Como qualificar o sector do turismo

Por a 25 de Dezembro de 2018 as 10:00

Portugal está efetivamente na moda. Não é de hoje, é verdade. Mas hoje, quando se pensa numa escapadinha europeia, pensa-se em Portugal. Temos aeroportos com múltiplas rotas e várias agências low-cost a operar no nosso país, temos um clima ameno, história e paisagens de encantar, boa comida, um povo solícito e tudo a um custo relativamente baixo quando equiparado com outros países europeus. Estes fatores convergidos levaram a que nos últimos anos os números associados ao turismo disparassem em Portugal: o número de unidades hoteleiras cresceu, a taxa média de ocupação duplicou e o tempo médio de estadia registou também um ligeiro aumento. Este crescimento rápido vem, inequivocamente, gerar um sério problema no sector que se prende com a escassez de mão de obra qualificada, impactando assim a qualidade da oferta turística que temos para oferecer, bem como condicionando os investimentos previstos.

Torna-se, assim, urgente e vital pensarmos em estratégias para contrariar esta tendência:

  • Apostar na formação interna contínua dos quadros: o perfil do consumidor mudou, está cada vez mais exigente e centrado na experiência. Dessa forma, compete à equipa de formação interna perceber as potencialidades e as fragilidades de cada profissional que tem e trabalhá-las por forma a que estes se apresentem como uma mais valia nos novos padrões de qualidade de serviço;
  • Investir na atração de novos candidatos para o sector: este é um ponto crucial para dar “vida” ao sector. Investir nas parcerias com Escolas de Turismo, investir em Hotéis Escola e conseguir capitalizar profissionais sem experiência, mas com potencial e capacidade de aprendizagem poderá seguramente representar uma peça chave para o sucesso do sector. O investimento na formação será maior, mas o retorno a longo prazo e o compromisso estabelecido entre o colaborador/empregador poderá ser naturalmente maior;
  • Criar equipas polivalentes: Apesar de ser um sector de grande especialização é importante ter em cada equipa profissionais multidisciplinares e capazes de exercer diferentes ofícios dentro da mesma “casa”; dessa forma, e perante um sector altamente sazonal, será mais fácil mobilizar recursos internamente de forma a não os perder, capitalizando assim o investimento feito em formação em prol do Grupo.
  • Dignificar o sector: Não raras vezes associamos o turismo a uma profissão transitória e não como um “emprego”. Para esta imagem contribui a volatilidade contratual, os horários igualmente folgas rotativas e nem sempre atribuídas (fruto do excesso de trabalho e ausência de mão de obra) e, não raras vezes, a existência de chefias pouco sensíveis que se apresentam como capatazes ao invés de serem facilitadores ou motores de desenvolvimento. Esta é uma visão que se torna urgente mudar, na certeza de que são estes os fatores que contribuem para um maior turnover do sector.
  • Criar planos de carreira associados ao sector: Torna-se importante dar a este sector uma visão de longo prazo a quem nele integra. Criar planos de carreira estruturados, com metas atingíveis, avaliações periódicas com prémios de desempenho associados.

Na abertura do Fórum de Líderes Europeus do WTTC, o Ministro da Economia – Manuel Caldeira Cabral – referiu que “a Inovação é chave para este sector. Não há nada tradicional no turismo” e é exatamente neste ponto que nos devemos debruçar também quando falamos de atração e gestão de talento em hotelaria. Deixar a filosofia obsoleta e centrarmo-nos na profissionalização de um sector cada vez mais exigente e impactante na economia nacional.

Joana Bacelar, Manager da Michael Page Porto

*Artigo publicado originalmente na revista Publituris Hotelaria de Dezembro.

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