Erva: Reinventar a cozinha tradicional num conceito contemporâneo

Por a 7 de Janeiro de 2019 as 13:32

É mesmo ao lado da entrada principal do Corinthia Lisbon Hotel que se posiciona o Erva, o novo restaurante da unidade hoteleira cinco estrelas. A entrada é exterior ao hotel e assim que as portas de vidro se abrem somos abraçados por um ambiente sensorial. A decoração é acolhedora e leve e as paredes vestem-se do verde das plantas que lá moram. Há um bar onde é possível provar uma vasta opção de cocktails e várias mesas de diferentes formas espalhadas entre o jardim vertical. Os muitos elementos, que se apresentam debaixo de uma luz a meio-tom porque é hora de jantar, desenham uma sala preenchida e rica mas ao mesmo tempo simples e arejada.

A cozinha, da responsabilidade do chef Carlos Gonçalves, é aberta e está enquadrada com o espaço numa sintonia uniforme e próxima, oferecendo a sensação de que estamos em casa. Enquanto sou embalada pelas notas suaves de jazz provo o cocktail do dia que nasce de uma junção de gin, licor e clara de ovo. O equilíbrio perfeito entre os sabores oferece um final suave e doce na boca. O estômago é reconfortado pela selecção de manteigas, azeite extra virgem e vinagre que acompanham fatias generosas de diferentes pães. A gamba marinada, abacate e pele de frango crocante despoletam uma sensação rápida de frescura com uma perfeita conjugação de sabores que se cruzam sem sobreposição. Podia apresentar o Bacalhau fresco, maionese de alho, pickle de cebola e molho unagui como uma entrada, conforme surge na ementa, mas este revelou-se o protagonista da refeição. A suavidade do lombo perfeitamente envolvida numa crosta crocante onde se deita a cebola caramelizada em pickle fazem valer a viagem até ao Erva. 4

A pá de cordeiro de leite assada com batata aligot e salada com legumes biológicos é o prato principal e é uma das mais conceituadas propostas na carta. Feito em forno de lenha, a pá de cordeiro apresenta uma carne terna e aroma intenso e perfumado. A batata aligot – puré de batata com queijo – tem um palato simples e não surpreendente. Talvez por isso acompanhe o cordeiro, para o fazer brilhar. A salada é feita de alface e tomates biológicos que nos seduzem pelo sabor genuíno.

O brulée é uma das opções de sobremesa delicadamente construída sobre diferentes sabores que surpreendem a cada garfada. O café é acompanhado por um pequeno pastel de nata morno que nos reconforta anunciando o fim da experiência.

O Erva reinventou a cozinha tradicional portuguesa imprimindo-lhe uma roupagem contemporânea e irreverente. Há uma simbiose entre classe e conforto no ambiente e nos pratos que nos traduzem familiaridade com um sopro de surpresa. A loiça é caseira e tipicamente portuguesa conjugada na perfeição com o propósito. A experiência é honesta e corrompe o conceito habitual de um restaurante cinco estrelas. A versatilidade do conceito tanto encaixa num jantar romântico como numa refeição de negócios ou num copo de amigos ao fim do dia. O staff é competente com um atendimento cuidado e atencioso sem ser intrusivo. Por estes motivos e outros que ficam por deslindar, vale a pena a viagem até ao Erva.

*Artigo publicado originalmente na edição de Dezembro da revista Publituris Hotelaria. 

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