“Hotel em Santa Apolónia é um ‘plug and play’. Captar clientes será fácil”

Por a 16 de Abril de 2019 as 9:00

A entrada da Sonae Capital em Lisboa era um objetivo no horizonte há vários anos, adiado, até agora, pelos preços praticados na cidade. Pedro Capitão, administrador da área de hotelaria da empresa, revela que o novo hotel a nascer em Santa Apolónia é o primeiro passo de um futuro de ansiado crescimento na capital portuguesa. Ainda este ano, o responsável admite novidades para a invicta. A expansão fora das duas grandes cidades não está nos planos do grupo. Apesar do regresso ao Algarve, a sazonalidade da região não seduz a empresa a avançar para outros projetos.

A Sonae Capital terminou 2018 com uma redução dos prejuízos face ao ano anterior. Qual o balanço para o segmento de hotelaria?
Em setembro estávamos já a crescer a 4% e tínhamos um EBITDA positivo. Na tendência de final do ano, estamos ao mesmo nível do período homólogo no que diz respeito ao crescimento da receita e melhorámos face a 2017.

Que fatores impulsionaram esse crescimento?
Crescermos globalmente em receitas, principalmente na cidade do Porto e também em Troia. Tivemos um crescimento assinalável nas nossas unidades de lazer como no Porto Palácio Hotel Congress & Spa  no The House Ribeira Hotel.

Quais os principais indicadores positivos nas unidades no Porto?
No Porto crescemos em operação e em receita média. Os resultados do Porto Palácio Hotel Congress & Spa estão muito acima da média da cidade. O The Artist Porto Hotel & Bistro e o The House Ribeira Hotel mantiveram-se em linha com o crescimento da cidade. Nas unidades localizadas na baixa, estivemos com uma ocupação média acima dos 75% e no Porto Palácio Hotel não chegámos aos 70%. Registámos uma grande progressão em termos de RevPar.

O Porto foi o destino nacional com um maior crescimento turístico no ano passado. Como encara este dinamismo na cidade?
O percurso tem sido bastante positivo e estamos muito entusiasmados. Na cidade do Porto, já contamos com 30 anos no mercado e constatamos que os últimos anos são, sem dúvida, de viragem e de transformação. O destino ainda tem capacidade de captar mais procura, de acordo com os indicadores atuais.

Quais são os objetivos para a cidade?
Além de consolidar a operação das unidades que temos, continuamos com interesse em olhar para oportunidades de crescimento. Em 2019, ainda conseguiremos avançar com novidades e, pontualmente, olhar para ativos que possam acrescentar algo de importante no portefólio.

O futuro na capital

A estreia na capital vai concretizar-se através do projeto em Santa Apolónia…
Sim, são 125 quartos e apontamos, para já, para um quatro estrelas. Teremos cerca de oito suites e 10 quartos comuns. A procura por famílias não deixa de ser um segmento relevante e, desta forma, procuramos dotar o edifício com capacidade para poder alojar cinco famílias.  Estamos a falar numa concessão a 35 anos, com dois anos para a abertura do hotel, incluindo licenciamento e reabilitação. É um projeto que sempre nos interessou muito, não só pela entrada na cidade, que para nós era fundamental, mas por este ativo em particular estar alinhado com o que tem sido o nosso crescimento no Porto: localizações em centros históricos, segmento city break e lazer e com particularidade de podermos ocupar edifícios com características do património arquitetónico e da história da cidade.

Quando é que iniciarão os trabalhos no edifício?
No último trimestre deste ano, caso os timings com os licenciamentos decorram normalmente. Teremos depois um período de 12 a 15 meses de obra.

Qual será o conceito do hotel?
Estamos ainda a trabalhar nele. Certamente estará ligado aquele que é o património histórico do edifício e da sua história. Desde o momento em que foi um convento até se transformar numa estação central ferroviária de Lisboa.

Quais são os principais desafios que se levantam com a abertura desta unidade?
Estamos a dois anos da abertura e estamos agora focamos na conceção da obra. Não antecipamos grandes desafios atualmente, em cidades como Lisboa e Porto. Este tipo de hotel, para o segmento a que se destina, é quase um ‘plug and play’. Captar clientes será fácil. Além do segmento de lazer, admitimos captar algum mercado corporate em virtude da localização, e estamos a trabalhar numa oferta específica para isso.

A que tipo de oferta se refere?
Queremos ter um ‘Lobby Market’ que permita agregar todas as atividades do quotidiano: refeições, reuniões e sala de estar. Queremos que seja uma zona viva do hotel em open space, com uma área de 300 metros quadrados. Não temos espaço para salas de reuniões porque a maioria do espaço estará ocupada por quartos. Esse era um dos requisitos, que houvesse um mínimo de 120 quartos e, portanto, não nos sobra muito espaço. Vamos ter apenas uma sala de fitness, além disto.

Qual será a aposta na área de F&B?
O F&B será um serviço complementar ao hotel, não é o nosso enfoque primordial. Este tipo de cliente quer experienciar a cidade e não ficar retido na unidade. Teremos todas as refeições disponíveis, mas será um conceito de refeição ligeira. A zona da restauração será integrada neste ‘Lobby Market’ com cozinha aberta. Com as limitações de espaço que tínhamos, fomos obrigados a ter alguma criatividade para integrar tudo e não podíamos desenhar um espaço exclusivamente destinado a refeições.

A entrada da Sonae Capital em Lisboa acontece numa altura de expressivo crescimento na praça hoteleira da cidade. Como encara estes números?
Poderemos assistir a um ritmo mais acelerado nos últimos anos que é normal pelo aumento da procura. Com o aumento do número de passageiros é fundamental a questão do aeroporto de Lisboa. Independentemente da solução, o importante é resolvermos o problema de forma definitiva e rápida. Em Santa Apolónia, estamos a olhar para um ciclo longo, temos a concessão a 35 anos. Desta forma, é pouco relevante aquilo que vai acontecer em Lisboa nos próximos dois anos

Porquê só agora  o passo para a capital?
Só há cerca de quatro anos é que apostamos em crescer e temos estado ativamente à procura de oportunidades em Lisboa. Nas localizações que nos interessam, que são a frente ribeirinha e o centro histórico, os preços não permitem que haja muitas oportunidades dentro da perspetiva que procuramos. Chegamos a estudar diversas alternativas que, por diferentes razões, não se concretizaram. Procuramos um preço certo para entrar que nos deixasse confortáveis.

Quais os objetivos de crescimento em Lisboa?
Temos ambições equivalentes entre Lisboa e Porto. Para já, estamos focados em executar este projeto dentro do prazo e vamos, simultaneamente, avaliar outras oportunidades. Estamos atentos e temos projetos em carteira. Se surgir mais alguma oportunidade vamos aproveitar.

Há alguma meta definida num horizonte a dez anos?
Não temos uma meta de unidades mas gostaríamos de implementar a nossa exposição em Lisboa.

Há a possibilidade de entrarem em Lisboa antes da inauguração do projeto de Santa Apolónia?
Com o modelo que temos, que implica arrendamento e reabilitação, muito dificilmente conseguiremos antecipar a entrada em Lisboa. Gostaria sim, depois da inauguração desta unidade de ter já alguns projetos alinhados em carteira.

Algarve

Em 2015 alienaram o Aqualuz – Turismo e Lazer, que explorava o Aqualuz Suite Hotel Lagos, à sociedade do grupo, Efanor. Na altura, referiu que não tinham interesse em explorar um hotel no Algarve, devido à elevada sazonalidade da região. O que mudou?
Não sendo prioritária, esta é uma forma de mantermos a unidade dentro da nossa esfera. Durante este período, o hotel, à semelhança  de Lagos e do Algarve nos últimos anos, registou um crescimento e está hoje num patamar sustentável. Apesar de voltar para o nosso portefólio, não temos intenções de olhar para mais oportunidades no Algarve.

Porquê?
Aqui reafirmo o que disse em 2015. É um mercado sazonal, tem outras dinâmicas de procura em contraste com o Porto e Lisboa. Não antevemos oportunidades de crescimento significativo se olharmos numa lógica de médio e longo prazo.

Sem perspetivas de crescimento, porquê apostar novamente nesta unidade?
O Aqualuz Suite Hotel Lagos não deixa de ser complementar ao nosso portefólio atual, sobretudo se pensarmos no segmento de Lazer, Sol e Praia e Golfe. É complementar a Tróia e faz sentido mantermos. E é algo que se proporciona em contexto da própria natureza dos ativos mas não queremos dar muito destaque.

Há alguma estratégia definida para enfrentar os constrangimentos da região, nomeadamente a quebra do mercado britânico?
Procuramos a diversificação de mercados e o mercado nacional. Contudo, estamos sempre, de alguma forma, condicionados à localização e às ligações aéreas. Isso dificulta a captação de novas nacionalidades.

Como correu a atividade em Tróia no ano passado?
Crescemos em 2018. Apesar de ser um destino sazonal, temos feito alguma aposta em elementos que a consigam contrariar, nomeadamente com o centro de estágio para futebol, a aposta no segmento MICE e golfe, para tentarmos aumentar o período de operação.

Há mais algum destino em Portugal que vos seduza para uma eventual expansão?
Não. No nosso entendimento do que são as dinâmicas de crescimento, de ocupação e de receita média não vemos, neste momento, oportunidades fora do Porto e de Lisboa.

Há algum plano para a atualização da vossa oferta?
Terminámos, em 2018, a remodelação das áreas públicas no Porto Palácio Hotel Congress & Spa. No final deste ano, vamos renovar o vip lounge da mesma unidade. Queremos melhorar o espaço de refeições e tirar partido da vista.

Quais são os maiores constrangimentos do setor, atualmente?
Além dos acessos, a mão de obra é outro dos desafios. A capacidade de captar fora dos centros urbanos é difícil e sentimos isso em Troia. É importante continuar a apostar na promoção do destino. A concorrência existe, as dinâmicas vão-se alterando, mas vender Portugal tem de ser sempre uma prioridade.

Entrevista publicada na edição de março da revista Publituris Hotelaria. 

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