Mário Candeias | 2017 – Ressaca no Turismo ou a festa continua?

Por a 16 de Fevereiro de 2017 as 12:30

O ano de 2016 foi, a todos os títulos, notável para o sector do Turismo.

Recordes variados nos principais indicadores (receitas, chegadas, dormidas, passageiros, green fees, preços médios…), respirou-se vigor e pujança entre os variados players, os turistas continuaram a descobrir o País e a ser embaixadores do mesmo, os portugueses renderam-se ao fenómeno turístico, os investidores redireccionaram capital para o mesmo, os recursos humanos exógenos começaram a vê-lo como um sector de futuro e com potencial de carreira.

As presenças constantes nos media internacionais, as boas posições em rankings de viagens, os prémios internacionais recebidos, tudo contribuiu para um clima de crescimento a dois dígitos e a fazer do Turismo, pela primeira vez na história do país, o principal motor do seu crescimento económico.

Note-se que, num sector que é de bastante capital intensivo, tudo isto foi conseguido num cenário de definhamento bancário, quebra de crédito e travagem brusca no investimento público.

A SET e o TdP assumem uma visibilidade proporcional à relevância do sector e deveriam aproveitar essa visibilidade não somente para enaltecer os feitos, mas para evidenciar a metade do copo que ainda está vazia.

Em termos tácticos, coisas boas estão a acontecer. A procura cresce ao longo de todo o ano, há uma forte contratação de capacidade aérea, foram lançados programas como o Revive (concessão de património do Estado para utilização turística-hoteleira), o Valorizar (investimento de €10 milhões no interior do país) ou o programa para reforçar a animação no Algarve.

Mas a metade vazia do copo é a que incomoda, até porque parece que não faz parte da doutrina de gestão dos players públicos.

Ouço a SET falar em apostar no turismo equestre ou no turismo de saúde. Não ouço falar em apostar no turismo upscale ou de luxo. Pensa-se em nichos de baixo valor acrescentado, que não têm capacidade para “puxar para cima” a performance de todo o mercado mainstream.

Vejo a oferta hoteleira a aumentar em Lisboa e Porto, mas com um pipeline que pouco acrescenta à oferta já existente e que não reforça o posicionamento desses destinos.

Vejo essas cidades a colocarem oferta midscale em localizações premium, o que inviabilizará futura oferta premium, logo o potencial de geração de valor nesses locais será eternamente abaixo do potencial, com impactos nefastos (e invisíveis para a maioria das pessoas) na economia local e do País.

Vejo a performance comparada de Lisboa sempre inferior à das suas congéneres europeias e até ibéricas, que estão a crescer a uma velocidade maior.

Vejo o posicionamento nos rankings de performance hoteleira sempre abaixo da média.

Vejo alguns líderes hoteleiros a falar em posições de vendas fortíssimas para todo o 2017, que dizem obrigarão a paragens de vendas por falta de disponibilidade, em vez de se aproveitar exactamente esse raro outlook para se poder subir fortemente os preços, com isso aumentar ainda mais a qualidade e sofisticação dos serviços e aumentar o multiplicador económico das suas empresas na economia, permitindo-lhes passar a concorrer em níveis superiores de competitividade.

Há ainda muito por fazer. The show must go on. O ano 2017 vai ser ainda mais forte, o que indica que a festa vai mesmo continuar. Que não seja em ambiente de ressaca, para que o ciclo possa continuar expansionista e paraque consigamos extrair o máximo valor do mesmo.

Deixe aqui o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *