Oásis Atlântico entra em Marrocos em maio e admite planos para Portugal

Por a 22 de Março de 2019 as 12:45

Depois de Cabo Verde e Brasil, o grupo Oásis Atlântico vai dar o passo para o seu terceiro destino: Marrocos. A cidade de Saïdia foi a escolhida para selar o início da relação entre o grupo hoteleiro português e o país do Norte de África. Marraquexe está nos planos futuros e será o próximo passo em terras marroquinas. Depois de anos a ser questionado sobre a possível entrada em Portugal, o grupo revela que tem novidades na manga. Alexandre Abade, CEO do Oásis Atlântico, adianta que a aposta em solo nacional deverá ser feita fora das grandes cidades de Lisboa e Porto.

Que balanço faz de 2018 para o Grupo Oásis Atlântico?
Foi um bom ano nós. Foi mais um ano de consolidação, com um crescimento ligeiro. Em 2017, operámos com um pequeno crescimento no nosso portefólio, uma vez que aumentámos 72 quartos no hotel Belorizonte, em Cabo Verde. 2018 foi um ano já com a operação toda normalizada e com o mesmo número de quartos em exploração comparativamente com 2017.

De que forma os constrangimentos sociais e políticos condicionaram a vossa performance no Brasil?
A operação no Brasil correu melhor em 2018 do que no ano anterior. Notámos alguns sinais de recuperação, apesar do contexto das eleições. A crise económica e política acabou por afetar a confiança do mercado interno e isso refletiu-se na procura dos hotéis. Mas em 2018 já tivemos uma recuperação significativa e os principais indicadores para 2019 são muito encorajadores. Penso que o Brasil está num ponto de ‘turnaround’ e a nossa expetativa é a de conseguirmos melhores resultados este ano. Não tencionamos abrir mais unidades. Nos últimos anos, quisemos estabilizar a operação, garantir que era positiva e preparar as unidades para um ciclo económico de crescimento.

Como correu a operação em Cabo Verde?
No global foi um ano dentro das expetativas com um crescimento ligeiro de acordo com o que nós esperávamos, tendo em conta que não houve aumento da oferta hoteleira. Tivemos uma boa procura ao longo do ano, sobretudo nos resorts na ilha do Sal e registámos algum crescimento em São Vicente. Nota-se que Cabo Verde está a começar a crescer além da Ilha do Sal.

Em que ponto é que se encontra o anunciado Tarrafal Eco Resort, na ilha de Santiago, e de que forma é que esta unidade consolida a vossa presença no país?
A nossa intenção é aumentar a presença do grupo em Cabo Verde e acompanhar o crescimento que é expectável no destino. Manter uma presença forte naquelas que são as ilhas mais procuradas, as ilhas de sol e mar, nomeadamente na ilha do Sal. À ilha da Boa Vista lá chegaremos, a devido tempo. Queremos ir alargando a nossa cobertura geográfica e apostar em alguns locais que julgamos que têm forte potencial e que ainda não estão suficientemente desenvolvidos, como é o caso do Tarrafal. Em termos de geografia há características como a praia que lhe conferem um potencial grande. O projeto do grupo é para desenvolver ao longo dos próximos anos e é expectável que o hotel esteja a operar entre 2021 e 2022.

O investimento divulgado foi de oito milhões de euros para 171 unidades de alojamento.
O valor provavelmente ficará mais próximo dos 10 milhões de euros. Nesta primeira fase, faremos os 171 quartos com a possibilidade de ir expandindo à medida em que a procura for aumentando.

Relativamente a Boa Vista, disse que é um objetivo “a devido tempo”. Continuam com intenções de avançar com duas unidades?
Sim. Um dos projetos já está aprovado, o hotel que será construído na Praia de Chaves. Sobre a unidade de Sal Rei, estamos a fazer umas pequenas alterações. Queremos fazer o desenvolvimento do grupo passo a passo de forma consolidada e sustentada.

Há alguma projeção de datas?
Ainda é cedo para definirmos o timing. Provavelmente vamos avançar para a Boa Vista depois da conclusão da unidade no Tarrafal. Vamos desenvolvendo os projetos à medida que vamos percebendo que há uma procura consolidada nestes mercados. A Boa Vista lá chegará e está no nosso radar de médio e longo prazo.

Quais é que são os principais mercados nas vossas unidades em Cabo Verde?
Em Cabo Verde temos duas épocas muito distintas, a de inverno e a de verão. Na época de inverno temos sobretudo mercados do Centro e Norte da Europa, como o Reino Unido. No verão há uma presença forte de Portugal e Espanha.

Entrada em Marrocos

Este ano será marcado pela entrada no vosso terceiro destino: a cidade de Saïdia, em Marrocos. Que fatores traçaram a escolha deste país?
O grupo andava à procura de um novo destino que, de alguma forma, permitisse equilibrar os resultados. Procurávamos um destino alternativo que pudesse ajudar o grupo a crescer e a ter um certo nível de diversificação. Marrocos tem a vantagem de ter um turismo em crescimento, atrai mercados muitos diversos, tem um mercado interno também de dimensão elevada e é complementar a Cabo Verde.
Saïdia foi um desafio muito próprio que nos foi colocado por um parceiro nosso. Este é um dos mais importantes destinos a partir de Portugal e enquadra-se perfeitamente dentro daquilo que são as nossas operações. Para nós fazia sentido encontrar esta alternativa que compensasse a nossa dependência excessiva de Cabo Verde. Marrocos tem esse potencial além do fator proximidade.

Qual é a data para a inauguração das duas unidades?
Ambas vão abrir no final do mês de maio. Adquirimos um hotel de 614 quartos e estamos a transformá-lo em duas unidades de 307 quartos.

Qual foi o valor do investimento?
O valor de balanço anda entre os 50 e os 60 milhões de euros. A requalificação andará entre os seis e os oito milhões de euros.

Quais são os desafios deste destino?
É um país com uma cultura e uma língua completamente diferentes da nossa. Nesse aspeto será também desafiante para nós e vai ajudar o grupo a crescer.

Têm como objetivo atrair uma fatia do mercado português?
Gostaríamos que a nossa abordagem em Marrocos fosse mais vasta. Saïdia é um destino de praia, com condições excecionais. Foi planeado e pensado para ter sucesso. Na minha opinião, falta-lhe uma dinâmica comercial e de promoção forte para se afirmar nos mercados internacionais. Relativamente ao mercado português, já há uma presença forte em Saïdia com a entrada de mais operadores turísticos, com mais voos e com operações bem sucedidas. A nossa presença vai diferenciar-se da dos concorrentes porque somos um grupo português e, nesse aspeto, temos um conhecimento muito mais próximo daquilo que é o gosto dos clientes. Vamos ter uma equipa que fala português e que está disponível para adaptar o nosso produto ao mercado. Em termos de foco, o mercado português será prioritário para nós neste novo investimento.

Marrocos tem sido, cada vez mais, um alvo na mira de vários grupos hoteleiros nacionais que apostam em cidades como Marraquexe e Casablanca…
Marraquexe é maior e por isso mesmo é um destino onde o mercado português tem um peso menos significativo. É um destino onde gostaríamos de vir a estar, tem procura mundial e o nosso posicionamento e a forma como nos vamos distinguir terá de ser vista noutra perspetiva. Há espaço para todos e acho ótimo os grupos portugueses estarem a investir em Marrocos. Podemos aprender um pouco com a experiência uns dos outros.

Marraquexe será o próximo passo?
Queremos entrar em Marrocos para ter alguma massa crítica na operação e na estrutura local e, tendo em conta a sazonalidade de Saïdia, gostaríamos de ter um outro destino dentro de Marrocos. Marraquexe é o que nos parece mais apropriado para o perfil do grupo e gostaríamos de encontrar uma opção nessa cidade. Estamos atentos e a ver de oportunidades. Posteriormente, de acordo com a consolidação dos primeiros investimentos, veremos outras opções.

Planos para Portugal

Há mais algum mercado nos planos futuros?
Gostávamos muito de ter uma unidade em Portugal. Fazia sentido do ponto de vista de imagem e de algum reforço da confiança de investidores. Apesar de sermos um grupo português, não temos nenhuma atividade em Portugal e, por isso, faria todo o sentido termos aqui uma unidade. Mas temos de criar algum equilíbrio, o preço dos investimentos em Lisboa e no Porto têm ‘paybacks’ longos e do ponto de vista da rentabilidade do investimento é baixo.

A expansão em Portugal está nos objetivos do grupo?
Sim, está. Ao longo dos últimos anos temos visto várias oportunidades, mas nenhuma delas se concretizou. Continuamos atentos a oportunidades e há algumas que estamos a ver neste momento. Se forem projetos com um investimento significativo e payback longo são mais difíceis de concretizar. Mas há outras opções e outros modelos que podem vir a ser adotados.

A que modelos se refere?
Não precisamos de ter sempre propriedade de ativos.Temos várias possibilidades em aberto, esperamos que alguma se concretize, para já não podemos adiantar mais pormenores.

Lisboa e Porto estão na lista de preferências?
Lisboa e Porto é o que toda a gente quer neste momento e é aquilo que está mais aquecido. Os preços dos imóveis estão excessivamente altos para o retorno do investimento. Temos de ter uma mente aberta e explorar outras oportunidades a nível do país.

O investimento em Portugal será feito preferencialmente fora destes polos…
Se o normal seria estarmos focados em Lisboa, pelo menos há dois ou três anos, nesta fase estamos com uma visão um pouco mais abrangente. Para já é prematuro avançar com algum destino, mas poderemos ter novidades em breve.

Porque é que até agora não foi dado este passo em solo nacional?
Sempre vimos o grupo direcionado para uma maior abrangência mundial. Começámos em Cabo Verde, que era um destino que não existia, e contribuímos para esse crescimento. Fomos assistindo à entrada de concorrência a nível internacional e não quisemos perder o foco. Depois tivemos os anos da crise que foram complicados para as cadeias hoteleiras em Portugal e isso também transformou o panorama da oferta. Há um momento em que se verifica um crescimento muito rápido em Lisboa e no Porto e quem já estava lá instalado beneficiou bastante. Quem não estava, como foi o nosso caso, sentiu dificuldades em entrar porque era necessário um capital maior para investir e acabou por não se concretizar.

Numa altura em que admite a possibilidade de entrar em solo nacional, como vê o atual panorama hoteleiro e as nuvens à volta dele?
Há vários desafios atualmente e é isso que também introduz alguns fatores de risco. Estamos a falar de um mercado muito aquecido em termos de procura imobiliária. Tivemos, nos últimos anos, um desenvolvimento muito grande a nível hoteleiro e de alojamento turístico de curta duração. Por norma, nos ciclos económicos, há os positivos e os menos bons. Portanto, há sempre um ciclo menos bom no horizonte. Com o crescimento da oferta hoteleira e com outras restrições, como o desembarque de passageiros no aeroporto de Lisboa ou o ‘Brexit’ penso que a abordagem tem de ser cautelosa quando se fala numa potencial entrada em Lisboa ou no Porto.

Quais são os principais desafios para o grupo?
O principal desafio neste momento é a abertura em Marrocos. É um mercado novo para o grupo, com características próprias e diferentes daquelas a que nos estamos habituados. É o nosso desafio 2019.

*Artigo publicado na edição de fevereiro da revista Publituris Hotelaria.

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