainda, a necessidade de engordar a estada média em terras lusas naquele que deve ser, defendem, um trabalho conjunto de várias entidades. “Aumentar as estadas médias é importante e é da responsabilidade das autarquias, das acessibilidades. É preciso um novo modelo de atratividade para as cidades encontrarem um novo modelo de estada”, sugere António Trindade, presidente do PortoBay Hotels.

Manuel Proença, chairman do Hoti Hotéis, acredita que a praça hoteleira tem se  “diferenciar pela melhoria da qualidade e pelo preço médio, e já não tanto pelo número de visitantes”. Carlos Silva Neves concorda que o foco tem de estar, também,  no incremento dos preços. “Temos de parar de dizer lá fora que somos um país barato e seguro, caso contrário, dificilmente vamos conseguir meter um preço médio mais elevado ao nosso serviço”, aponta o responsável do SANA Hotels.

O presidente da Vila Galé afina pelo mesmo diapasão e afirma que o aumento de preços está intrinsecamente ligado a outros fatores. “Até mesmo o mais burro gestor desta terra quer vender mais caro.  O preço tem de ser aumentado com o reforço de qualidade e com aposta na divulgação”, explica.

Investir no interior

Depois de Lisboa correr as bocas do mundo e de o Porto começar a seguir os mesmos passos, os hoteleiros defendem que o interior deve ser o próximo passo. “O desenvolvimento do interior é um dos meus desígnios prioritários. O interior tem condições extraordinárias. Se queremos atrair gente para o interior não vale a pena ter só uma ou duas medidas mas é preciso criar um programa”, sugere Jorge Rebelo de Almeida.

As acessibilidades são, portanto, um dos maiores entraves a este desenvolvimento, defendem. “Quando falamos do destino Portugal, o pais é a soma de vários destinos e que tem várias particularidades. O desenvolvimento das diferentes regiões (Norte, Sul e ilhas) passa por encontrar soluções nas acessibilidades”, relembra António Trindade.

“A nossa oferta turística é limitada, não é inesgotável. Se o turismo for excessivo nas cidades, começa a gerar conflito nas populações e começa também a ser desinteressante para quem nos visita. Temos ainda muito espaço para distribuir melhor estes turistas  pelo interior”, afirma Jorge Rebelo de Almeida que, alerta, “é importante levar pessoas para o interior, claro que sim, mas primeiro temos de não deixar sair de lá as pessoas que lá vivem”

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